Baguetes francesas (Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 3 de agosto de 2013 às 19h23.
Enquanto guia sua colheitadeira vermelha em meio a um campo de grãos já maduros na região central da França, Sylvain Bardin diz que o trigo que ele está reunindo não será transformado em baguetes.
O teor de proteína do trigo não é suficientemente alto, o que significa que os grãos que Bardin demorou quatro dias para colher podem não servir para assar pães ou exportar e serem relegados à alimentação animal.
Os problemas de qualidade de Bardin refletem as preocupações do início da colheita de trigo na França, a maior na União Europeia. O baixo teor de proteína, resultado de um longo inverno e de uma primavera fria e úmida, pode prejudicar a perspectiva de exportação a consumidores-chave como a Argélia.
“Os primeiros cortes são preocupantes”, disse Clement Gautier, analista da Horizon Soft Commodities em Noisy-le-Grand, França, por telefone. “O problema não será a quantidade, mas a qualidade.”
A França exporta quase a metade de seu trigo mole, com uma soma de embarques de 3,5 bilhões de euros (US$ 4,6 bilhões) no ano passado, segundo dados de comércio. Seu maior cliente, a Argélia, necessita de um teor de proteína de 11 por cento, segundo a Dijon Cereales, uma cooperativa de grãos francesa.
Assando qualidade
O escritório agrícola FranceAgriMer reportou que 14 por cento do trigo mole do país foi reunido no início da semana passada. Com 20 por cento a 25 por cento cortados até o início desta semana, é muito cedo para tirar conclusões a respeito da colheita total, disse Gautier.
Para os plantadores de trigo, as preocupações a respeito da qualidade do grão chegam em um momento em que o francês está comendo menos pão. O consumo per capita caiu em torno de 50 quilos por ano em relação aos 80 quilos de 1970, segundo estatísticas do instituto Insee.
Em 1880, o cidadão médio francês comeu 220 quilos do alimento, segundo dados do Ministério da Saúde. As baguetes somam 75 por cento do consumo de pão na França, de acordo com a associação de moinhos ANMF.
As proteínas do trigo determinam parcialmente a qualidade da farinha moída a partir do grão e podem afetar a maciez do pão. A colheita de trigo mole do ano passado teve em média 11,4 por cento de proteína, de acordo com a FranceAgriMer.
Níveis de proteína
A proteína presente no trigo do sudoeste da França pode girar em torno de 10,5 por cento neste ano, disse o vice-presidente da ANMF, Bernard Valluis, por telefone, em 30 de julho. Isso ainda poderia ser suficiente para produzir farinha de trigo para o mercado doméstico, disse ele.
O Egito, maior importador de trigo do mundo, busca pelo menos 11,5 por cento de proteína, enquanto o Iraque e a Argélia pedem 11 por cento, disse a Dijon Cereales.
“Isso depende do país, mas abaixo de 11 por cento torna-se muito, muito difícil de exportar”, disse Laurent Druot, porta-voz da Dijon Cereales. “Não deveria cair abaixo disso.”
Produtores rivais
Um longo inverno seguido de uma primavera fria e úmida explica o baixo teor de proteína, com o trigo com pouca ou nenhuma capacidade de absorver nitrogênio, disse Philippe Gate, diretor científico da pesquisadora agrícola Arvalis-Institut du Vegetal, de Paris.
A safra mundial de milho pode saltar 9,7 por cento, a 942,4 milhões de toneladas nesta temporada, com uma colheita recorde nos Estados Unidos, enquanto o trigo pode subir 5,1 por cento, a 686,9 milhões de toneladas, em um momento em que a produção se recupera na Rússia e na Ucrânia, segundo previsão do Conselho Internacional de Grãos divulgada ontem.
A previsão é que a colheita de trigo mole na França suba de 35,6 milhões de toneladas em 2012 para 35,9 milhões de toneladas neste ano, de acordo com a FranceAgriMer.
O potencial de exportação da colheita deste ano dependerá também da qualidade do trigo conseguida pelos produtores rivais, incluindo a Rússia, a Ucrânia e a Romênia, segundo Sebastien Poncelet, assessor da consultoria agrícola Agritel. “Se eles tiverem problemas também, passaremos incólumes”, disse ele.