Por que o Brasil parou de cair em competitividade
Resultados do Fórum Econômico Mundial não capturam aprovação de reformas nem retomada da atividade e estão mais relacionado com otimismo de executivos
João Pedro Caleiro
Publicado em 27 de setembro de 2017 às 14h13.
Última atualização em 27 de setembro de 2017 às 18h23.
São Paulo - O Brasil parou de cair no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial pela primeira vez desde 2012.
O país ganhou uma posição na edição divulgada nesta quarta-feira (27), subindo de 81º para 80º entre 137 países analisados.
Há 5 anos, estávamos na 48ª posição. A melhor colocação já atingida pelo país foi o 14º lugar em 2001.
O ranking leva em conta 114 indicadores em 12 pilares: instituições, infraestrutura, ambiente macroeconômico, educação e saúde primárias, educação superior e treinamento, eficiência do mercado de bens, eficiência do mercado de trabalho, desenvolvimento do mercado financeiro, prontidão tecnológica, tamanho de mercado, sofisticação dos negócios e inovação.
Parte dos indicadores são estatísticos e parte são resultado de uma pesquisa de opinião respondida por cerca de 200 executivos, gestores e investidores locais.
A Fundação Dom Cabral é a responsável por fazer o levantamento nacional e Carlos Arruda, professor da instituição, explica que os dados são referentes a 2016.
Por isso, ainda não capturam nem os efeitos da aprovação de reformas nem os sinais mais claros de retomada da atividade econômica, mas a percepção de que elas viriam em breve.
"Os países para se tornarem mais competitivos iniciam pela agenda positiva. É isso que começa a se detectar no Brasil. O primeiro estágio é a percepção da comunidade empresarial de que existe esta agenda, o segundo estágio é quando transformo confiança em investimento interno e externo", diz Arruda.
Ele diz que o Brasil pode ser comparado à Argentina, cuja melhora do 104º para o 92º lugar também foi muito baseada em melhora na confiança dos executivos.
O terceiro estágio da melhora, segundo Arruda, seria quando o investimento começa a gerar renda e emprego; ele cita Indonésia e Portugal como exemplos de países neste estágio do ciclo.
O quarto estágio seria quanto tudo isso constrói novos patamares de qualificação, inovação e produtividade; seria aonde a China chegou atualmente.
Corrupção
Um dos maiores avanços do Brasil neste ano foi no pilar de Instituições, que avançou 11 posições em um ano e foi de 120º para 109º lugar.
Isso mostra "os efeitos das investigações levando a mais transparência e a percepção de procedimentos bem-sucedidos para combater a corrupção dentro dos limites institucionais da Constituição brasileira", diz o relatório do Fórum.
Ainda assim, o Brasil é 126º lugar em ética corporativa e fica em último em confiança na classe política ".
Já o ambiente macroeconômico piorou a nota mas subiu duas posições no ranking, com destaque para o controle da inflação. Na Infraestrutura, o contrário: melhora na nota e queda no ranking.
O maior avanço foi no pilar de Inovação, "com viradas em muitos dos indicadores, indicando uma capacidade renovada para inovar com mais colaboração entre indústrias, universidades e negócios, qualidade mais alta de pesquisa, e engenheiros e cientistas mais bem treinados", diz o relatório.
Também houve melhoras na prontidão tecnológica e na sofisticação dos negócios.
Juntos, estes pilares apontam para um crescimento mais voltado para o futuro, algo que segundo Arruda será cada vez mais valorizado nas revisões metodológicas do Fórum.
"Mas não podemos ter novas surpresas. A eleição em 2018 tem que ser séria, porque se elegermos mal, vamos voltar para onde estávamos", completa.