Economia

O cartão vermelho não foi para mim, diz Guedes sobre fim do Renda Brasil

Bolsonaro não aceitou troca considerada essencial por economistas para viabilizar o novo programa, que passaria pelo congelamento em reajustes a aposentados

Paulo Guedes, ministro da Economia, em cerimônia no Palácio do Planalto, em 19 de agosto de 2020.  (André Borges/Getty Images)

Paulo Guedes, ministro da Economia, em cerimônia no Palácio do Planalto, em 19 de agosto de 2020. (André Borges/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 15 de setembro de 2020 às 13h42.

Última atualização em 15 de setembro de 2020 às 15h11.

Após o presidente Jair Bolsonaro anunciar que desistiu do Renda Brasil, nesta terça-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, citou que o "cartão vermelho não foi para mim" sobre fala do presidente mais cedo.

Bolsonaro não teria gostado das propostas da equipe econômica para abrir espaço para o Renda Brasil no orçamento e disse que quem sugerisse alguns desses cortes tomaria um "cartão vermelho". "Quem porventura venha propor para mim uma medida como essa só posso dar um cartão vermelho", disse o presidente em vídeo.

Bolsonaro não aceitou fazer uma troca considerada essencial por economistas do governo para viabilizar o novo programa, que passaria pelo congelamento do reajuste em aposentadorias e pelo fim de programas sociais considerados pouco eficientes pela equipe econômica.  

Guedes atribuiu nesta terça-feira a decisão de Bolsonaro de acabar com o programa a uma posição política após distorção de informação feita pela mídia.

Segundo Guedes, a mudança em debate era importante e poderia ser histórica, envolvendo a desvinculação, desindexação e desobrigação do Orçamento.

Agora, ele reconheceu que a versão para o Pacto Federativo que está sendo relatada pelo senador Marcio Bittar (MDB-AC) não deverá conter mais o Renda Brasil. O ministro destacou que Bolsonaro sempre disse que não iria transferir renda de pobres para paupérrimos e que essa é uma opção política do presidente.

"[Ele] descredenciou então essa ideia do Renda Brasil, falando 'olha, não vai ter isso daqui até o fim do meu governo'. Acabou porque estão distorcendo tudo, estão acusando o presidente de demagogia, de estar querendo tirar dinheiro do pobre para dar para o mais pobre ainda, quando na verdade essa consolidação de programas já aconteceu no passado", disse Guedes, em participação online no Painel Telebrasil 2020.

"Nunca foi intenção tirar dinheiro dos idosos e dos vulneráveis", acrescentou, em outro momento.

Guedes disse ter havido "barulheira toda" nesta manhã após manchetes de jornais terem feito "conexões de pontos que não estão necessariamente conectados".

O time do ministro analisou inicialmente uma focalização de programas sociais e, posteriormente, eventual mudança em regras de benefícios para aumentar os recursos ao Bolsa Família, rebatizando-o para que, mais robusto, virasse uma marca da gestão Bolsonaro.

Nesta terça-feira, o próprio Guedes admitiu que a equipe chegou a estudar, no âmbito de uma consolidação das políticas públicas, a canalização dos recursos do seguro-defeso e abono salarial, além do fim das deduções da classe média e alta.

Ele defendeu que a ideia de desvinculação e desindexação no Pacto Federativo era muito mais ampla e que não tinha como objetivo tirar dos mais pobres, mas sim atribuir à classe política suas responsabilidades sobre o Orçamento.

Imposto sobre transações

O ministro da Economia, Paulo Guedes, também voltou a defender a criação de um tributo sobre transações digitais como única forma possível para compensar a desoneração da folha de salários.

"Toda vez que falarem que o imposto de transações é cumulativo, eu repito que o imposto sobre a folha é mais cumulativo. Se falarem que esse imposto sobra transações é ruim, o imposto sobre folha de pagamentos é muito pior e muito mais destrutivo", afirmou.

Ele apontou que o país tem hoje 40 milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho — um desemprego em massa, nas palavras dele — devido ao altos impostos excessivos sobre a folha de pagamentos.

"Temos de tentar desonerar a folha. Não adianta tentar interditar esse debate", completou Guedes, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que por diversas vezes já rechaçou o debate de um tributo nos moldes da extinta CPMF.

"Ou falamos sobre o imposto de transações digitais com ampla base, ou não vamos conseguir desonerar a folha", completou.

Guedes ainda reclamou a tentativa do Congresso Nacional em derrubar o veto presidencial à prorrogação por mais um ano da desoneração da folha para 17 setores.

"Todo mundo quer dinheiro para a educação, quer desonerar um setor que tem lobby em Brasília. Eu gostaria que aqueles que falam contra o imposto sobre transações dissessem onde vão arrumar recursos para desonerar a folha. De onde virão os recursos, vão botar imposto onde? Eles nos devem essa resposta", questionou.

IVA

O ministro da Economia disse que o governo estuda uma maneira de cobrar menos tributos dos setores de telecomunicações, saúde e educação, mas condicionou a redução de alíquotas à discussão do imposto único com os estados na reforma tributária. Para o ministro, a redução de alíquotas também depende da aprovação de um novo tributo sobre transações digitais, com base ampla de arrecadação.

Guedes entregou ao Congresso Nacional no fim de julho a primeira fase da proposta de reforma tributária do governo, com a criação da Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS) para substituir o PIS e a Cofins. Pelo projeto da equipe econômica, a alíquota do novo tributo será de 12% para todos os setores — incluindo serviços.

"Discutimos um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) mais barato para telecomunicações, saúde e educação, mas precisamos primeiro acoplar com a proposta dos estados para discutirmos uma alíquota menor para alguns setores. Podemos durante essa conversa analisar essa alíquota menor. O Brasil tem mais de 100 regimes tributários hoje", afirmou o ministro, na participação que teve no Painel Telebrasil 2020.

Guedes lembrou que, para reduzir alíquotas de alguns setores, é necessário compensar essa arrecadação em outras frentes. O problema, segundo ele, é que as atuais bases tributárias não permitem novas elevações. Por isso, o ministro voltou a defender a criação de um tributo sobre transações digitais — que a equipe econômica insiste em diferenciar da extinta CPMF.

"Queremos desonerar a base de consumo e achar outra base ampla o suficiente, com uma alíquota baixa, para podemos desonerar as outras bases. O governo de Jair Bolsonaro não vai mandar proposta de aumento de impostos. Queremos simplificar e reduzir o número de impostos", completou o ministro.

Acompanhe tudo sobre:Bolsa famíliaPaulo GuedesRenda Brasil

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor