O desafio dos emergentes: resgatar estatais sem gerar crise da dívida
Empresas respondem por 55% do investimento em infraestrutura nesses países, segundo o FMI, e representam cerca de 60% da dívida não financeira
Ligia Tuon
Publicado em 13 de junho de 2020 às 08h00.
Última atualização em 13 de junho de 2020 às 15h51.
Economias de mercados emergentes enfrentam um novo dilema no início da lenta jornada rumo à recuperação: como resgatar estatais sem também provocar uma crise da dívida.
Governos sem recursos na Indonésia, Índia, África do Sul e outros países estão sob pressão para socorrer estatais no setor aéreo, de energia e outros segmentos abalados pelas restrições de viagens relacionadas ao vírus, colapso da demanda e queda dos preços do petróleo.
Com o risco da dívida, a nota de crédito de algumas empresas está em observação, além de levar investidores nervosos a venderem ativos antes que a situação piore.
Em mercados emergentes, estatais são importantes geradoras de empregos, entrelaçadas firmemente no tecido econômico e até na identidade nacional. Essas empresas respondem por 55% do investimento em infraestrutura nesses países, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, e representam cerca de 60% da dívida corporativa não financeira, segundo estimativa do Instituto de Finanças Internacionais.
“Os governos tendem a fornecer suporte significativo a essas entidades pseudoprivadas para perseguir objetivos políticos”, disse Emre Tiftik, diretor do IFF, em Washington. “Durante episódios de estresse, são essenciais para gerar emprego, embora isso aconteça sob o custo de baixa produtividade”.
Nesse cenário, é provável que ocorra um aumento da dívida de empresas estatais, disse Tiftik. “As implicações desse aumento serão duradouras e pesarão no crescimento potencial a médio e longo prazo”, disse.
Os déficits fiscais já deram um salto em meio aos aumentos dos gastos públicos para sustentar o crescimento, mas esses números geralmente não capturam os verdadeiros passivos enfrentados por autoridades se precisarem intervir para apoiar ou resgatar empresas estatais.
Na América Latina, aéreas buscam ajuda dos governos quando mais empresas correm risco de colapso. A Latam Airlines, maior aérea da região, seguiu os passos da colombiana Avianca e entrou com pedido de recuperação judicial em Nova York.
Um ponto positivo para governos é que as taxas de juros globais estão baixas por enquanto, disseram Taimur Baig e Ma Tiolhando, economistas do DBS Group, em Cingapura.
“Mas isso também significa que o crescimento do PIB e da receita será baixo”, escreveram em relatório. “A atual onda de gastos, muitos deles inevitáveis neste ano, apresenta muitos riscos para o futuro.”
(Com a colaboração de Paul Burkhardt e Robert Brand).