Economia

O Brasil pode ter uma coalizão pró-crescimento justo?

Falta quem apresente um projeto combinando redução da desigualdade com crescimento, diz Celso Rocha de Barros, sociólogo e analista do Banco Central

Há dificuldade na criação de consensos no país, segundo analistas (Diego Vara/Reuters)

Há dificuldade na criação de consensos no país, segundo analistas (Diego Vara/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 11 de setembro de 2017 às 18h10.

Última atualização em 11 de setembro de 2017 às 18h23.

São Paulo - Qual é o conjunto de forças políticas que pode levar o Brasil a um crescimento justo? A eleição é no ano que vem e esse tipo de resposta parece distante.

O debate foi feito nesta segunda-feira (11) em um Fórum organizado pela Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.

Para Celso Rocha de Barros, sociólogo e analista do Banco Central, a política é justamente um dos motivos para o país continuar preso na armadilha da renda média.

Ele cita um estudo dos economistas Richard Doner e Ben Schneider apontando que a coalizão e arranjo de forças que permitem atingir a renda média são diferentes da forças que sustentam a passagem para a renda alta.

Essa transição final exigiria, a grosso modo, dois investimentos: educação e pesquisa e desenvolvimento, que precisam ser mantidos estáveis enquanto governos vêm e vão.

“Não vamos conseguir fazer essa transição se tivermos um partido que defende isso e o outro não. É preciso estabelecer um certo consenso nacional”, diz Celso.

Essa dificuldade de consenso, segundo ele, é fruto de conflitos de interesses entre empresas nacionais e estrangeiras (no tema da abertura comercial, por exemplo) e trabalhadores formais e informais (na questão de leis trabalhistas, por exemplo).

Mas é também fruto do nível gigantesco de desigualdade no Brasil. O programa de reformas liberais sendo implementado pelo governo de Michel Temer, segundo ele, só seria possível pelas circunstâncias excepcionais. Além disso é impopular, segundo Celso, por distribuir mal os riscos das mudanças.

"O objetivo desse ajuste fiscal é reduzir o déficit público e reduzir salário", diz o economista e ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, que não concorda com a tese da armadilha da renda média.

Ao exigir "cortes de gastos e direitos" sem oferecer em troca nenhum benefício claro no curto prazo, o projeto liberal estaria fadado ao fracasso político entre os mais pobres. Falta alguém para apresentar um projeto que combine redução da desigualdade com crescimento:

“Não conheço nenhuma proposta na mesa que traga isso (...) e nada garante que o crescimento vai ser pró-pobre como já foi”, diz Celso.

Eles também lembram que mesmo setores empresariais não podem ser considerados parte da coalizão atual.

Eles defenderam várias políticas de Dilma Rousseff, não gostam da valorização do câmbio e são contra itens da agenda atual como a mudança na taxa de empréstimo do BNDES.

“Não tem diálogo possível com a atual equipe econômica”, reclamou Mario Bernardini, diretor na ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

Ele avalia que um ambiente macroeconômico favorável "é necessário mas não suficiente" para o desenvolvimento e que o grande desafio é a desindustrialização prematura do país, ligada tanto ao câmbio quanto ao Custo Brasil.

Armando Boito, professor de Ciência Política da Unicamp, avalia que os empresários "parecem querer um partido que não existe, uma espécie de mistura entre PT e PSDB”.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoDistribuição de rendaFGV - Fundação Getúlio VargasIndústriaReforma trabalhista

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor