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Alta do preço do feijão pode ser culpa dos porcos chineses

Produtores brasileiros deixaram de plantar feijão para produzir soja que alimenta os porcos chineses, e agora o alimento está em falta nas mesas do país

Feijão: obsessão dos produtores brasileiros em atender demandas da China fez produção de feijão diminuir no país (Antônio Cruz/ABr)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2016 às 14h19.

Os produtores brasileiros simplesmente não conseguiram resistir aos porcos chineses.

Mais da metade da população suína do mundo come milhões de toneladas de farelo de soja por ano. Para alimentá-los, os brasileiros têm cultivado o grão em cada hectare disponível, do Centro-Oeste aos pampas do Sul -- muitas vezes em detrimento do feijão.

E agora a oferta do alimento favorito no Brasil está escassa, levando o preço a duplicar nos últimos 12 meses e impulsionando a inflação .

A crise do feijão aumenta a longa lista de problemas de um país assolado por sua pior recessão em um século e por uma crise política aparentemente interminável.

O feijão não é a única vítima do conflito entre as commodities voltadas à exportação e os alimentos destinados ao abastecimento doméstico, enquanto a depreciação do real torna a venda ao exterior mais atraente.

Os brasileiros estão pagando preços recorde de açúcar, apesar de o País ser o maior produtor mundial, e os processadores de frango reduziram a produção devido à escassez de milho para ração.

Quando se trata de soja, os agricultores brasileiros “correm para a segurança”, disse Lincoln Campello -- que era um deles. Durante quase 30 anos Campello plantou feijão em sua lavoura de 870 hectares no Paraná, mas não nos últimos três anos.

As lavouras de soja no Brasil agora cobrem 33,2 milhões de hectares, uma área maior que a Itália, após uma expansão de 50 por cento na última década, enquanto as plantações de feijão recuaram cerca de 30 por cento no mesmo período, para 2,9 milhões de hectares.

Ganhos de produtividade compensaram parte da redução da área, mas não foram suficientes para abastecer o País após a estiagem deste ano.

Os estoques de feijão correspondem agora a cerca de 15 por cento do nível de 2011. O pacote de 1 quilo chega a custar cerca de R$ 15 (US$ 4,45) no varejo atualmente, acima dos R$ 5 de alguns meses atrás.

Os preços mais elevados do feijão devem levar alguns produtores a cultivá-lo novamente, mas Campello diz que não será um deles.

“Meu medo é que muitos agricultores optem por plantar feijão e que esse aumento da produção no próximo ano possa causar uma queda dramática de preço”, disse ele. “A soja é uma garantia de bons preços e compradores”.

Feijão importado

Para aumentar a oferta de feijão no País, o governo suspendeu os impostos da importação até novembro. O Brasil já compra da Argentina e da China e o Ministério da Agricultura está incentivando os importadores a buscarem outras opções.

“Estamos trazendo um carregamento de feijão dos EUA pela primeira vez em 20 anos”, disse Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe). Ele estima que o total de importações poderá dobrar neste ano, para 300.000 toneladas.

Mas nenhuma das variedades estrangeiras é exatamente a preferida dos brasileiros. Nenhum outro país cultiva o carioca. “Não podemos importar feijão carioca, então os preços não vão cair enquanto a oferta não aumentar de novo”, disse Lüders.

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Os produtores brasileiros simplesmente não conseguiram resistir aos porcos chineses.

Mais da metade da população suína do mundo come milhões de toneladas de farelo de soja por ano. Para alimentá-los, os brasileiros têm cultivado o grão em cada hectare disponível, do Centro-Oeste aos pampas do Sul -- muitas vezes em detrimento do feijão.

E agora a oferta do alimento favorito no Brasil está escassa, levando o preço a duplicar nos últimos 12 meses e impulsionando a inflação .

A crise do feijão aumenta a longa lista de problemas de um país assolado por sua pior recessão em um século e por uma crise política aparentemente interminável.

O feijão não é a única vítima do conflito entre as commodities voltadas à exportação e os alimentos destinados ao abastecimento doméstico, enquanto a depreciação do real torna a venda ao exterior mais atraente.

Os brasileiros estão pagando preços recorde de açúcar, apesar de o País ser o maior produtor mundial, e os processadores de frango reduziram a produção devido à escassez de milho para ração.

Quando se trata de soja, os agricultores brasileiros “correm para a segurança”, disse Lincoln Campello -- que era um deles. Durante quase 30 anos Campello plantou feijão em sua lavoura de 870 hectares no Paraná, mas não nos últimos três anos.

As lavouras de soja no Brasil agora cobrem 33,2 milhões de hectares, uma área maior que a Itália, após uma expansão de 50 por cento na última década, enquanto as plantações de feijão recuaram cerca de 30 por cento no mesmo período, para 2,9 milhões de hectares.

Ganhos de produtividade compensaram parte da redução da área, mas não foram suficientes para abastecer o País após a estiagem deste ano.

Os estoques de feijão correspondem agora a cerca de 15 por cento do nível de 2011. O pacote de 1 quilo chega a custar cerca de R$ 15 (US$ 4,45) no varejo atualmente, acima dos R$ 5 de alguns meses atrás.

Os preços mais elevados do feijão devem levar alguns produtores a cultivá-lo novamente, mas Campello diz que não será um deles.

“Meu medo é que muitos agricultores optem por plantar feijão e que esse aumento da produção no próximo ano possa causar uma queda dramática de preço”, disse ele. “A soja é uma garantia de bons preços e compradores”.

Feijão importado

Para aumentar a oferta de feijão no País, o governo suspendeu os impostos da importação até novembro. O Brasil já compra da Argentina e da China e o Ministério da Agricultura está incentivando os importadores a buscarem outras opções.

“Estamos trazendo um carregamento de feijão dos EUA pela primeira vez em 20 anos”, disse Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe). Ele estima que o total de importações poderá dobrar neste ano, para 300.000 toneladas.

Mas nenhuma das variedades estrangeiras é exatamente a preferida dos brasileiros. Nenhum outro país cultiva o carioca. “Não podemos importar feijão carioca, então os preços não vão cair enquanto a oferta não aumentar de novo”, disse Lüders.

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