Economia

Nova CPMF vai encarecer produtos, diz presidente do Itaú

Candido Bracher afirma que reequilíbrio fiscal não pode ser feito com criação de mais impostos

Presidente do Itaú criticou proposta de reforma tributária apresentada pelo governo (Patricia Monteiro/Bloomberg)

Presidente do Itaú criticou proposta de reforma tributária apresentada pelo governo (Patricia Monteiro/Bloomberg)

AO

Agência O Globo

Publicado em 4 de agosto de 2020 às 11h46.

Última atualização em 4 de agosto de 2020 às 16h10.

A reforma tributária que está sendo proposta pelo governo não parece ser a ideal porque vai provocar aumento da carga tributária e, portanto, aumento do custo do dinheiro.

Além disso, um novo imposto nos moldes da antiga CPMF, não parece ser eficiente a prejudica as cadeias de produção mais longas, onde haverá incidência em cascata desse tributo, encarecendo o produto final.

A avaliação é do presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, que afirma que o governo precisa retomar as rédeas da área fiscal para que a economia brasileira volte a crescer no período pós-pandemia.

— A busca do reequilíbrio fiscal após a expansão de gastos necessária para pandemia é muito importante. E isso não deve ser buscado com aumento de carga de impostos.

Esta reforma proposta, embora não avaliamos todos os pontos, tem aumento de carga tributária. Isso provoca aumento do custo do dinheiro e não parece ser a reforma ideal.

A nova CPMF prejudica as cadeias da economia quem tem muitos agentes porque incide em cada fase da cadeia e acaba encarecendo o produto final - disse Bracher, durante apresentação dos resultados do segundo trimestre do banco,

Bracher lembrou que a carga tributária no Brasil está em torno de 36%, nível elevado na comparação com outros países emergentes.

Para ele, um aumento de impostos vai atuar no sentido contrário do crescimento econômico. Portanto, a reforma deve ter como objetivo racionalizar o sistema tributário, suprimindo impostos que atrapalham o funcionamento da economia.

Ele lembrou que no Brasil as empresas investem até 30 vezes mais em equipes para fazer recolhimento de impostos dada a complexidade do sistema tributário brasileiro.

No segundo trimestre, a expectativa do Itaú é que a economia brasileira tenha encolhido 10,6%. Para o ano, a expectativa do banco é de uma retração de 5%, embora os sinais da atividade econômica já estejam melhorando desde abril.

— A evolução da economia depende da evolução da crise de saúde. E depois da vacina, é preciso observar como vamos tratar a questão da divida pública.

Os gastos são justificáveis numa situação de crise pontual, como essa, mas o governo precisa retomar as rédeas da questão fiscal, aprovando as reformas. Se isso não for feito, há risco de elevação da taxa de juros - afirmou o presidente do Itaú, Candido Bracher, durante a apresentação dos resultados do banco no segundo trimestre.

O Indicador Diário de Atividade (Idat), uma espécie de 'termômetro' da atividade econômica no país, criado pelo banco mostra que a economia vem se recuperando desde abril. O indicador está mais perto dos 90 pontos atualmente, depois de cair ao mínimo no final de março passado, quando atingiu 55 pontos. O Idat tem base 100, em 13 março.

Briga com a XP

Candido Bracher comentou o recente episódio de troca de farpas entre o Itaú a corretora XP, da qual o banco possui 49% das ações. Para Bracher, não se trata de uma briga e é preciso separar o olhar de investidor que o banco tem sobre a empresa e olhar de concorrente.

— São duas coisas diferentes. Quando investimos na XP, víamos um mercado de potencial expansão com os assessores financeiros, além de uma empresa com excelente gestão e aguerrida.

Todos esse elementos continuam válidos hoje. O investimento se mostrou lucrativo e continuamos satisfeitos. E como concorrentes, são duas empresas que se respeitam e se admiram.

Enquanto competidor, vamos continuar competindo e quem sai ganhando é o cliente - disse Bracher.

Lucro subiu em relação ao primeiro trimestre

O Itaú lucrou R$ 4,2 bilhões no segundo trimestre deste ano, uma queda de 40,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas em relação ao primeiro trimestre do ano, houve um aumento de 7,5%. O resultado ficou em linha com as projeções dos analistas feitas pela Bloomberg, de R$ 4,255 bilhões.

O banco aumentou as provisões para perdas com inadimplência, que tiveram um salto de 71,6% na comparação anual, ficando em R$ 7,561 bilhões. Mas a inadimplência acima de 90 dias caiu. Passou de 2,9% no segundo trimestre de 2019 para 2,7% no mesmo período deste ano. Em março, o indicador estava em 3,1%.

A carteira de crédito total do banco cresceu 2,9% na comparação trimestral e subiu 20,3% na comparação anual, totalizando R$ 811,3 bilhões.

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