Economia

Preocupações com economia levam Fed a manter juros

O Federal Reserve deixou inalteradas as taxas de juros, ao se curvar às preocupações com a economia global


	A sede da Federal Reserve (FED) é vista em Washington
 (Karen Bleier/AFP)

A sede da Federal Reserve (FED) é vista em Washington (Karen Bleier/AFP)

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Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2015 às 21h54.

Washington - O Federal Reserve, banco central norte-americano, deixou inalteradas as taxas de juros nesta quinta-feira, ao se curvar às preocupações com a economia global, à volatilidade no mercado financeiro e à fraca inflação nos Estados Unidos, mas deixou aberta a possibilidade de um modesto aperto da política monetária ainda este ano.

Em o que soou como um recuo tático, a chair do Fed, Janet Yellen, disse em uma entrevista a jornalistas que os desdobramentos em uma economia global fortemente entrelaçada tinham guiado o rumo do banco central.

"A perspectiva no exterior parece ter se tornado menos certa", disse Yellen em entrevista coletiva após comitê de política monetária do Fed divulgar sua decisão após reunião de dois dias.

Ela acrescentou que a recente queda dos preços das ações nos EUA e a alta do dólar já estão restringindo as condições do mercado financeiro, o que pode desacelerar o crescimento econômico nos EUA independentemente do que o Fed faça.

"Devido a acentuada incerteza no exterior... o comitê julgou apropriado esperar", disse Yellen. "Dadas as significativas correlações econômicas e financeiras entre os EUA e o resto do mundo, a situação no exterior demanda observação de perto".

Entretanto, o banco central manteve seu viés na direção de alta dos juros ainda neste ano, ao mesmo tempo que reduziu sua perspectiva de longo prazo para a economia.

Novas projeções mostraram que 13 das 17 autoridades do Fed ainda preveem alta dos juros ao menos uma vez em 2015, contra 15 na reunião de junho.

As próximas reuniões de política monetária do Fed ocorrem em outubro e dezembro.

Traders no mercados futuros reduziram as postas de que o banco central dos EUA irá elevar os juros até dezembro para uma probabilidade de 47 por cento, ante 64 por cento antes da divulgação do comunicado do Fed.

"Estamos na mesma situação em que estávamos antes, que é a incerteza sobre quando eles vão agir", disse John Bonnell, um gerente de portfólio sênior da USAA Investment em San Antonio, Texas.

Quatro autoridades acreditam agora que os juros não devem ser elevados até ao menos 2016, contra 2 que tinham essa visão em junho.

Sobre quando irá decidir elevar os juros, o Fed repetiu que quer ver "melhora adicional no mercado de trabalho" e estar "razoavelmente confiante" de que a inflação vai subir.

O dólar teve queda acentuada contra uma cesta de moedas após a divulgação do comunicado do Fed. As ações inicialmente subiram, mas depois recuaram e fecharam em queda. Os preços dos títulos do Tesouro dos EUA subiram.

'MAIS DOVISH'

Como um todo, as novas projeções do Fed de crescimento mais lento do Produto Interno Bruto (PIB), desemprego baixo e inflação ainda fraca sugerem que as preocupações com a chamada estagnação secular --longo período de baixo crescimento, em geral com juros baixos e deflação-- podem estar ganhando força entre as autoridades do Fed. Uma autoridade até sugeriu taxa de juros negativa.

A mediana das projeções das 17 autoridades mostrou que o Fed espera que a economia dos EUA cresça 2,1 por cento este ano, ligeiramente mais rápido do que o esperado anteriormente.

Entretanto, suas projeções para a expansão do PIB em 2016 e 2017 foram reduzidas.

As autoridades também veem que a inflação avançará apenas lentamente na direção da meta de 2 por cento do Fed, mesmo com o desemprego recuando mais do que o esperado. Eles agora esperam que a taxa de desemprego atinja 4,8 por cento no próximo ano, permanecendo nesse nível por até três anos.

A trajetória projetada do Fed para a taxa de juros mudou para baixo, com a taxa de longo prazo agora estimada em 3,5 por cento, ante 3,75 por cento na última reunião.

"O Fed se tornou mais 'dovish', com as projeções de crescimento revisadas para baixo em meio a conversas sobre 'estagnação secular'. Mas há um claro sinal de que, na ausência de qualquer descarrilamento sério da economia, a taxa de juros subirá antes do ano acabar", disse Chris Williamson, da empresa de informações financeiras Markit.

A votação foi um sinal de como a desaceleração econômica da China e a queda do mercado deixaram as autoridades do Fed nervosas sobre a economia mundial. A única dissidência foi do presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker, que queria um aumento de 0,25 ponto percentual nos juros.

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