Economia

Privatização e risco externo unem Bolsonaro e FHC

Os riscos externos que assolaram a era-FHC, contudo, também surgem como desafio para o presidente eleito, Jair Bolsonaro

Bolsonaro assume com uma agenda liberal que produz expectativas semelhantes às do governo de oito anos de Fernando Henrique Cardoso, iniciado em 1995 com uma plataforma ampla de privatizações e reformas (Montagem/EXAME/Agência Brasil)

Bolsonaro assume com uma agenda liberal que produz expectativas semelhantes às do governo de oito anos de Fernando Henrique Cardoso, iniciado em 1995 com uma plataforma ampla de privatizações e reformas (Montagem/EXAME/Agência Brasil)

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Clara Cerioni

Publicado em 23 de dezembro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 23 de dezembro de 2018 às 08h00.

São Paulo - Jair Bolsonaro assume em pouco mais de um semana com uma agenda liberal que produz expectativas semelhantes às do governo de oito anos de Fernando Henrique Cardoso, iniciado em 1995 com uma plataforma ampla de privatizações e reformas. Os riscos externos que assolaram a era-FHC, contudo, também surgem como desafio para o novo presidente eleito.

FHC conduziu em seu governo um amplo programa de privatizações e abertura da economia, que teve nos leilões das empresas de telecomunicações o seu ponto alto. No governo Bolsonaro, o ministro indicado para a economia, Paulo Guedes, já chegou a estimar em R$ 1 trilhão o valor a arrecadar com a venda de estatais, embora o presidente eleito tenha descartado a privatização de companhias que considera estratégicas, como Petrobras e Eletrobras.

A principal reforma proposta no governo FHC, a da Previdência, foi rejeitada pelo Congresso. Propostas tópicas, como o fator previdenciário, com FHC, e a mudança nas aposentadorias do setor público, com Lula, foram aprovadas, mas uma reforma ampla, capaz de interromper o crescente déficit fiscal, segue pendente e é prometida agora por Bolsonaro.

O sucesso das privatizações e reformas será crucial para Bolsonaro preparar o país para eventuais choques externos como os que atingiram o governo FHC. O presidente tucano já assumiu em 1995 tendo de lidar com a crise do México e depois enfrentou as crises da Ásia, em 1997, e Rússia, em 1998, além de outras turbulências externas como as causadas pelo fim do câmbio fixo da Argentina e pelo ataque às torres gêmeas em Nova York.

O governo Bolsonaro assume em janeiro em meio a um cenário de preocupações com os três maiores parceiros comerciais do Brasil. A China já sente o efeito da guerra comercial, os EUA continuam subindo juros e a Argentina enfrenta recessão. Ainda na seara externa, o novo governo sofreu recentemente advertência da Liga Árabe - cujos países são importadores de produtos brasileiros - sobre a proposta de mudar a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém.

Com FHC, apesar da agenda elogiada pelo mercado, o Ibovespa caiu em cinco dos oito anos do governo, enquanto o real se enfraqueceu em todos os anos de 1995 a 2002 - com direito a uma maxidesvalorização cambial no último ano do mandato, diante do estresse com a eleição de Lula. Com Bolsonaro, o rali dos mercados anterior à eleição já se esgotou, enquanto os investidores estrangeiros aguardam de fora sinais mais claros sobre a capacidade do presidente implementar seu programa liberal e sobre os rumos do mercado global.

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