Guedes: "As pessoas vão usar a moeda em que confiam mais", disse. (Sergio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2020 às 12h00.
Última atualização em 23 de janeiro de 2020 às 17h04.
São Paulo — O ministro da Economia, Paulo Guedes, participou nesta quinta-feira (23) do painel “Desafiando o Domínio do Dólar” em Davos, cidade suíça onde acontece o evento anual do Fórum Econômico Mundial, que reúne a elite da elite global.
A pauta do painel com Guedes é o desejo dos países de reduzir a dependência da moeda americana e imaginar uma nova “arquitetura financeira para um mundo multipolar”.
Segundo o ministro, em cerca de 20 ou 30 anos, o mundo vai ver cinco ou seis moedas continentais, fortes como o dólar. Apesar disso, a moeda americana não deverá perder sua preponderância, diz ele. Hoje, as mais próximas de chegarem lá são o Euro e a moeda chinesa Renminbi, A palavra-chave nesse processo, segundo ele, é confiança: "As pessoas vão usar a moeda em que confiam mais", disse.
Com a consolidação da Europa como economia forte e continental, o euro ganhará espaço nas transações globais e também como reserva de valor, disse Guedes. O iene é outra moeda que se tornará continental, disse o ministro.
Um momento em que o mundo chegou mais perto de perder a confiança na moeda americana, segundo ele, foi em 2008 e 2009, durante o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. "Por causa dos abusos", disse.
O painel também teve a participação de Mário Centeno, ministro das Finanças de Portugal, Gita Gopinath, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Adam Tooze, diretor do Instituto Europeu da Universidade de Columbia, e Zhu Ning, do Instituto Avançado de Finanças (SAIF) de Xangai.
Para Gita, o dólar está longe de perder seu protagonismo nas transações globais, mas diz que o mundo precisa de mais inclusão financeira: "a tecnologia pode ter um papel importante nesse processo", disse.
A centralidade do dólar nas transações financeiras e comerciais internacionais é cada vez mais vista como um problema, pois deixa os outros países muito vulneráveis às flutuações da política monetária americana. Isso também amplia distorções, particularmente quando a economia dos EUA está relativamente mais forte do que a do resto do planeta - como no momento.
Desde a crise financeira vem se intensificando esforços para que isso mude, com forte apoio de países como a China. A ideia é permitir que transações entre dois países sejam feitas nas moedas locais, por meio de uma "cesta de moedas", ou até mesmo com alguma moeda virtual que reflita a composição dessa cesta. No entanto, ainda não foi encontrada uma alternativa que seja tão simples, segura, previsível e universalmente aceita como o dólar.
O encontro rendeu manchetes menos controversas para Guedes do que seu comentário, na terça-feira (21), de que “o maior inimigo do meio ambiente é a pobreza”. O ministro foi rebatido indiretamente no dia seguinte por Al Gore, que foi vice-presidente de Bill Clinton.
Em uma reunião com CEOs fechada à imprensa, Guedes explicou que seu raciocínio era de que quem mais cobrava o Brasil eram os países que já destruíram suas florestas.
O ministro também encontrou seu colega britânico das Finanças, Sajid David, e disse que o Reino Unido quer negociar urgentemente um acordo de livre comércio com Mercosul.
Esse deve ser o último compromisso de Guedes em Davos. Ontem (22), o Ministério da Economia confirmou que Guedes não acompanhará a comitiva do presidente Jair Bolsonaro, que viaja nesta quinta para a Índia. Até agora, havia a possibilidade de o ministro emendar as duas viagens. Guedes retornará ao Brasil amanhã (24) e assume os compromissos em Brasília na segunda-feira (27).
(Com informações da Reuters)