Bradesco e Itaú Unibanco demonstram preocupação com o cenário inflacionário (Fotomontagem/EXAME)
Da Redação
Publicado em 1 de setembro de 2011 às 17h35.
São Paulo – As equipes econômicas do Bradesco e do Itaú Unibanco consideraram “surpreendente” a decisão do Banco Central (BC) de reduzir os juros básicos em meio ponto percentual.
Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por 5 votos a 2, cortar os juros básicos da economia de 12,50% para 12% ao ano.
Em relatório distribuído a clientes, o Itaú diz que “a decisão surpreendeu não só o consenso dos analistas, que esperava manutenção, como o mercado de juros futuros, que embutia probabilidade de 0,25pp de corte”.
O texto, assinado pelo economista-chefe da instituição e ex-diretor do BC, Ilan Goldfajn, e pelos economistas Aurélio Bicalho e Caio Megale, traz uma preocupação com a inflação. “O IPCA ainda mostra muita rigidez em torno do topo da banda de tolerância (6,5%). A robustez do mercado de trabalho e o aumento do salário mínimo em 2012 sugerem que esse quadro não vai se alterar rapidamente. Salvo em um cenário de ruptura, o IPCA deve continuar acima da meta de 4,5% no horizonte relevante.”
O Itaú lembra que o Banco Central brasileiro é o primeiro a reduzir os juros, de forma relevante, entre os emergentes. “O Copom parece querer evitar 2008, quando preferiu esperar por evidências mais concretas dos efeitos da crise antes de mexer na Selic.”
Porém, a equipe de Goldfajn salienta que “se o cenário adverso desenhado no comunicado não se concretizar ou a política fiscal for mais expansionista do que o antecipado, evidentemente haverá risco para a inflação: entre eles, o de consolidarem-se as expectativas em nível acima do centro da meta”.
Por fim, o Itaú projeta mais dois cortes de meio ponto na Selic, encerrando o ano em 11%. “Se o ambiente desinflacionário se materializar de fato, esperamos mais dois cortes de 0,5pp no ano que vem, podendo levar a Selic a encerrar 2012 em 10%.”
Bradesco
Já o Bradesco, que também classificou a decisão de surpreendente, destaca que “o comunicado (do Copom) não fez referências aos riscos inflacionários, mesmo diante dos dados mais recentes, que continuam mostrando um mercado de trabalho aquecido, em um momento no qual a inflação acumulada alcança patamares de 7,0%”.
O texto, assinado pelo diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos da instituição, Octavio de Barros, prevê um cenário externo diferente do projetado pelo Banco Central. “Por ora, por acreditarmos que o cenário global não será catastrófico como o de 2008 e por acharmos que parte da reação virá através de mais expansão monetária no mundo, impedindo um forte ciclo desinflacionário, apostamos em mais dois cortes de 50 p.b. nas duas próximas reuniões do Copom, levando a Selic para 11,00% ao final deste ano.”
Dependendo da evolução do cenário global, o corte pode ser ainda maior, diz o o relatório enviado a clientes do Bradesco, que salienta que o termo "atentamente" utilizado pelo BC "deixa as portas abertas para alterações na magnitude ou na extensão do ajuste".