Economia

Protesto comportado

Num primeiro momento, a segunda edição do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, parecia se encaminhar para mais uma grande festa das esquerdas, intercalada por manifestações contra tudo e contra todos. Na abertura do evento, uma multidão marchou pela capital gaúcha numa caminhada pela paz, empunhando bandeiras vermelhas e faixas de protesto. Mesmo nos dias […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h39.

Num primeiro momento, a segunda edição do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, parecia se encaminhar para mais uma grande festa das esquerdas, intercalada por manifestações contra tudo e contra todos. Na abertura do evento, uma multidão marchou pela capital gaúcha numa caminhada pela paz, empunhando bandeiras vermelhas e faixas de protesto. Mesmo nos dias seguintes, no centro de convenções da Pontifícia Universidade Católica, local principal das atividades, o Fórum Social parecia um grande carnaval - com direito a escola de samba e panelaço de argentinos. Trajes típicos, chinelos e camisetas de organizações não-governamentais viraram uma espécie de uniforme. Neste ano veio tanta gente - mais de 60 mil pessoas de 131 países, três vezes mais que na primeira edição - que caminhar pelos salões e corredores da PUC era uma prova de resistência, agravada pelo forte calor do verão gaúcho e, em conseqüência dele, por um odor desagradável.

A estrela do II FSM foi o polêmico lingüista americano Noam Chomsky, professor do MIT, um dos mais ferozes críticos da política externa americana. "O fórum antiglobalização não é este", disse Chomsky. "É o que está acontecendo nos Estados Unidos, que impõe subsídios e barreiras e favorece apenas as multinacionais." A opinião é a mesma do idealizador do Fórum Social, o empresário Oded Grajew, coordenador da Associação Brasileira de Empresas pela Cidadania (Cives) e presidente do Instituto Ethos. Para ele, as teses do Fórum Social Mundial são as que mais atendem aos interesses dos empresários: "O que é melhor: o que leva à exclusão ou o que quer o crescimento do mercado consumidor e a preservação do meio ambiente?"

Desta vez, o problema do II FSM foi menos a falta de propostas e discussões pertinentes do que o excesso delas. Foram 100 seminários, 700 oficinas e 28 conferências, quase tudo simultaneamente, sobre temas que variaram das fontes alternativas de energia ao problema da água, passando por questões habitacionais, ambientais, indígenas, conflitos sociais e étnicos, aborto, transgênicos, discriminação contra negros, homossexuais, mulheres e até contra o samba.

Foi difícil encontrar um foco. Milhares de pessoas embaladas por um jingle - "um novo mundo é possível se a gente quiser" - que não parava de tocar corriam de um lado para o outro, na ânsia de participar do máximo de atividades. Apesar disso, as propostas apareceram. Algumas já batidas, como a instituição da taxa Tobin, uma espécie de CPMF para as transações internacionais. Também foi pedido o fim dos paraísos fiscais e a conversão da dívida externa dos países do Terceiro Mundo num fundo de combate à miséria e à pobreza. Ninguém se lembra de perguntar o que pensam disso os bancos credores.

Uma das propostas mais utópicas é a de mexer no bolso da indústria bélica, utilizando o dinheiro gasto anualmente com armamentos, estimado em 800 bilhões de dólares, em projetos sociais para combater a fome no planeta. Foram propostas campanhas contra organismos geneticamente modificados em todo o mundo. As políticas do FMI e do Banco Mundial foram duramente criticadas. "A Argentina, o terrorismo e o escândalo da Enron são sinais claros de que o modelo dessas instituições está esgotado", disse Waden Bello, da ONG Focus on the Global South. O que não ficou muito claro é como deve ser o novo modelo dessas organizações.

O FÓRUM SOCIAL

ESTRELAS: Noam Chomsky (lingüista americano); Naomi Klein (jornalista canadense); Rigoberta Menchú (guatemalteca, Nobel da Paz); Adolfo Pérez Esquivel (argentino, Nobel da Paz); Baltazar Garzón (juiz espanhol que processou Pinochet)
E TAMBÉM: José Bové (ativista-baderneiro-protecionista francês)
MANIFESTANTES: cerca de 60 mil (todos)
POLICIAIS: 1,2 mil
TEMPERATURA: 30 graus

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