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Queda contínua do investimento é má notícia para BC

Em terceira queda trimestral seguida, taxa de investimento no Brasil foi a 17,7% do PIB, menor nível para período de janeiro a março desde 2009

Banco Central: problema maior na alta dos preços está na oferta, que não cresce como precisaria, e não na demanda (REUTERS/Ueslei Marcelino)
DR

Da Redação

Publicado em 2 de junho de 2014 às 12h53.

São Paulo - A terceira queda trimestral seguida da taxa de investimento no Brasil, a 17,7 por cento do PIB e no menor nível para um período de janeiro a março desde 2009, é uma má notícia para o Banco Central .

Ela significa que a autoridade monetária terá que se conformar por mais tempo com a dura realidade da inflação: o problema maior na alta dos preços está na oferta, que não cresce como precisaria, e não na demanda.

Outra medida importante de investimento, a Formação Bruta de Capital Fixo, caiu 2,1 por cento no primeiro trimestre, seja na comparação com os três meses anteriores ou com igual etapa do ano passado, mostraram os números divulgados na sexta-feira pelo IBGE sobre o desempenho da economia brasileira.

Do lado da demanda, o BC fez sucessivas elevações do juro básico desde abril do ano passado para conter a inflação, tirando a Selic da mínima histórica de 7,25 para 11 por cento ao ano. Neste mês, optou por interromper o ciclo de aperto monetário.

Entre autoridades do BC e agentes econômicos, há certo consenso de que continuar a elevar a Selic agora teria um efeito mais danoso ao crescimento econômico do que benéfico ao controle da inflação.

Em outras palavras, o BC já fez o que lhe cabia em política monetária no atual cenário e o problema está na política fiscal, que não tem ajudado, e em choques de preços de algumas classes de produtos, como alimentos.

Do lado da oferta, o governo da presidente Dilma Rousseff tem lançado mão sem sucesso de um arsenal para tentar elevar o investimento, passando por desoneração da folha de pagamento a mais de 50 setores e uma série de outros incentivos tributários, além da manutenção do juro de referência para empréstimos do BNDES em 5 por cento ao ano.

Aposta também num ambicioso plano de concessões de logística, bem-sucedido até aqui em rodovias e aeroportos, mas ainda no papel no que tange a ferrovias e portos, seja por ineficiências do goveno ou por incertezas que permeiam ano eleitoral no Brasil ou em qualquer país.

De todo modo, mesmo os investimentos de algumas dezenas de bilhões de reais já contratados nos transportes só serão sentidos na cadeia produtiva no longo prazo, por serem contratos com a iniciativa privada de prazo que em alguns casos superam os 30 anos e cujo cronograma de desembolsos é extenso.

Alento no curto prazo

Se os dados de investimentos são negativos olhando para a inflação à frente, do ponto de vista mais imediato a força da agropecuária pode ser um alento aos preços. Entre os setores de atividade, a agropecuária foi, mais uma vez, destaque positivo no primeiro trimestre, com expansão de 3,6 por cento sobre outubro a dezembro.

A estimativa mais recente do Ministério da Agricultura é de um aumento de cerca de 5 por cento na safra 2014/15 de grãos e oleaginosas no Brasil, para perto de 200 milhões de toneladas, renovando o recorde esperado para a temporada atual, que está terminando.

Se isso se confirmar, deverá ajudar a arrefecer nos próximos meses a alta dos alimentos, que vinham sendo os vilões da inflação. A equipe de Dilma conta com isso para entregar um IPCA em 2014 inferior a 6,5 por cento, longe da meta do governo de 4,5 por cento, mas ainda dentro da margem de tolerância dela de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Contradições

Mas se a queda dos investimentos é ruim para o controle da inflação, o recuo do consumo das famílias, de 0,1 por cento na comparação trimestral, poderia ser uma boa notícia para o BC.

O consumo do governo, no entanto, continua forte, com crescimento de 0,7 por cento, embora seja natural em ano eleitoral uma concentração maior de gastos no primeiro semestre devido às restrições da legislação para o segundo semestre.

A equação, porém, é mais complexa. Ao comentar o PIB do primeiro trimestre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a defender a recuperação do consumo para impulsionar a economia, deixando o investimento em segundo plano como motor do crescimento. Segundo ele, "já há estímulo suficiente para o investimento brasileiro".

Assim, enquanto o BC tenta frear o consumo com um juro maior, Mantega defende sua recuperação. O ministro da Fazenda volta a acenar para um modelo de crescimento no Brasil tido como esgotado por muitos especialistas.

