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O que o Brasil tem a perder com a Parceria Transpacífica

Acordo de 12 países anunciado ontem deve isolar o Brasil ainda mais das cadeias globais de valor e da definição das novas regras do comércio

Navios no Rio Paraná aguardam para serem carregados no Porto de Rosário, na Argentina (Diego Giudice/Bloomberg News)

João Pedro Caleiro

Publicado em 6 de outubro de 2015 às 13h33.

São Paulo - Com 12 países que respondem por 40% do PIB global, a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês) anunciada ontem tem tudo para ser o maior acordo comercial da história.

E não só isso, já que envolve padrões trabalhistas e até ambientais, além de harmonização de regras de investimento e propriedade intelectual.

É "um novo modelo de acordo para o século XXI", segundo os Estados Unidos, que pretende contrabalancear a influência da China.

Se aprovada internamente pelos envolvidos, a abertura, que inclui a primeira e a terceira maiores economias do mundo ( Estados Unidos e Japão), vai criar novos fluxos e cadeias de valor que devem deixar o Brasil ainda mais de lado.

Segundo a CNI, os 12 países do TPP compraram US$ 54 bilhões do Brasil em 2014, o equivalente a 24% das nossas exportações . Entre os manufaturados, a participação é de 35%.

Um estudo de Vera Thorstensen e Lucas Ferraz, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), estima uma queda de 2,7% nas exportações brasileiras com um TPP que elimine todas as barreiras tarifárias e metade das não-tarifárias.

“Há três anos a CNI chama a atenção para a necessidade de novos acordos comerciais. Com o TPP, o Brasil deve perder preferência e competitividade no mercado americano e na região da Ásia-Pacífico e América Latina”, diz o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.

Aposta errada

As exportações são apenas cerca de 12% do nosso PIB, contra 24% na Índia e 32% na Espanha. O novo patamar do dólar é bom para a competitividade e já está tendo impacto na balança comercial, mas o efeito é defasado e limitado.

"O TPP mostra que a abordagem adotada nestes últimos 13 anos de privilegiar a negociação multilateral via OMC e o caráter "político" do Mercosul mostra-se ainda mais equivocada", diz Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia.

A economia brasileira é a mais fechada do G-20, segundo estudo recente da Câmara de Comércio Mundial. Nosso último tratado de livre-comércio foi com Israel, em 2010; não estamos há tanto tempo sem um novo desde o início do Mercosul em 1992.

Amarrado pelas regras do bloco, o Brasil apostou em uma liberalização generalizada que entrou em um impasse, enquanto o mundo partia para negociações ambiciosas em âmbito bilateral e regional. Agora, vai acabar sujeito a um novo padrão que não ajudou a criar:

"O acordo pode ter efeitos profundos sobre o próprio funcionamento do sistema multilateral, caso venha a enfraquecer o papel da OMC de principal locus de criação do arcabouço normativo. Este quadro pode ser particularmente nefasto para o Brasil, que está de fora da negociação não apenas do TPP mas de todas as iniciativas megarregionais", diz um estudo de Flavio Lyrio Carneiro, do Ipea, publicado no final do ano passado.

Reglobalização

Neste ínterim houve uma crise financeira que apesar de não ter disparado uma temida onda de protecionismo, gerou "desglobalização" - efetivamente, quando o comércio global cresce em ritmo menor que o do PIB. Os novos mega-acordos devem sepultar de vez esta janela:

"A reglobalização não ambicionará a comunhão de visões de mundo e não florescerá de um grande pacto global costurado por todas as nações num palco como a OMC. É um cenário para o qual, francamente, o Brasil não tem estratégia alguma", diz Troyjo.

O Brasil retomou em 2012 sua negociação com a União Europeia e novas ofertas devem ser trocadas ainda este ano. O país também está abrindo consultas para testar modelos novos fora da mera abertura tarifária.

