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Percepção de risco global divide opiniões em Davos

A economia mundial ainda é vista como um paciente em estado delicado, que os médicos não sabem se sofre de recaída ou se engrenou uma lenta recuperação

Logo do Fórum Econômico Mundial é visto na janela do centro de convenções de Davos, na Suíça (Christian Hartmann/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2016 às 08h36.

Davos - Passada a fase mais difícil do rescaldo da crise global, a economia do mundo ainda é vista como um paciente em estado delicado, que os médicos não sabem se sofre de recaída ou se engrenou uma lenta recuperação.

Essa dúvida fundamental é um dos grandes temas do Fórum Econômico Mundial de Davos de 2016, e explica por que os mercados estão nervosos e voláteis desde o início do ano.

Os aspectos mais visíveis do aumento da percepção de risco estão ligados à queda das commodities e aos problemas na China , com o temor de que a desaceleração do país asiático se torne desordenada e as autoridades econômicas embarquem numa série de medidas erradas, como as recentes intervenções desastradas nas bolsas.

O pano de fundo mais amplo das preocupações, porém, envolve o medo de que a modesta retomada nos Estados Unidos e na Europa possa empacar e retroagir.

Ontem (22), o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, cerrou fileiras com aqueles que pensam que os mercados exageram o risco de retrocesso no mundo rico.

Falando da zona do euro em sabatina no fórum conduzida, Draghi listou vários fatores que sustentam a recuperação, lista na qual incluiu até os futuros gastos fiscais para absorver o enorme contingente de refugiados que chega à Europa.

Segundo Draghi, a retomada europeia tem como fatores de sustentação a política monetária expansionista, a queda do preço do petróleo e uma política fiscal na maioria dos países da zona do euro que é "neutra em termos gerais, se não levemente expansionista". O quarto fator, ainda por ser ativado, são os gastos com os refugiados.

Draghi disse que a recuperação europeia é mais sólida na atual fase por estar mais baseada no consumo, e menos em exportações. Mas se revelou preocupado com a inflação da zona do euro, que está bem abaixo do objetivo do BCE - próxima a 2%. Segundo ele, a queda do petróleo e das commodities, e seus efeitos secundários em outros preços, são fatores que pressionam para baixo a inflação.

Frágil

Uma visão bem diferente foi delineada por Michael Spence, prêmio Nobel de Economia, que acha a economia global cada vez mais frágil. "Eu descreveria o padrão de crescimento global agora como insustentável - há uma dependência exagerada de política monetária, não há crescimento nominal suficiente, não há desalavancagem suficiente e há subinvestimento no setor público e privado por toda a parte."

Spence disse não saber se a economia global "vai apenas continuar a frear lentamente ou se vai ter um colapso". Também afirmou que "não ficaria surpreso se os Estados Unidos crescessem menos de 2% em 2016".

Para ele, os países com baixo crescimento precisam de impulso fiscal, reformas estruturais liberalizantes e aumento dos investimentos públicos e privados. "Muitas economias não crescem e o constrangimento primário não é produtividade, mas demanda - eu ouço muita conversa (sobre como impulsionar a demanda), mas nada sendo feito".

Spence lembrou que os próprios dirigentes dos principais bancos centrais do mundo advertiram várias vezes sobre as limitações da autoridade monetária para promover o crescimento sustentável, já que não fazem reformas estruturais nem tomam decisões fiscais.

Em relação aos emergentes, se disse otimista no longo prazo, mas acha que países sem taxa de investimento de 30% ou mais do PIB não conseguem crescer a um ritmo de 6% ao ano, compatível com uma convergência rápida para o padrão dos países mais ricos.

Quanto ao Brasil, Spence disse que se trata de uma economia "fundamentalmente sólida, que vai se recuperar, mas isso vai demorar". Para ele, com a combinação de fim da alta das commodities, excesso de capitais financeiros que entraram no País em razão dos juros altos, problemas fiscais e governo paralisado pela corrupção, o Brasil "vai certamente passar por maus momentos durante algum tempo".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Davos - Passada a fase mais difícil do rescaldo da crise global, a economia do mundo ainda é vista como um paciente em estado delicado, que os médicos não sabem se sofre de recaída ou se engrenou uma lenta recuperação.

Essa dúvida fundamental é um dos grandes temas do Fórum Econômico Mundial de Davos de 2016, e explica por que os mercados estão nervosos e voláteis desde o início do ano.

Os aspectos mais visíveis do aumento da percepção de risco estão ligados à queda das commodities e aos problemas na China , com o temor de que a desaceleração do país asiático se torne desordenada e as autoridades econômicas embarquem numa série de medidas erradas, como as recentes intervenções desastradas nas bolsas.

O pano de fundo mais amplo das preocupações, porém, envolve o medo de que a modesta retomada nos Estados Unidos e na Europa possa empacar e retroagir.

Ontem (22), o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, cerrou fileiras com aqueles que pensam que os mercados exageram o risco de retrocesso no mundo rico.

Falando da zona do euro em sabatina no fórum conduzida, Draghi listou vários fatores que sustentam a recuperação, lista na qual incluiu até os futuros gastos fiscais para absorver o enorme contingente de refugiados que chega à Europa.

Segundo Draghi, a retomada europeia tem como fatores de sustentação a política monetária expansionista, a queda do preço do petróleo e uma política fiscal na maioria dos países da zona do euro que é "neutra em termos gerais, se não levemente expansionista". O quarto fator, ainda por ser ativado, são os gastos com os refugiados.

Draghi disse que a recuperação europeia é mais sólida na atual fase por estar mais baseada no consumo, e menos em exportações. Mas se revelou preocupado com a inflação da zona do euro, que está bem abaixo do objetivo do BCE - próxima a 2%. Segundo ele, a queda do petróleo e das commodities, e seus efeitos secundários em outros preços, são fatores que pressionam para baixo a inflação.

Frágil

Uma visão bem diferente foi delineada por Michael Spence, prêmio Nobel de Economia, que acha a economia global cada vez mais frágil. "Eu descreveria o padrão de crescimento global agora como insustentável - há uma dependência exagerada de política monetária, não há crescimento nominal suficiente, não há desalavancagem suficiente e há subinvestimento no setor público e privado por toda a parte."

Spence disse não saber se a economia global "vai apenas continuar a frear lentamente ou se vai ter um colapso". Também afirmou que "não ficaria surpreso se os Estados Unidos crescessem menos de 2% em 2016".

Para ele, os países com baixo crescimento precisam de impulso fiscal, reformas estruturais liberalizantes e aumento dos investimentos públicos e privados. "Muitas economias não crescem e o constrangimento primário não é produtividade, mas demanda - eu ouço muita conversa (sobre como impulsionar a demanda), mas nada sendo feito".

Spence lembrou que os próprios dirigentes dos principais bancos centrais do mundo advertiram várias vezes sobre as limitações da autoridade monetária para promover o crescimento sustentável, já que não fazem reformas estruturais nem tomam decisões fiscais.

Em relação aos emergentes, se disse otimista no longo prazo, mas acha que países sem taxa de investimento de 30% ou mais do PIB não conseguem crescer a um ritmo de 6% ao ano, compatível com uma convergência rápida para o padrão dos países mais ricos.

Quanto ao Brasil, Spence disse que se trata de uma economia "fundamentalmente sólida, que vai se recuperar, mas isso vai demorar". Para ele, com a combinação de fim da alta das commodities, excesso de capitais financeiros que entraram no País em razão dos juros altos, problemas fiscais e governo paralisado pela corrupção, o Brasil "vai certamente passar por maus momentos durante algum tempo".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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