Nesse arcabouço macroeconômico contraditório, não é por acaso que o mercado financeiro trabalha com perspectiva de inflação medida pelo IPCA ao redor de 6,5 por cento neste ano e ainda na incômoda faixa de 6 por cento em 2015.

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São Paulo - A terceira queda trimestral seguida da taxa de investimento no Brasil, a 17,7 por cento do PIB e no menor nível para um período de janeiro a março desde 2009, é uma má notícia para o Banco Central .

Ela significa que a autoridade monetária terá que se conformar por mais tempo com a dura realidade da inflação: o problema maior na alta dos preços está na oferta, que não cresce como precisaria, e não na demanda.

Outra medida importante de investimento, a Formação Bruta de Capital Fixo, caiu 2,1 por cento no primeiro trimestre, seja na comparação com os três meses anteriores ou com igual etapa do ano passado, mostraram os números divulgados na sexta-feira pelo IBGE sobre o desempenho da economia brasileira.

Do lado da demanda, o BC fez sucessivas elevações do juro básico desde abril do ano passado para conter a inflação, tirando a Selic da mínima histórica de 7,25 para 11 por cento ao ano. Neste mês, optou por interromper o ciclo de aperto monetário.

Entre autoridades do BC e agentes econômicos, há certo consenso de que continuar a elevar a Selic agora teria um efeito mais danoso ao crescimento econômico do que benéfico ao controle da inflação.

Em outras palavras, o BC já fez o que lhe cabia em política monetária no atual cenário e o problema está na política fiscal, que não tem ajudado, e em choques de preços de algumas classes de produtos, como alimentos.

Do lado da oferta, o governo da presidente Dilma Rousseff tem lançado mão sem sucesso de um arsenal para tentar elevar o investimento, passando por desoneração da folha de pagamento a mais de 50 setores e uma série de outros incentivos tributários, além da manutenção do juro de referência para empréstimos do BNDES em 5 por cento ao ano.

Aposta também num ambicioso plano de concessões de logística, bem-sucedido até aqui em rodovias e aeroportos, mas ainda no papel no que tange a ferrovias e portos, seja por ineficiências do goveno ou por incertezas que permeiam ano eleitoral no Brasil ou em qualquer país.

De todo modo, mesmo os investimentos de algumas dezenas de bilhões de reais já contratados nos transportes só serão sentidos na cadeia produtiva no longo prazo, por serem contratos com a iniciativa privada de prazo que em alguns casos superam os 30 anos e cujo cronograma de desembolsos é extenso.

Alento no curto prazo

Se os dados de investimentos são negativos olhando para a inflação à frente, do ponto de vista mais imediato a força da agropecuária pode ser um alento aos preços. Entre os setores de atividade, a agropecuária foi, mais uma vez, destaque positivo no primeiro trimestre, com expansão de 3,6 por cento sobre outubro a dezembro.

A estimativa mais recente do Ministério da Agricultura é de um aumento de cerca de 5 por cento na safra 2014/15 de grãos e oleaginosas no Brasil, para perto de 200 milhões de toneladas, renovando o recorde esperado para a temporada atual, que está terminando.

Se isso se confirmar, deverá ajudar a arrefecer nos próximos meses a alta dos alimentos, que vinham sendo os vilões da inflação. A equipe de Dilma conta com isso para entregar um IPCA em 2014 inferior a 6,5 por cento, longe da meta do governo de 4,5 por cento, mas ainda dentro da margem de tolerância dela de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Contradições

Mas se a queda dos investimentos é ruim para o controle da inflação, o recuo do consumo das famílias, de 0,1 por cento na comparação trimestral, poderia ser uma boa notícia para o BC.

O consumo do governo, no entanto, continua forte, com crescimento de 0,7 por cento, embora seja natural em ano eleitoral uma concentração maior de gastos no primeiro semestre devido às restrições da legislação para o segundo semestre.

A equação, porém, é mais complexa. Ao comentar o PIB do primeiro trimestre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a defender a recuperação do consumo para impulsionar a economia, deixando o investimento em segundo plano como motor do crescimento. Segundo ele, "já há estímulo suficiente para o investimento brasileiro".

Assim, enquanto o BC tenta frear o consumo com um juro maior, Mantega defende sua recuperação. O ministro da Fazenda volta a acenar para um modelo de crescimento no Brasil tido como esgotado por muitos especialistas.

Nesse arcabouço macroeconômico contraditório, não é por acaso que o mercado financeiro trabalha com perspectiva de inflação medida pelo IPCA ao redor de 6,5 por cento neste ano e ainda na incômoda faixa de 6 por cento em 2015.

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