Economia

Por que a desvalorização do yuan é má notícia para o Brasil

A China é a maior parceira comercial do Brasil, e a desvalorização do yuan deve puxar para baixo o preço das commodities


	Funcionária conta dinheiro em um banco em Taiyuan, na província de Shanxi, na China
 (Jon Woo/Reuters)

Funcionária conta dinheiro em um banco em Taiyuan, na província de Shanxi, na China (Jon Woo/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de agosto de 2015 às 10h56.

São Paulo - Nesta terça-feira, a China liberou a maior desvalorização da sua moeda em quase uma década.

O yuan não flutua livremente como o euro, o dólar ou o real. Sua cotação funciona dentro de um sistema de bandas, que o mantém dentro de certos limites - agora modificados em quase 2% para baixo. 

O dólar tem ficado mais forte em relação a todas as moedas importantes, mas o yuan era até agora uma exceção. E tudo indica que o Banco do Povo deve continuar mexendo nos patamares nos próximos dias.

A desvalorização deve ajudar (mas não resolver) o problema das exportações chinesas, que caíram mais de 8% em julho em relação ao ano anterior. 

O enriquecimento da China nas últimas décadas fez explodir os custos de produção, hoje equivalentes aos do México. Reprimir os salários, como no passado, não é mais uma saída viável para recuperar competitividade.

Se a China quer depender menos do investimento e mais do consumo, então precisa dar poder de compra para sua população. Além do mais, seu boom demográfico já é passado.

Diante disso, a China decidiu recorrer à desvalorização - que também vem com risco de fuga de capital, queda da liquidez e dificuldades para o pagamentos da dívida do setor corporativo (que explodiu nos últimos anos).

Impactos

Um yuan mais fraco também afeta os países que exportam commodities. A China é a maior parceira comercial do Brasil, e seu apetite por minério de ferro, soja e outros produtos foi um dos motores do nosso crescimento entre 2004 e 2010.

Só que a China desacelerou, os preços das commodities desabaram e o Brasil sofreu o baque. A desvalorização do yuan é mais um golpe nesse processo, e devemos estar entre os mais afetados (veja gráfico).

O Bank of America estima que uma desvalorização de 1% da moeda chinesa equivale a um declínio de 0,5-0,6% no preços das commodities em dólar.

Com recessão prevista de 2% este ano, o Brasil conta com um real mais fraco para impulsionar uma melhora nas exportações e na balança comercial e alimentar alguma recuperação a partir de 2016.

Mas o preço das commodities já recuou e levou junto para baixo a bolsa brasileira e a ação de empresas como Vale e Petrobras. O petróleo teve o menor valor em 6 anos.

O dólar voltou a ficar acima dos R$ 3,50 e também se valorizou sobre as moedas de outros exportadores de commodities, como o dólar australiano e o peso chileno.

Se tudo isso tem um lado positivo, é que parte de Wall Street já considera que diante da fraqueza chinesa e da força geral do dólar, o Federal Reserve americano pode decidir adiar o aumento de juros, que a maioria espera para setembro.

Opinião

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, disse hoje que a desvalorização do yuan não é um problema para o Brasil.

"Nosso câmbio também se realinhou, algo próximo de 50% em 12 meses. Nossa moeda está bem posicionada, se levarmos em conta uma cesta de moedas onde podemos incluir a própria moeda chinesa".

Ele disse que a competitividade brasileira na exportação de matérias-primas é "indiscutível" e que nosso problema é que o aumento de custos com a inflação anule a vantagem competitivia que estamos tendo com o real mais fraco.

"Você desvaloriza o câmbio, mas os custos sobem. Esse é o problema. Não é a desvalorização da moeda chinesa, que ainda é, de resto, bem menor do que a nossa".

Cenário

Mais do que a desvalorização pontual, o problema maior é que ela sinaliza dificuldades na trajetória da economia chinesa. O governo do país já fala em um "novo normal" do crescimento, comprovado pelos números, mas ninguem sabe se eles vão conseguir fazer esta transição sem um pouso forçado.

Uma nota recente do Citi sobre as tentativas de conter a queda do mercado de ações diz que "não apenas as autoridades tiveram seu papel em criar a crise [estimulando a bolha], elas também se provaram incapazes de resolvê-la". 

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