Economia

“Novo auxílio será uma dupla decepção”, diz Zeina Latif ao EXAME Política

"Com uma crise dessa natureza, como não nos preparamos para 2021?", indagou a economista no último episódio do podcast de política e economia da EXAME; ouça nas plataformas digitais

Brasileiros aguardam em fila para receber segunda parcela do auxilio emergencial do governo durante a pandemia do novo coronavírus. (Bruna Prado/Getty Images)

Brasileiros aguardam em fila para receber segunda parcela do auxilio emergencial do governo durante a pandemia do novo coronavírus. (Bruna Prado/Getty Images)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 12 de abril de 2021 às 17h46.

Última atualização em 13 de abril de 2021 às 14h29.

Com valores menores e alcance mais limitado, a nova rodada do auxílio emergencial que começa a ser paga neste mês certamente não terá os mesmo efeitos sobre a economia que o programa teve no ano passado. Ao contrário, ele agora tem o potencial de provocar uma dupla decepção ao país, que sofre com inflação e, ao mesmo tempo, com uma baixa atividade econômica. Na avaliação da consultora econômica Zeina Latif, o auxílio se desviou do seu caráter emergencial ao não ter sido bem calibrado em sua concepção.

"No seu auge, a auxílio pagou R$600 por mês a cerca de 68 milhões de brasileiros. Alguns setores registraram alta nas vendas e a inadimplência até caiu, o que é surpreendente numa crise como essa. Tudo isso mostra um problema de calibragem no programa, que era para ser emergencial, mas se tornou um programa de estímulo ao consumo", disse a economista no último episódio do podcast EXAME Política. "Parte da inflação que vivemos agora é por causa disso."

Latif explica que, ainda que o país tivesse condições financeiras de manter o auxílio em 2021 nos mesmos moldes do passado - como defendem algumas organizações sociais e até o ex-presidente Lula -, isso não seria a melhor opção no momento, o que acaba levando à tal dupla decepção.

"Consumir é bom, mas as políticas precisam ser calibradas, porque uma hora a fatura chega. Agora temos que fazer esse ajuste [de diminuir o valor e o alcance], tão doloroso, mas que precisa ser feito para que os efeitos colaterais não sejam tão ruins", explicou Latif no podcast. "Isso gera uma decepção dupla da sociedade: a primeira, daqueles que se beneficiaram lá atrás e agora não terão acesso ou terão um valor mais modesto; e a outra em relação às contas públicas e o ambiente econômico, que se deteriora."

O erro crasso do governo, avalia Latif, foi ignorar os alertas de especialistas em relação à duração da pandemia - que, ao contrário do que previa a PEC emergencial aprovada no ano passado, claramente não se encerraria em dezembro de 2020. Ao apostar em um cenário de otimismo irreal, a equipe econômica deixou de se preparar para as dificuldades de 2021.

"Com uma crise dessa natureza, como não nos preparamos para 2021?", indagou a economista no EXAME Política, destacando que o Orçamento aprovado ignora as necessidades da população neste momento. "É um Orçamento desconectado das necessidades do país. Neste momento, as pessoas precisam ter o mínimo de socorro, assim como as empresas. No fundo, ele é um reflexo triste da má gestão da politica econômica e da má gestão da articulação politica."


O podcast EXAME Política vai ao ar todas as sextas-feiras. Clique aqui para ver o canal no Spotify, ou siga em sua plataforma de áudio preferida, e não deixe de acompanhar os próximos programas.

 

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