Economia

Problema de liquidez é exposto em horas de gritaria de Dilma

Durante reunião de 10 horas com assessores sobre plano de infraestrutura, a presidente mostrou seu famoso temperamento explosivo


	A presidente Dilma Rousseff: "Dilmãe" não foi muito carinhosa com assessores na reunião
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

A presidente Dilma Rousseff: "Dilmãe" não foi muito carinhosa com assessores na reunião (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2015 às 16h11.

No início de uma manhã de sábado, no mês passado, os principais assessores da presidente Dilma Rousseff se reuniram em sua residência oficial, na capital brasileira, levando consigo os esboços de um plano de infraestrutura de US$ 35 bilhões.

Quando saíram, era noite. Durante a maratona de discussões-- cerca de 10 horas, no total --, Dilma rasgou a proposta, mostrando seu famoso temperamento explosivo, e ordenou que os membros do gabinete descartassem projetos que ela tachou de inviáveis antes de voltarem a se reunir com ela, segundo dois funcionários com conhecimento sobre as discussões.

A divulgação do plano, originalmente programada para este mês, foi adiada para 9 de junho.

Aquela reunião tensa e o atraso causado ressaltam o quanto Dilma aposta nesse pacote.

Após anos lançando iniciativas em infraestrutura que tiveram apenas resultados contrastantes, a presidente, em dificuldades, precisa que este seja um sucesso para consertar as estradas problemáticas do Brasil, impulsionar uma economia vacilante e levantar sua popularidade após uma baixa recorde.

Contudo, os cortes no orçamento que o seu governo está buscando simultaneamente -- como parte de um esforço para manter os ratings de grau de investimento do país -- estão trabalhando contra o plano, tirando uma parte das garantias e do financiamento do governo, muito necessários.

Além disso, várias das maiores empresas construtoras do país, principais candidatas a apresentarem propostas para concessões de estradas e ferrovias, foram envolvidas no mesmo escândalo de corrupção que colocou muitos brasileiros contra a presidente de 67 anos.

“Você não pode lançar um plano amplo em um momento de corte no orçamento”, disse Bernardo Figueiredo, consultor de logística em Brasília que trabalhou como presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), que é estatal, durante o primeiro mandato de Dilma. “Se você não coloca dinheiro do governo, não consegue construir ferrovias”.

Ferrovias velhas

Essas limitações financeiras estão evidentes no rascunho da proposta que circula entre os membros do governo.

A maioria dos projetos que serão anunciados no mês que vem se destinará a modernizar as estradas e ferrovias existentes, um empreendimento que demanda menos capital do que novas construções, segundo um dos dois funcionários consultados.

Ambos pediram anonimato porque não estavam autorizados a falar publicamente sobre o assunto.

A única nova ferrovia pronta para ser licitada para operação neste ano é um trecho de 1.350 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, na região central do Brasil, segundo um terceiro funcionário envolvido no desenvolvimento da proposta.

As assessorias de imprensa da presidente e do Ministério do Planejamento preferiram não comentar o plano de infraestrutura.

Dinheiro da China

Uma das maiores esperanças para o programa de infraestrutura de Dilma veio com a visita, na semana passada, do premiê chinês Li Keqiang, que ofereceu investimentos de US$ 53 bilhões, incluindo uma ferrovia ligando a Costa Atlântica à Costa do Pacífico, passando pelo vizinho Peru. Contudo, como os estudos de viabilidade ainda não estão em andamento, os resultados podem tardar anos.

Não são poucos os críticos que duvidam da capacidade de Dilma de implementar com sucesso o novo plano após sua divulgação no mês que vem. Roberto Piscitelli, professor de Finanças da Universidade de Brasília, fala em nome deles ao dizer “não tenhamos nenhuma ilusão” a respeito do programa.

É muito pouco provável que ele gere um estímulo significativo para a maior economia da América Latina, disse ele.

“Temos enormes problemas com planejamentos a longo prazo”, disse Piscitelli.

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