Economia

Prioridade é ter fábricas para vacina, diz vencedor do Nobel de Economia

Uma das propostas apresentadas por Kremer é a de que países que possuem fabricação de vacinas invistam em suas próprias empresas

Michael Kremer: "A lição que podemos ver é que de fato inovação tem taxas de retorno muito altas. É um investimento fantástico." (Luke MacGregor/Bloomberg/Getty Images)

Michael Kremer: "A lição que podemos ver é que de fato inovação tem taxas de retorno muito altas. É um investimento fantástico." (Luke MacGregor/Bloomberg/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de maio de 2020 às 09h53.

A construção de fábricas para a produção de vacinas contra o novo coronavírus deve começar agora, ainda que não exista uma vacina aprovada para a doença. É o que propõe o vencedor do último prêmio Nobel de Economia em 2019, Michael Kremer, em painel da Brazil Conference at Harvard & MIT realizado ontem.

"Em vez de esperar até depois de a vacina ser testada e aprovada temos que construir capacidade de distribuição em paralelo", afirmou o economista. Há, sim, um risco muito grande em investir centenas de milhares de dólares na capacidade de produção e a vacina acabar não sendo adequada, segundo Kremer. "Mas nesse caso, faz sentido tomar o risco, porque o outro, de não termos uma vacina, é desastroso para o mundo inteiro. Uma lição é que precisamos de rapidez. Mas outra é que precisamos de capacidade" afirmou o economista.

Uma das propostas apresentadas por Kremer no painel da Brazil Conference é a de que países que possuem fabricação de vacinas invistam em suas próprias empresas. Mas se isso acontecer, diz o economista, cada país vai correr o risco de a aposta ser bem-sucedida ou não.

Para aumentar as chances de sucesso, as nações podem juntar esforços. "Os países coordenariam investimentos dentro de um portfólio de plataformas e tecnologia e cada um teria acesso às vacinas que surgirem. Se eles fizerem isso juntos, poderiam criar capacidade suficiente para servir mundo inteiro."

Ao lado do indiano Abhijit Banerjee e da francesa Esther Duflo, Kremer dedicou mais de 20 anos de pesquisa econômica ao desenvolvimento de novas maneiras de estudar e ajudar os mais pobres. No ano passado, o trio venceu o prêmio Nobel de economia com abordagem experimental sobre o tema.

Com base em sua experiência como diretor científico no Development Innovation Ventures, programa de inovação aberto que testa e dimensiona soluções criativas para qualquer tipo de desafio de desenvolvimento global, o economista mostrou no painel da Brazil Conference o quanto o investimento em inovação pode trazer um grande retorno social.

Dos 43 projetos que o Development Innovation Ventures possuía em seu portfólio até 2018, apenas quatro eram possíveis quantificar benefícios em termos financeiros e monetários. Nos demais, eles não conseguiam calcular se os benefícios ultrapassariam os custos. Como saber se seriam bons investimentos? O professor explica.

"Os benefícios dos quatro projetos foram cinco vezes maiores do que o custo total do portfólio. Isso corresponde a uma taxa de retorno social de 75%. E se você supor que esses programas continuem no mesmo nível, sem crescimento, teríamos a relação de 9 para 1 de beneficio para custo", afirma. "A lição que podemos ver é que de fato inovação tem taxas de retorno muito altas. É um investimento fantástico."

Para Kremer, o mercado privado não está gerando todo o investimento que a sociedade precisa. "Muitas vezes a inovação, e particularmente certos tipos de inovação, é subfinanciada em relação às necessidades sociais." Ele cita empresas como Google e Facebook que utilizam o método experimental todos os dias para tentar otimizar suas plataformas online.

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