Economia

Um país de bebezões

Os italianos demoram cada vez mais para sair da casa dos pais. Mimados, eles começam a atrapalhar a economia do país

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

A Itália tem vocação para confirmar os clichês que inventou para si própria. A gastronomia italiana cruzou fronteiras e é reconhecida mundialmente. Ferrari e Lamborghini são os carrões incríveis desejados em qualquer parte do planeta. E as mammas italianas, o centro da estrutura familiar, gostariam de ter seus filhos a vida toda sob sua proteção. Para adultos sem perspectiva de bons empregos e de mobilidade social, embrenhados numa economia há anos quase estagnada, não poderia haver nada mais confortável do que ter mammas assim. Seria cômico se não fosse trágico para a economia italiana. Os bamboccioni, ou bebezões, como são conhecidos os adultos com mais de 20 anos que não conseguem ou não querem deixar para trás as facilidades do lar materno, funcionam como freios ao crescimento. Estima-se que metade dos jovens entre 18 e 34 anos ainda more com os pais na Itália. Trata-se de uma parcela da sociedade que entra no mercado de trabalho mais tarde, paga impostos por menos tempo e atrapalha até a indústria da construção civil e dos bens de consumo. Afinal de contas, quem está grudado na barra da saia da mamma não precisa comprar casa, geladeira, fogão, sofá... No mundo todo, inclusive no Brasil, os jovens estão saindo mais tarde da casa dos pais. Eles dedicam mais anos aos estudos e, consequentemente, levam mais tempo também para constituir a própria família. Em tempos de crise, alçar voo próprio fica ainda mais difícil. Na Itália, essa resistência a deixar o ninho já virou processo judicial.

O tribunal da cidade de Bergamo obrigou Giancarlo Casagrande, de 60 anos, a pagar uma mesada de 350 euros por mês à filha de 32 anos que ainda mora com a mãe (o casal é divorciado). O fenômeno dos bamboccioni ganhou proporções tão grandes que o ministro da Administração Pública, Renato Brunetta, propôs a criação de uma nova lei para forçar os filhos adultos a sair da casa dos pais. Mas Brunetta não contava com uma revelação: ele próprio morou com os pais até os 30 anos. Numa confissão que merece entrar para a história dos momentos embaraçosos da política mundial, admitiu que nunca havia arrumado a própria cama até morar sozinho. Os bamboccioni são o retrato de uma sociedade conservadora e centrada nas relações familiares, mas também representam um baixo dinamismo econômico. Um estudo da Universidade Bocconi, de Milão, mostra que os italianos que começam a trabalhar mais tarde têm um aprendizado mais lento e mais dificuldade de adaptação no emprego. Isso se refletiria numa defasagem de produtividade de cinco a dez anos em relação aos outros países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Os bebezões italianos, no entanto, não querem ser chamados de encostados. Atribuem à falta de oportunidades e aos baixos salários a origem de seus problemas. Entre os jovens italianos, o desemprego atinge cerca de 20%, o triplo da taxa nacional. Nem tudo é culpa do macarrão da mamma.

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