Economia

O desafio do PT vai além do ajuste das contas externas

Há um paradoxo na vitória de Lula à Presidência, pelo menos no que toca à economia. O candidato petista será eleito com a promessa de mudar o modelo econômico em vigor nos anos FHC, idéia enfaticamente defendida não só por Lula mas também por todos os economistas do partido já há vários anos. A mudança […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h14.

Há um paradoxo na vitória de Lula à Presidência, pelo menos no que toca à economia. O candidato petista será eleito com a promessa de mudar o modelo econômico em vigor nos anos FHC, idéia enfaticamente defendida não só por Lula mas também por todos os economistas do partido já há vários anos.

A mudança foi recentemente reafirmada a EXAME por Guido Mantega, uma das vozes mais importantes do PT em questões econômicas. Que mudança seria essa? Qual será o novo modelo a ser implantado no Brasil a partir de janeiro? Bem, infelizmente ainda não deu para entender direito, apesar da longuíssima campanha presidencial que agora se encerra e que deveria ter servido para esclarecer os principais temas nacionais. Chavões usados por Lula ("Pretendo apoiar a produção e não a especulação") podem ser úteis para ganhar as eleições, mas quase nada esclarecem sobre o que, na prática, vai mudar.

Há um ponto, no entanto, sobre o qual o PT e seus economistas têm feito críticas coerentes e claras. Ele diz respeito à restrição externa ao crescimento econômico. O país teria dependido excessivamente do capital externo nos últimos anos, uma realidade que se mostrou problemática principalmente depois da crise argentina. Com o comprometimento do fluxo externo a países emergentes em geral e ao Mercosul em particular, o crescimento econômico ficou impossibilitado.

Sem libertar o país dessa restrição qualquer fase de pujança teria vida curta, pois dependeria do volátil mercado financeiro internacional. A crença de que não existia tal restrição externa foi um dos pilares da política econômica do ministro Pedro Malan e sua equipe.

Aí chegamos ao paradoxo: dados recém-divulgados pelo Banco Central mostram que, em larga medida, o ajuste externo está feito. O déficit em conta corrente em 1998 foi de quase 34 bilhões de dólares. Em janeiro de 2002 ele já havia caído para 22 bilhões de dólares (4,4% do PIB). O último dado, o de setembro, mostrou um déficit de 13 bilhões de dólares (2,8%). Trata-se de um enorme ajuste nas contas, que certamente melhora em muito as chances de sucesso do governo Lula. Ao mesmo tempo, a entrada de investimento direto continua forte (projeta-se um ingresso de 16 bilhões de dólares em 2002), embora tenha caído na comparação com 2001.

É verdade que um pedaço do ajuste se deu por motivos conjunturais: o país está crescendo pouco, o que ajuda na hora de produzir superávits comerciais espera-se um saldo de mais de 10 bilhões de dólares neste ano. Por outro lado, as vendas à Argentina despencaram com a crise, o que evitou um superávit comercial ainda maior. Não é claro, portanto, que a conjuntura seja favorável ao ajuste externo. Na verdade, à parte a questão conjuntural, observa-se um ajuste estrutural da economia brasileira como resposta a uma taxa de câmbio que está muito mais competitiva desde o regime de flutuação implantado em 1999.

Conclusão: a "mudança de modelo econômico" proposta por Lula já começou a acontecer antes de sua posse justamente no item mais claro da crítica petista ao governo atual. O país não tem hoje a "dependência de capitais especulativos" que teve no passado. Feito o ajuste externo, fica a questão: o que mesmo o futuro governo ainda quer mudar do atual modelo econômico? Com a palavra, os futuros ocupantes da Esplanada dos Ministérios.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Governo altera regras para destravar crédito de R$ 6 bi a estados e municípios

Pobreza atingiu 52,9% da população argentina no primeiro semestre

BC monitora impacto das bets na inadimplência, diz Campos Neto

Ipea revisa projeção de inflação pelo IPCA de 4% para 4,4% em 2024