O alertadas urnas
O que aponta a apertada vitória de Lula nas eleições em São Paulo
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h24.
Nos últimos 50 anos, o Brasil passou pela maior transformação no mundo ocidental em termos de geografia humana. Em 1950, o país tinha 52 milhões de habitantes, dois terços dos quais viviam na zona rural. Chegou a 175 milhões, 80% deles nas cidades. Em São Paulo, a situação não foi diferente. De pouco mais de 2 milhões de moradores em 1950, a cidade abriga hoje perto de 11 milhões. Grande parte dessa população, mal remunerada, foi se fixando cada vez mais nas áreas periféricas, onde a infra-estrutura é mais precária.
Agora o país vive mais uma grande mudança com a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. É verdade que ainda estamos naquele período pós-eleitoral e pré-posse, quando a tendência é acreditar que tudo vai dar certo. Aconteceu o noivado, mas não ainda o casamento.
As eleições tiveram um significado político totalmente diferente nas esferas federal, estadual e municipal. Na cidade de São Paulo, os números das urnas sugerem que pode haver uma reviravolta dependendo das implicações socioeconômicas dos primeiros dois anos de mandato. Indiscutivelmente, Lula ganhou. Da mesma forma, ganhou o governador Geraldo Alckmin.
Do primeiro para o segundo turno, Lula aumentou o seu número de votos em 24%, enquanto o candidato tucano, José Serra, cresceu 63%. Isso determinou, na cidade de São Paulo, uma vitória apertada do PT sobre o PSDB, de 51% a 49%. Na votação para governador, o candidato petista José Genoino cresceu 23% do primeiro para o segundo turno, enquanto Alckmin cresceu 77%, o que determinou uma ampla vitória do PSDB sobre o PT: 64% a 36%. Dividindo-se a cidade em 12 zonas (veja mapa), observa-se que o PT de Lula saiu vitorioso em apenas quatro, as mais periféricas. Já o PT de Genoino não ganhou em nenhuma zona. Dos 1 175 locais de votação na capital, Alckmin venceu em nada menos que 1 147.
Em resumo, de um lado temos o PT, que passa a ocupar a Presidência da República e precisa fazer o Brasil crescer sem contar com recursos para investimentos (inclui-se aí o PT da prefeitura de São Paulo, que luta para pagar as suas contas). De outro, temos o PSDB do governo estadual, que inicia o novo mandato com as contas saneadas.
A eleição revelou uma crescente insatisfação com o descaso social e uma aprovação dos políticos comprometidos em bem administrar o dinheiro público. O presidente eleito pregou isso durante sua campanha. Vamos dar a ele um voto de esperança, obrigação de todo brasileiro. Vamos torcer para que os políticos exerçam sua função para o bem da sociedade. Se isso acontecer, o país que sempre foi considerado como do futuro se aproximará mais do presente. Caso contrário, a primeira grande solapada no novo PT ocorrerá já daqui a dois anos, na eleição para o sucessor da prefeita Marta Suplicy.