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Nova postura do BC se alinha com a do mercado

Posicionamento atual do Banco Central tem mais ênfase ao aumento da Selic no combate à inflação e menor peso das medidas macroprudenciais

Há algumas semanas, o mercado se mostrava mais duvidoso sobre a capacidade do BC de trazer a inflação para a meta (Gustavo Lima/Agência Câmara)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2011 às 17h19.

São Paulo - A recente mudança de discurso do Banco Central, indicando uma postura mais dura em relação à inflação, deu espaço para que o prognóstico para o IPCA recuasse no Focus, mostrando um mercado mais confiante na estratégia da política monetária.

Pela primeira vez após oito semanas de alta, a projeção do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011 recuou no Focus divulgado na segunda-feira. O prognóstico para a inflação nos próximos 12 meses caiu pela segunda semana seguida, enquanto o cenário para 2012 foi mantido pela quinta semana.

Além disso, o mercado de juros futuros vêm reduzindo o prêmio nos contratos mais longos e operado com poucas variações, mostrando que o ceticismo do mercado com a condução da política monetária diminuiu.

Segundo economistas, isso resulta da nova postura mais hawkish do BC, com mais ênfase ao aumento da Selic no combate à inflação e menor peso das medidas macroprudenciais.

Embora economistas ponderem que a queda na previsão para o IPCA em 2011 está mais ligada ao dado de abril divulgado na semana passada, que veio melhor que o esperado, o prognóstico para 12 meses é um reflexo deste novo momento.

Outro ponto é a elevação da projeção para a Selic em 2012. Enquanto o cenário para o final deste ano se manteve em 12,50 por cento, a projeção para o ano que vem subiu pela segunda semana seguida.

"O BC está dando uma sinalização de que vai continuar subindo a Selic quantas vezes julgar necessário para trazer a inflação para o centro da meta ano que vem. Esse discurso ajuda o mercado a reorganizar as expectativas", comentou Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

"É muito importante uma boa comunicação com o mercado nesse sentido de ancorar as expectativas para a inflação", acrescentou.

Dúvida sobre macroprudenciais - Há algumas semanas, o mercado se mostrava mais duvidoso sobre a capacidade do BC de trazer a inflação para o centro da meta, entre outros motivos pelo fato de que a autoridade monetária mencionava o uso de medidas macroprudenciais, mas não anunciava novas medidas.

Sem conseguir mensurar o quanto as macroprudenciais representariam em termos de aperto monetário, o mercado vinha embutindo prêmio nos contratos mais longos de DIs, temendo que um esforço menor para subir a Selic este ano levasse à necessidade de mais aperto no futuro.

Mas, desde o Relatório de Inflação, passando por recentes declarações de membros do Banco Central, incluindo do presidente Alexandre Tombini, e pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, a autoridade monetária adotou uma postura mais agressiva no combate a inflação, ao que o mercado reagiu positivamente.

"O BC voltou a dar peso um pouco maior na política monetária convencional, e o mercado estava muito cético nessa estratégia de mix... o BC não sinalizou uso de mais medidas não convencionais e apontou mais (uso dos) juros, isso agradou porque o mercado acredita na necessidade de mais juros", explicou Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets.

Na terça-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Luiz Mendes, afirmou que o "objetivo principal das medidas macroprudenciais não é substituir a política monetária". Ele acrescentou que o ajuste monetário vai durar o tempo que for necessário.

Rostagno, da CM, acredita que o mercado está interrompendo o movimento de deterioração das expectativas inflacionárias no Focus. Rosa, da SulAmérica Investimentos, também vê espaço para declínio na previsão para a inflação em 2012.

Em relatório, a LCA avaliou a expectativa de inflação implícita no mercado de títulos e o movimento das últimas leituras do Focus para a inflação em 12 meses.

"Este indicador costuma antecipar os ajustes nas projeções captadas pelo BC, de modo que poderemos observar novo arrefecimento das expectativas para o IPCA nas próximas leituras do Focus", afirmou a LCA.

Com base na última ata do Copom e na "mudança na forma de agir do BC, concomitante à deterioração nos cenários traçados pela autoridade monetária para o IPCA em 2012", a LCA revisou a projeção para a Selic este ano e espera mais duas elevações de 0,25 ponto percentual.

A Rosenberg & Associados também revisou sua previsão diante da nova postura do governo.

"Tivemos várias evidências desta mudança de postura na semana passada, reforçada por encontros com empresários, solicitando que eles tentem conter ao máximo repasses de aumentos de preços, bem como o pedido de auxílio dos bancos oficiais na contenção do crescimento do crédito na economia", comentou, em relatório na segunda-feira.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em reunião com empresários que conta com a contribuição do setor privado para conter a inflação.

"Tendo em vista que a inflação parece ter voltado a ser de fato a prioridade do governo, alteramos nosso cenário de Selic para o final do ano para 13 por cento", disse a Rosenberg & Associados.

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São Paulo - A recente mudança de discurso do Banco Central, indicando uma postura mais dura em relação à inflação, deu espaço para que o prognóstico para o IPCA recuasse no Focus, mostrando um mercado mais confiante na estratégia da política monetária.

Pela primeira vez após oito semanas de alta, a projeção do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011 recuou no Focus divulgado na segunda-feira. O prognóstico para a inflação nos próximos 12 meses caiu pela segunda semana seguida, enquanto o cenário para 2012 foi mantido pela quinta semana.

Além disso, o mercado de juros futuros vêm reduzindo o prêmio nos contratos mais longos e operado com poucas variações, mostrando que o ceticismo do mercado com a condução da política monetária diminuiu.

Segundo economistas, isso resulta da nova postura mais hawkish do BC, com mais ênfase ao aumento da Selic no combate à inflação e menor peso das medidas macroprudenciais.

Embora economistas ponderem que a queda na previsão para o IPCA em 2011 está mais ligada ao dado de abril divulgado na semana passada, que veio melhor que o esperado, o prognóstico para 12 meses é um reflexo deste novo momento.

Outro ponto é a elevação da projeção para a Selic em 2012. Enquanto o cenário para o final deste ano se manteve em 12,50 por cento, a projeção para o ano que vem subiu pela segunda semana seguida.

"O BC está dando uma sinalização de que vai continuar subindo a Selic quantas vezes julgar necessário para trazer a inflação para o centro da meta ano que vem. Esse discurso ajuda o mercado a reorganizar as expectativas", comentou Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

"É muito importante uma boa comunicação com o mercado nesse sentido de ancorar as expectativas para a inflação", acrescentou.

Dúvida sobre macroprudenciais - Há algumas semanas, o mercado se mostrava mais duvidoso sobre a capacidade do BC de trazer a inflação para o centro da meta, entre outros motivos pelo fato de que a autoridade monetária mencionava o uso de medidas macroprudenciais, mas não anunciava novas medidas.

Sem conseguir mensurar o quanto as macroprudenciais representariam em termos de aperto monetário, o mercado vinha embutindo prêmio nos contratos mais longos de DIs, temendo que um esforço menor para subir a Selic este ano levasse à necessidade de mais aperto no futuro.

Mas, desde o Relatório de Inflação, passando por recentes declarações de membros do Banco Central, incluindo do presidente Alexandre Tombini, e pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, a autoridade monetária adotou uma postura mais agressiva no combate a inflação, ao que o mercado reagiu positivamente.

"O BC voltou a dar peso um pouco maior na política monetária convencional, e o mercado estava muito cético nessa estratégia de mix... o BC não sinalizou uso de mais medidas não convencionais e apontou mais (uso dos) juros, isso agradou porque o mercado acredita na necessidade de mais juros", explicou Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets.

Na terça-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Luiz Mendes, afirmou que o "objetivo principal das medidas macroprudenciais não é substituir a política monetária". Ele acrescentou que o ajuste monetário vai durar o tempo que for necessário.

Rostagno, da CM, acredita que o mercado está interrompendo o movimento de deterioração das expectativas inflacionárias no Focus. Rosa, da SulAmérica Investimentos, também vê espaço para declínio na previsão para a inflação em 2012.

Em relatório, a LCA avaliou a expectativa de inflação implícita no mercado de títulos e o movimento das últimas leituras do Focus para a inflação em 12 meses.

"Este indicador costuma antecipar os ajustes nas projeções captadas pelo BC, de modo que poderemos observar novo arrefecimento das expectativas para o IPCA nas próximas leituras do Focus", afirmou a LCA.

Com base na última ata do Copom e na "mudança na forma de agir do BC, concomitante à deterioração nos cenários traçados pela autoridade monetária para o IPCA em 2012", a LCA revisou a projeção para a Selic este ano e espera mais duas elevações de 0,25 ponto percentual.

A Rosenberg & Associados também revisou sua previsão diante da nova postura do governo.

"Tivemos várias evidências desta mudança de postura na semana passada, reforçada por encontros com empresários, solicitando que eles tentem conter ao máximo repasses de aumentos de preços, bem como o pedido de auxílio dos bancos oficiais na contenção do crescimento do crédito na economia", comentou, em relatório na segunda-feira.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em reunião com empresários que conta com a contribuição do setor privado para conter a inflação.

"Tendo em vista que a inflação parece ter voltado a ser de fato a prioridade do governo, alteramos nosso cenário de Selic para o final do ano para 13 por cento", disse a Rosenberg & Associados.

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