Economia

Presidente do BNDES defende o "desmame" do subsídio público à agricultura

Declaração foi em resposta à afirmação da ministra Tereza Cristina sobre retirada radical de subsídios poder prejudicar setor responsável por 20% do PIB

Joaquim Levy: presidente do BNDES respondeu declarações de ministra da Agricultura (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Joaquim Levy: presidente do BNDES respondeu declarações de ministra da Agricultura (Fernando Frazão/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de fevereiro de 2019 às 18h54.

São Paulo - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defendeu nesta terça-feira, 26, o "desmame" de subsídios públicos para o financiamento do setor agrícola. "A ideia é de que o desmame tem de acontecer. O desmame tem de acontecer", disse Levy durante o 20º CEO Brasil 2019 Conference, do BTG Pactual, em São Paulo (SP), ao ser indagado sobre as declarações sobre o tema da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, dadas ao jornal O Estado de S. Paulo e ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Ela avaliou que um "desmame" radical dos subsídios pode desarrumar o agronegócio, que responde por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.

Levy citou distorções causadas por subsídios agrícolas, como as pedaladas fiscais, que geraram um passivo bilionário que precisou ser devolvidos pelo BNDES ao Tesouro. "Tem R$ 20 bilhões de pedaladas, R$ 20 bilhões de crédito rural que não tinha sido pagos e que devolvemos", afirmou.

O presidente do banco de fomento estatal classificou o BNDES como "o parceiro número um do aumento da produtividade da agricultura", com o financiamento de máquinas e "ninguém se toca", afirmou. Levy lembrou que o BNDES fomentou o crescimento do setor sucroenergético com o financiamento de usinas, o que mudou a paisagem rural e gerou renda para áreas ocupadas pela cana-de-açúcar."Algumas áreas do setor eram pastagens, que passou a ser usada para plantação mecanizada, principalmente com usinas. Áreas com um setor sucroalcooleiro moderno criou classe média que não existia."

No entanto, ao ser indagado sobre a crise posterior no setor, com a recuperação judicial e o fechamento de dezenas de unidades produtoras de açúcar e etanol, Levy foi pragmático: "Se não funcionou, não funcionou; temos de ser absolutamente capitalistas. É a perda do capital do investidor", concluiu.

Venezuela

A recuperação dos empréstimos concedidos à Venezuela é uma das prioridades do BNDES, disse Levy. "Parte desse dinheiro deve ser recuperado, há alguns empréstimos pagos, outros nem tanto. No entanto, a Venezuela vai envolver grande negociação internacional que deve acabar no Clube de Paris. Vamos ver", comentou, acrescentando que a "prioridade numero um é a recuperação desses recursos".

Previdência

A reforma da Previdência é fundamental para criar um ambiente de estabilidade fiscal e atrair o investidor estrangeiro para a infraestrutura, assim como, em um segundo momento, as reformas setoriais, disse Levy, durante o CEO Conference Brasil 2019.

"A reforma é importante para dar estabilidade e atrair o investidor. Só assim terei parceiro do setor privado para financiar projetos comigo", afirmou Levy.

Segundo ele, trazer previsibilidade fiscal é indispensável para que o mercado assuma riscos mais longos. "O sistema só destrava com previsibilidade fiscal, que começa com previdência, e se tiver reformas setoriais, estas são também indispensáveis", completou.

Norte-Sul

O presidente do BNDES defendeu a participação do mercado no incentivo aos investimentos em infraestrutura e citou, especificamente, a conclusão da ferrovia Norte-Sul. "Queremos ver o mercado incentivando a (ferrovia) Norte-Sul. Queremos debêntures incentivadas apoiando a Norte-Sul", disse.

Levy, também cobrou o fomento do mercado, com menor participação do BNDES, aos investimentos em rodovias e indagou. "Por que o BNDES precisa apoiar 80% dos projetos?".

O ex-ministro defendeu um novo viés de atuação e pediu a apresentação de bons projetos para o financiamento do banco. "Se não tiver originação sobre bons projetos, não tem o que financiar. Disciplinar a concorrência e diminuir maus projetos são segredos para voltar a crescer e aumentar a produtividade, e o BNDES tem de participar disso", completou.

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