É muita timidez quando também há negociações em andamento entre os EUA e a UE da chamada "Parceria de Investimento e Comércio Transatlântica" (TTIP, na sigla em inglês). Caso seja concluída, o quadro muda mais uma vez:

"Não existe lógica de comércio de [o Brasi] ter um acordo com a UE sem um acordo com os EUA no caso de um TTIP bem-sucedido", diz o estudo da FGV. Ele calcula uma perda extra de 5% das nossas exportações com um TTIP concluído sem acordo entre UE e o Brasil.

São Paulo - A globalização está estagnada. Nos últimos 3 anos, o crescimento do fluxo de comércio global ficou em 2,4% anuais, a mais baixa média no registro sem contar períodos de recuo (como na crise de 2009). O crescimento de 2,8% em 2014 foi apenas levemente maior do que o crescimento do PIB no período e ficou bem abaixo da média de 5,1% desde os anos 90. A queda do preço das commodities e tensões geopolíticas são algumas das forças que explicam o fenômeno e a perspectiva para 2015 e 2016 é de altas ainda tímidas. Em 2014, 15 dos 30 maiores países exportadores tiveram crescimento no valor exportado, enquanto 5 ficaram na mesma e 10 tiveram quedas. A maior delas foi a brasileira, de 7%, o que fez o país cair 3 posições no ranking, atrás de Malásia e Tailândia. A situação tende a melhorar um pouco esse ano com a desvalorização cambial, que deixa nossos produtos mais competitivos. Veja a seguir quais são os maiores exportadores do mundo de acordo com dados recentes da Organização Mundial do Comércio ( OMC ).
  • 2. 1. China

    2 /14(REUTER/Aly Song/Files)

  • Veja também

    Valor totalUS$ 2,34 trilhões
    Parcela do comércio global12,4%
    Em relação a 2013aumento de 6%
  • 3. 2. Estados Unidos

    3 /14(Joe Raedle/Getty Images)

  • Valor totalUS$ 1,62 trilhão
    Parcela do comércio global8,6%
    Em relação a 2013aumento de 3%
  • 4. 3. Alemanha

    4 /14(Bloomberg)

    Valor totalUS$ 1,51 trilhão
    Parcela do comércio global8,0%
    Em relação a 2013aumento de 4%
  • 5. 4. Japão

    5 /14(Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

    Valor totalUS$ 684 bilhões
    Parcela do comércio global3,6%
    Em relação a 2013queda de 4%
  • 6. 5. Holanda

    6 /14(Peter Horree/Alamy/GLOW IMAGES)

    Valor totalUS$ 672 bilhões
    Parcela do comércio global3,6%
    Em relação a 2013Igual
  • 7. 6. França

    7 /14(Moyan Brenn/Flickr/Creative Commons)

    Valor totalUS$ 583 bilhões
    Parcela do comércio global3,1%
    Em relação a 2013Igual
  • 8. 7. Coreia do Sul

    8 /14(Wikimedia Commons)

    Valor totalUS$ 573 bilhões
    Parcela do comércio global3,0%
    Em relação a 2013aumento de 2%
  • 9. 8. Itália

    9 /14(Alessandro Bianchi/Files/Reuters)

    Valor totalUS$ 529 bilhões
    Parcela do comércio global2,8%
    Em relação a 2013aumento de 2%
  • 10. 9. Hong Kong

    10 /14(Sanfamedia / Flickr Commons)

    Valor totalUS$ 524 bilhões
    Parcela do comércio global2,8%
    Em relação a 2013queda de 2%
  • 11. 10. Reino Unido

    11 /14(Peter Macdiarmid/Getty Images)

    Valor totalUS$ 507 bilhões
    Parcela do comércio global2,7%
    Em relação a 2013queda de 6%
  • 12. 11. Rússia

    12 /14(Captain Galaxy/Thinkstock)

    Valor totalUS$ 497 bilhões
    Parcela do comércio global2,6%
    Em relação a 2013queda de 5%
  • 13. 25. Brasil

    13 /14(Germano Lüders/EXAME)

    Valor totalUS$ 225 bilhões
    Parcela do comércio global1,2%
    Em relação a 2013queda de 7%
  • 14 /14(Chris Ratcliffe/Bloomberg)

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