Economia

Por que a gasolina aumentou? E para quanto vai o preço do combustível?

A Petrobras anunciou nesta quinta-feira (10) que vai subir o preço da gasolina e do diesel após um longo período sem reajuste

Combustíveis: Senado aprovou texto que busca reduzir preços na bomba (Rodrigo Capote/Getty Images)

Combustíveis: Senado aprovou texto que busca reduzir preços na bomba (Rodrigo Capote/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2022 às 19h45.

Última atualização em 11 de março de 2022 às 11h14.

A Petrobras anunciou nesta quinta-feira (10) que vai subir o preço da gasolina e do diesel após um longo período sem reajuste. O GLP, usado no gás de cozinha, também sofrerá um reajuste após quase 5 meses sem alteração de preço. Os novos valores passam a valer nesta sexta-feira, 11 de março, nas distribuidoras da estatal.

Após o anúncio, a estatal chegou a afirmar que o repasse é necessário para que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem maiores riscos de desabastecimento.

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Mas por que o preço da gasolina aumentou?

O preço do barril de petróleo do tipo Brent (referência usada pela Petrobras) chegou a subir mais de 40% em um mês e superar o patamar de US$ 130/barril no mercado internacional. Às 10h20 desta quinta-feira, o barril era cotado a pouco mais de US$ 114.

Importadoras vinham questionando no último mês o fato de a Petrobras não repassar as variações no mercado internacional e indicavam defasagem no preço aplicado no Brasil.

A Petrobras adota desde 2016 a chamada Política de Paridade de Importação (PPI), seguindo, no geral, os preços internacionais. Assim, o aumento recente está ligado sobretudo à alta global do preço do petróleo, que é piorada no Brasil pela desvalorização do real.

Mesmo antes da guerra, em 2021, os combustíveis já lideraram a alta da inflação. No IPCA, principal índice inflacionário de referência, as altas acumuladas no ano passado foram de mais de 40% para os combustíveis de veículos no Brasil e 30% para os residenciais, muito acima da inflação geral (de 10,06% em 2021).

A depender das sanções que atinjam a oferta de petróleo russo e os desdobramentos da guerra, não se descarta que o barril possa chegar à casa dos US$ 200, o que fará com que os preços no Brasil subam ainda mais.

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Debate no Congresso

Senado aprovou nesta quinta-feira, 10, por 68 votos a 1, o projeto de lei complementar (PLP) 11/2020, uma das propostas do pacote dos combustíveis que busca reduzir os preços da gasolina e do óleo diesel no país. O texto propõe estabelece a adoção de um ICMS único para todos os estados. Como foi modificada pelos senadores, a matéria volta para análise da Câmara.

O projeto prevê a adoção de uma cobrança monofásica do ICMS sobre combustíveis — ou seja, em uma única fase da cadeia de produção —, para não haver o chamado “efeito cascata”. A monofasia é vista com bons olhos pelo setor privado por potencialmente reduzir a sonegação e simplificar a complicada tributação atual. Prates inclui no relatório um período de transição para estados se adequarem à monofasia.

Outro ponto da proposta, relatada pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN), altera o modelo de cobrança para um percentual fixo por volume vendido (o chamado ad rem). Hoje, a alíquota é aplicada sobre o valor vendido (ad valorem), de modo que o tributo coletado também sobe quando o preço sobe — o que ajudou estados a terem sua maior arrecadação em duas décadas em 2021.

Caberá aos estados e ao Distrito Federal a definição do valor único do imposto para cada combustível, por meio do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). Depois de decidido o valor pela primeira vez, ele será congelado por pelo menos 12 meses. Após o primeiro reajuste, será preciso esperar seis meses para uma nova atualização. Reduções de alíquotas podem acontecer a qualquer tempo.

Combustível

(Busakorn Pongparnit/Getty Images/Getty Images)

Preço defasado

Mesmo com reajustes recentes da Petrobras, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) afirma que ainda há uma defasagem de mais ou menos 25% no preço vendido pela companhia, o que prejudica a concorrência. Segundo a Ativa Investimentos, o hiato é de 40%.

Essa defasagem também é apontada por analistas que defendem a maximização do lucro da Petrobras como um ponto que precisa diminuir. Ou seja, para melhor retorno aos acionistas, a empresa deveria até aumentar os preços atuais.

Mesmo antes da invasão russa à Ucrânia, os preços do petróleo já estavam em dinâmica de alta porque a oferta estava abaixo do crescimento da demanda. Isso aconteceu porque no início da pandemia, com o isolamento social, os produtores do Oriente Médio fecharam as torneiras para segurar a queda do valor do barril.

Agora, a volta da produção tem acontecido em ritmo lento. Segundo Agência Internacional de Energia, a organização Opep, que reúne os principais produtores em um cartel, tem uma capacidade ociosa de 4 milhões de barris por dia.

Ao total, os países somados tem produzido 33 milhões de barris por dia, o que não é visto por países que defendem um barril mais baixo como o suficiente para atender o mercado internacional, já que a pandemia é considerada controlada.

Para quanto vai o preço da gasolina e do diesel?

A estimativa da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Fertilizantes (Fecombustíveis) é de o litro de gasolina pode subir para R$ 7,02, contra a média atual de R$ 6,57 por litro.

Já o diesel pode subir para uma média de R$ 6,48 o litro, contra a média atual de R$ 5,60 o litro.

O preço final dos combustíveis depende também de outros componentes do preço, como tributos federais e estaduais, custos de distribuição e revenda, além do preço do etanol anidro (misturado à gasolina) e do biodiesel (misturado ao diesel).

O preço final dos combustíveis depende também de outros componentes do preço, como tributos federais e estaduais, custos de distribuição e revenda, além do preço do etanol anidro (misturado à gasolina) e do biodiesel (misturado ao diesel).

Filas nos postos de gasolina

Após o anúncio da Petrobras, usuários começaram a relatar o aumento nas filas dos postos de gasolina nas redes sociais. Os locais que ainda não aplicaram o ajuste se encontram lotados, com o preço da gasolina comum variando entre 6 e 7,30 reais. Em Fernando de Noronha, arquipélago de Pernambuco, um posto já cobra 9,79 reais pelo litro da gasolina.

Na zona leste de São Paulo, o posto da avenida São Miguel cruzou o quarteirão na tarde desta quinta-feira, 10. O mesmo foi relatado em Fortaleza, no cruzamento da Avenida Barão de Studart. “Vizinhos dizem que o local virou um "inferno", com buzinas e outras confusões”, relatou um usuário pelo Twitter.

Nova greve dos caminhoneiros?

Diante do anúncio do reajuste do preço do diesel de 24,9% e da gasolina em 18,7% na próxima sexta, dia 12, em razão da disparada do custo internacional do barril do petróleo, líderes de caminhoneiros voltaram a aventar a possibilidade de uma greve. Projeções iniciais indicam que o preço médio do litro do combustível deve passar de R$ 7 nos postos.

Umas principais liderenças do setor, Wallace Landim, mais conhecido como Chorão, disse nesta quinta, 10, que a alta dos preços no combustível pode levar os caminhoneiros a uma paralisação geral. “Nesse exato momento, eu vejo que, se o governo não fizer nada, o país vai parar por não haver mais condições de rodar", afirmou Landim. O caminhoneiro é presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), uma das diversas entidades que compõem o setor.

A última tentativa de greve ocorreu em novembro do ano passado. Na ocasião, não houve a mobilização esperada e a paralisação pretendida acabou não acontecendo. Em 2018, uma paralisação nacional dos transportadores parou o país.

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