O mundo pós-coronavírus: as impressões de Rubens Ricupero sobre o futuro
Para o ex-ministro Rubens Ricupero, a pandemia do novo coronavírus, por mais grave que seja, terá efeitos que vão durar no máximo alguns anos
Marina Filippe
Publicado em 14 de abril de 2020 às 07h00.
Última atualização em 14 de abril de 2020 às 10h30.
Que mundo encontraremos após a pandemia do coronavírus ? Que lições teremos aprendido? Como passaremos a lidar com a saúde? Como ficarão aspectos do cotidiano, como as relações de afeto, o mercado de consumo, a espiritualidade? E a economia? Ninguém tem ainda essas respostas.
O resultado vai depender de nossa compreensão dos acontecimentos, dos posicionamentos da sociedade civil, das atitudes socialmente responsáveis das empresas, dos caminhos adotados pelos governantes. Em resumo: vai depender de nós.
Para tentar antecipar esses cenários, falamos com especialistas em diversas áreas. O resultado você confere nesta reportagem da edição 1207. Nos próximos dias, continuaremos o debate com outros especialistas aqui no site.
A seguir, o depoimento de Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, autor de A Diplomacia na Construção do Brasil (1750-2016):
Uma pandemia, mesmo mais grave que a atual pela taxa de letalidade, é geralmente um acontecimento histórico de grande impacto e intensidade no curto prazo, mas cujos efeitos tendem a se apagar com o tempo. A gripe espanhola de 1918 causou cerca de 33 milhões de mortes.
A “peste negra”, cujo apogeu foi entre 1347 e 1351, provocou a morte estimada de mais de 70 milhões, um terço da população da Europa, às vezes até a metade. Nenhuma delas alterou duravelmente a estrutura política, o sistema econômico e outras características básicas do mundo de então.
A pandemia pode ter impacto devastador, mas dura no máximo alguns anos. Em contraste, o aquecimento global, por exemplo, é uma tendência planetária profunda que vai durar séculos.
A covid-19 pode acentuar a tendência à menor dependência em relação a países como a China, mas não vai reverter a globalização, a intensificação de contatos entre os povos por efeito da revolução da tecnologia da informática e das telecomunicações.