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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.
Numa guerra, é fundamental entender o objetivo de cada lado. Enquanto a coalizão entre Estados Unidos e Reino Unido tem diversos objetivos (derrubar Saddam, destruir bases da Al-Qaeda e armas de destruição em massa, levar a democracia ao Oriente Médio, garantir o fluxo de petróleo, etc. etc. etc.), para Saddam Hussein a meta a atingir é simples: sobreviver. A cada dia que passa, o ditador iraquiano parece solidificar mais suas posições em Bagdá para resistir ao ataque da coalizão. Será que ele tem alguma chance de sobreviver no poder e, pelo menos do seu ponto de vista, ganhar a guerra?
A questão ganhou relevância depois que o departamento de Defesa declarou que enviaria mais 100 000 homens para o Iraque até o final de abril, num claro sinal de que os primeiros planos de vitória rápida da coalizão não se concretizaram. O dilema estratégico diante dos Estados Unidos está claro. Ou a coalizão ataca Bagdá rapidamente, mas corre dois riscos: o de uma guerra urbana com um sem-número de baixas civis e militares e o de sofrer ataques nos flancos de suprimento desconsolidados. Ou então tenta consolidar posições nas cidades do meio do caminho, mas leva muito mais tempo para chegar à capital.
Seja como for, a situação é mais difícil do que o governo americano imaginava. "O fato claro é que essa não é a guerra que a administração Bush queria ou esperava lutar", afirma um relatório da empresa de análises político-militares Stratfor. "A guerra ainda pode ser vencida, mas a pretensão _ particularmente do secretário de Defesa Donald Rumsfeld _ de que não haveria surpresas desagradáveis nessa campanha vai rapidamente se esfarelar." Surpresas desagradáveis, no jargão estratégico, equivalem a mortes. Quanto mais o tempo passa, maior o número de vítimas dos dois lados e mais difícil é, para Bush, sustentar o conflito politicamente.
"O problema central é político", afirma o Stratfor. "Tendo estabelecido expectativas de uma vitória rápida, a administração Bush tem um duplo problema de credibilidade. De um lado, a facção antiguerra. De outro, poderia desenvolver uma facção pró-guerra sem confiança na capacidade da liderança de executá-la." Se a guerra se estender ao longo de meses e o número de mortos se acumular dos dois lados, as acusações de massacres de civis iraquianos ou de mortes inúteis de soldados americanos podem tornar um cessar-fogo um cenário mais plausível para os próprios defensores do ataque ao Iraque. E isso configuraria uma vitória do ditador iraquiano. As chances ainda estão do lado da coalizão, mas cada grão de areia que cai da ampulheta as transfere lentamente para Saddam.