'Abrasileirar' preços e aumentar produtividade da Petrobras: o discurso de Magda Chambriard
Presidente fez coletiva após assumir o cargo na última semana e reafirmou a importância de repor as reservas da estatal, ainda muito dependente do pré-sal
Redação Exame
Publicado em 27 de maio de 2024 às 20h17.
Última atualização em 28 de maio de 2024 às 08h23.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a petroleira vai seguir com a tendência de 'abrasileirar' os preços. "Se eu aumentar o preço, vou perder o market share [fatia de mercado]. Esse preço segue a lógica empresarial e que não quer perder mercado. Vamos perseguir essa direção", disse em coletiva realizada nesta segunda-feira, 27, ressaltando que é "indesejável" para a sociedade uma instabilidade dos preços.
Durante a campanha eleitoral, o presidente Lula fez um discurso sobre "abrasileirar os preços" da Petrobras,ou seja, decidir os valores dos combustíveis considerando a realidade operacional no Brasil. A fala também já foi repetida por Jean Paul Prates, que foi demitido do cargo de presidente da Petrobras na semana passada.
"A Petrobras sempre funcionou acompanhando uma tendência de preços internacionais, ora mais alta, ora mais baixa. O que é altamente indesejável? Trazer para a sociedade brasileira instabilidade de preços todos os dias", disse Chambriard, que ressaltou que a Petrobras sempre "buscou pela estabilidade".
Produtividade
Magda disse que o foco de sua gestão vai ser acelerar a atividades de exploração de petróleo para repor as reservas da estatal, relembrando que as reservas de óleo da empresa, ainda muito baseadas no pré-sal, entram em declínio a partir de 2030.
"Enquanto empresa de petróleo, temos que pensar em repor reservas. Produzir petróleo em águas ultra-profundas é o que sabemos. O foco não poderia ser outro que não zelar pela produtividade. E, para isso, é essencial repor reservas", disse.
"A sobrevivência da Petrobras tem um grande componente que é a produção desses reservatórios, tempestiva, com máximo aproveitamento, majoração do potencial dos recursos, mas reposição de reservas. Para nós, é essencial repor reservas, continuar explorando petróleo no litoral brasileiro. A Margem Equatorial está nesse contexto, o litoral do Amapá e o do Rio Grande do Sul estão nesse contexto", disse.
Magda afirmou haver espaço também para novas descobertas no próprio pré-sal, ainda que não seja nada tão grande como foram os campos do passado.
Ela não descartou a internacionalização da exploração, ao lembrar que trata-se de uma empresa internacionalizada, mas disse que a prioridade total é a geração de riqueza no litoral brasileiro.
No ano passado, a Petrobras anunciou a volta das atividades na costa oeste da África, onde adquiriu participação em blocos da Shell em São Tomé e Príncipe e negocia para entrar no litoral da Namíbia, como revelou o IIBroadcast(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
Questionada sobre a resistência do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ibama em liberar a exploração nessas áreas, Magda disse que a pasta de Marina Silva precisa ser mais esclarecida sobre essa necessidade premente da Petrobras de repor reservas. "O Ministério do Meio Ambiente precisa ser mais esclarecido sobre a necessidade de o Brasil explorar a Margem (Equatorial) e perfurar esses poços, até para liderar a transição", disse sobre o MMA.
Sobre isso, a nova presidente da Petrobras ainda afirmou que o cuidado da empresa vai muito além do que demanda a lei ambiental o que vai ficar claro pela condução da empresa no tema. Ela também garantiu que a Petrobras vai seguir investindo na diversidade de fontes de energia capazes de garantir o futuro da companhia.
Magda ainda lembrou que terá como função reforçar a cadeia de fornecedores nacionais, assunto que acompanha há muitos anos, desde os tempos na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). "Todos os contratos têm igualdade de oportunidades para fornecedores nacionais e estrangeiros. Vamos ter que honrar a igualdade de oportunidades entre fornecedor nacional e externo", disse Magda.
Energia renovável
A nova presidente também disse refutar a tese de que negócios de energia renováveis são deficitários, e acrescentou que está mantido o interesse da Petrobras em fazer investimentos na área, conforme previsto no Plano Estratégico até 2028.
"A gente tem tradição nesse ramo (energia limpa), nossa matriz é renovável. Refuto que a energia renovável dê prejuízo, o mundo quer isso", disse Magda.
Segundo Magda, a questão do interesse em renováveis vem de uma lógica comercial em um mundo que mira a neutralidade em carbono (net zero).
A sinalização, portanto, é de que a nova gestão da Petrobras deve dar continuidade à busca por ativos de geração de energia renovável, como vinha acontecendo sob Jean Paul Prates.
(Com Estadão Conteúdo)