Exame Logo

O primeiro teste

A alta dos preços vai depender da atitude do governo Lula

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h14.

A onda de reaceleração dos preços produzida pela alta do dólar indica que a barreira psicológica dos dois dígitos para a taxa de inflação dos últimos 12 meses será ultrapassada ainda no primeiro trimestre de 2003. Se a inflação anual permanecerá acima dos 10% ou retrocederá, pela transitoriedade do reajuste de preços relativos provocado pela desvalorização cambial, é uma questão em aberto. A resposta vai depender dos primeiros movimentos macroeconômicos do governo Lula.

Tecnicamente, a reaceleração de preços embutida na desvalorização é transitória. A manutenção do regime de metas inflacionárias pelo Banco Central e o bloqueio de tentativas de reindexação, pela compreensão de que a queda de salários e preços domésticos expressos em dólar é intrínseca à redução do déficit em transações correntes, resultariam em recuo gradual da taxa de inflação ao patamar de um dígito.

Veja também

Uma importante sinalização de que o governo do PT compreende essa mecânica será dada pelo reajuste do salário mínimo. Uma elevação imoderada do salário mínimo perturbaria dramaticamente o recuo da taxa de inflação. Primeiro, pela dimensão fiscal. O aumento de gastos públicos e a ampliação do déficit fiscal apontam para maior endividamento e taxas de juro mais elevadas para o mesmo grau de compressão monetária. Segundo, pelos riscos de reativar mecanismos de propagação inflacionária, legitimando a busca generalizada de reposições salariais já pleiteadas no âmbito do "pacto social".

O perigo das tentativas de reindexação de salários é ressuscitar a catraca dos reajustes automáticos que, no passado recente, impediam o recuo da inflação mesmo num ambiente de recessão e desemprego fabricado por altas taxas de juro. Estas, por sua vez, eram resultantes do esforço de contenção monetária em meio ao descontrole fiscal.

É fundamental, portanto, que o novo governo perceba que a excessiva elevação do salário mínimo produziria o recrudescimento das expectativas inflacionárias, o que dificultaria atingir a meta de um dígito buscada pelo Banco Central.

Prefiro, sinceramente, apostar na ampliação dos limites cognitivos do PT. O controle de gastos durante o ano de transição, a geração do superávit fiscal acertado com o FMI, a manutenção do regime de metas inflacionárias pelo Banco Central e o encaminhamento das reformas tributária, previdenciária e trabalhista em 2003, juntamente com a redução formidável do déficit em transações correntes produzidas pela flexibilidade cambial, apontariam para a recuperação da dinâmica interna de crescimento. Tudo depende do uso, pelo PT, de seu capital político para resistir às pressões populistas por aumentos salariais descabidos já no início do mandato presidencial de Lula.

A popularidade e a legitimidade de Lula devem ser investidas nas reformas necessárias à retomada do crescimento sem inflação. É perfeitamente possível aprofundar as políticas sociais dentro dos orçamentos existentes, especialidade que o PT demonstrou possuir em suas administrações municipais.

Considerando que o câmbio flexível, a Lei de Responsabilidade Fiscal e o regime de metas de inflação foram adotados pelos tucanos apenas no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, e que as reformas não foram decisivamente enfrentadas ao longo de oito anos, confesso-me moderadamente otimista com as perspectivas do governo Lula. Em apenas seis meses de campanha assumiu importante compromisso de manutenção daquele tripé cambial-fiscal-monetário. E, ao contrário dos tucanos, demonstra apetite para atacar as reformas no primeiro ano de mandato.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame