São Paulo - 49% dos brasileiros dizem viver "de salário em salário", de acordo com uma pesquisa recente da consultoria McKinsey com mil consumidores no país.
A parcela dos que concordam com a afirmação é grande (34%) até entre os de renda alta e chega aos 61% entre os de renda baixa.
Nos de renda média, 48% dizem viver sem nenhuma margem de segurança financeira, contra 42% na América do Sul e México e apenas 26% na média mundial.
O Brasil teve a pior confiança do consumidor entre os 26 países pesquisados: 8%, contra 14% entre os sul-americanos e mexicanos e 25% no mundo.
A confiança tem melhorado ligeiramente no Brasil nos últimos meses, mas continua bem abaixo da média histórica - seja entre consumidores ou no setor de indústria.
72% dos brasileiros se dizem preocupados que alguém na sua casa vá perder o emprego no próximo ano, e 52% acham que ficou mais difícil fazer as contas fecharem nos últimos 12 meses.
Este é um reflexo do processo de alta dos dois indicadores que compõe o "índice de infelicidade" de uma economia: o desemprego subiu para 11,2% no trimestre até abril e a inflação acumula 9,28% em 12 meses.
Desalavancagem
Mesmo uma alta na renda neste momento não teria grande impacto imediato. Segundo a McKinsey, os brasileiros dizem que se tivessem uma alta de 10% no salário, gastariam apenas um quarto disso - e em itens essenciais como comida e bebida.
Quase metade dos recursos iriam para a poupança e o resto serviria para pagar dívidas, confirmando uma correção forte no nível de consumo após anos de crescimento da renda e do crédito.
"O consumo das famílias responde por 60% do PIB e está em desalavancagem após um boom enorme. Agora é o momento de pagar as dívidas contraídas no passado - se não fosse por isso e pelo desemprego elevado, a recuperação econômica seria mais evidente", disse Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), após a divugação do PIB do 1º trimestre.
Hábitos de consumo
Três em cada quatro brasileiros estão procurando por formas de economizar e mais da metade está prestando mais atenção em preços (números bem próximos aos da América Latina).
Um estudo da dunnhumby no ano passado apontou que os brasileiros estão preferindo escolher embalagens menores ou uma marca de menor preço e qualidade para não precisar abrir mão da compra de alguns supérfluos. É o cliente "econômico extravagante"
Segundo a pesquisa da McKinsey, 19% dos consumidores diminuíram quantidades sem trocar de marca, enquanto um terço afirma manter comprando suas marcas preferidas mas pesquisam mais para encontrar o menor preço.
21% preferiram trocar para uma marca mais barata, especialmente em coisas como produtos de limpeza e água engarrafada. Dentro deste universo, 60% não pretendem voltar a comprar a marca mais cara.
Também há o grupo, ainda que menor, daqueles que estão substituindo marcas mais baratas por outras mais caras: eles são 5% dos brasileiros, contra 11% na média global.
15% dos consumidores brasiloeiros, por exemplo, fizeram um upgrade na marca de cerveja consumida, número que supera os 12% que fizeram downgrade.
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1. Inovadoras
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1/15 (Divulgação)
São Paulo - No futuro, as lojas usarão espelhos inteligentes para sugerir os melhores produtos e as
empresas pedirão ajuda de consumidores para criar serviços melhores. É o que aponta a
pesquisa "Estágio da Aplicação nas Empresas Brasileiras das Principais Tendências de Relacionamento com Clientes e Consumidores”. A consultoria DOM Strategy Partners conversou com 247 varejistas de 20 setores, como hipermercados, bancos e telefonia, para entender qual será a cara do varejo no futuro. Ainda que a adoção das brasileiras seja baixa, a pesquisa destacou grandes exemplos nacionais, como o Pão de Açúcar, Bradesco e Diletto, que estão em linha com as principais
tendências globais. Para Daniel Domeneghetti, especialista da consultoria, as empresas precisam se adequar às mudanças no mercado, sem correr o risco de perder o foco. “Se não
inovarem, elas não existirão em 10 anos”, afirma. Confira nas imagens as 14 marcas do varejo do futuro.
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2. 1 - Fast Trending
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2/15 (REUTERS/Andrea Comas)
A
Zara quebrou paradigmas da moda. Ao contrário de peças feitas para durar, ela consegue lançar tendências mais rápido que as concorrentes em coleções curtas. “A roupa é como um pãozinho de padaria, quente e com produção rápida”, diz Domeneghetti. Segundo o especialista, o modelo de negócio da Zara, com estoques pequenos e de giro muito rápido, exemplifica bem a tendência Fast Trending. A tendência propõe aliar alta escala e rapidez com algum grau de especialização ou customização. No Brasil, o melhor exemplo é a rede
Habib’s. As esfihas, que são produzidas na hora e em larga escala, são o carro-chefe da empresa. Dessa forma, ela consegue ganhar margens com produtos acessórios, como as sobremesas e suco de laranja.
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3. 2 – Inovar no Engajamento
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3/15 (Divulgação)
As varejistas estão mais preocupadas em levar o consumidor a interagir com suas marcas e produtos. Elas disponibilizam canais, modelos, rotinas, programas e ações capazes de engajar o consumidor. A Chilli Beans é uma das varejistas que inovou nessa área. Para saber qual é são os melhores óculos para cada tipo de rosto, ela usa espelhos inteligentes e simulações. A sua própria vitrine usa big data para entender quais são os óculos mais populares naquele momento.
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4. 3 - Inacabado
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4/15 (Rafaella Reis/Wine.com.br)
Aqui, a ideia é que o produto final sempre vai estar inacabado. Ao adotar essa mentalidade, a empresa lança produtos mais rapidamente e pode adaptá-los ou até consertá-los de acordo com o feed back do cliente. Assim, ela ultrapassa a concorrência e tem produtos mais adequados ao mercado. Segundo a consultoria, essa tendência é adotada por 19% das empresas. A
Amazon e a Wine.com.br são as representantes dessa tendência. Por serem empresas digitais, elas são mais ágeis em seus lançamentos e atualizações.
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5. 4 – The Customer 360°
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5/15 (Divulgação Amazon)
Cada vez mais, companhias desenvolvem todas as suas operações tendo o
cliente como parte central. Do atendimento ao sistema de gestão, essas companhias pensam de fora para dentro. No entanto, nem todas conseguem seguir esse caminho. “Quando a empresa já tem uma estrutura interna, uma lógica, dinâmicas e processos definidos, é muito difícil adotar esse modelo”, afirma Domeneghetti. É muito mais simples para empresas novas e startups de tecnologia, como por exemplo a Amazon.com.
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6. 5 – Curadoria
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6/15 (Chris Ratcliffe/Bloomberg)
Quando a empresa tem uma legião de consumidores fiéis, eles se tornam seus embaixadores e curadores. Mais do que revendedores de varejistas que operam com venda direta, esses clientes irão defender o negócio para outras pessoas. Um exemplo é a Apple: “são os próprios clientes que dão dicas sobre produtos e formas de uso nas redes sociais e em fóruns”, comenta o especialista da DOM Strategy Partners. A Wine.com.br usa recomendações de seus consumidores para sugerir vinhos a outros.
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7. 6 – Customização em massa
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7/15 (Divulgação)
Ainda que pareça um paradoxo, a customização em massa é uma das tendências apontadas no relatório da DOM Strategy Partners. Ao incorporar tecnologias, plataformas, canais e forte inteligência de dados, as companhias conseguem customizar e segmentar quase todos os seus produtos. É o caso do Subway, que faz cada sanduíche ao gosto do cliente, e o Banco do Brasil, bastante segmentado.
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8. 7 - Consumidores no centro da cadeia
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8/15 (Justin Sullivan/Getty Images)
Mais do que pedir a colaboração do usuário para aparar arestas soltas, algumas empresas contam com ele para construir o produto do zero, que pode ser desde um sabor novo a desenvolver um projeto. Cerca de 19% varejistas seguem essa linha. O
Google, por exemplo, já criou diversos serviços com a ajuda de comunidades online de desenvolvedores. O problema é que muitas vezes o consumidor não recebe pela sua colaboração. “O cliente deveria ter algum tipo de remuneração, não necessariamente financeira, pelo seu trabalho”, diz Domeneghetti.
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9. 8 – Entregar experiências
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9/15 (Michael Melo/EXAME)
Mais do que um simples produto, o consumidor quer receber uma oferta completa, uma experiência. Para o consultor, essa é a tendência, usada por 31% das varejistas, mais importante de todas, uma vez que muda a relação de um consumidor com a marca. Um dos exemplos da pesquisa é a Diletto. Mais do que um sorvete, ela entrega uma história junto com sua marca. A empresa também produz sabores específicos para lanchonetes parceiras, “entregando experiências diferentes”, afirma o especialista.
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10. 9 – Integração de canais
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10/15 (Sergio Moraes / Reuters)
No início, o varejo físico tinha apenas um canal de comunicação com o consumidor: a loja. Depois, criou franquias, venda direta, comércio eletrônico, atendimento ao cliente pelo telefone, chat e email, redes sociais. Esse aumento expressivo de canais trouxe diversos problemas para as varejistas, como a falta de integração das informações. Agora, as varejistas buscam reparar esse erro e ajustar todos seus canais de vendas e
atendimento. A tendência foi percebida em 41% dos negócios e o
Boticário e o
Itaú Unibanco são bons exemplos, de acordo com a consultoria.
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11. 10 – Varejo de dados
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11/15 (Luísa Melo/Exame.com)
Mais do que entender os hábitos do consumidor a partir de dados coletados nas lojas, essa tendência, que tem um grau de adoção de 28%, diz respeito à reestruturação de todo o negócio em torno de informações. Empresas como Google e Walmart são exemplo de como mudaram sua estrutura com o aumento da capacidade e inteligência da organização em coletar, compreender, beneficiar, armazenar, disponibilizar e utilizar os
dados. No futuro, o varejo também será mais mobile e convergente, aponta a pesquisa.
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12. 11- Flagships
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12/15 (Divulgação/Bauducco)
Tradicionalmente era vendida em supermercados e outras varejistas, a
Bauducco é uma das marcas que decidiu investir em lojas próprias. A Swift, fabricante de carnes, é outro exemplo. Elas buscam formas diferentes de expor seus produtos e construir sua marca, o que nem sempre é possível dentro de outra loja. Esse modelo ainda é pouco usado no Brasil, com apenas 12% de adoção.
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13. 12 – Combos
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13/15 (Divulgação)
O
McDonald’s é o melhor exemplo dessa tendência. Mais do que juntar batata frita e refrigerante ao lanche, ele também oferece sucos, água de coco, maçã, salada, sorvetes com doces diferentes. Para atender seu cliente da melhor forma possível, a rede de
fast food passou a vender produtos de outras marcas. “Ela compôs o seu portfólio de ofertas juntando produtos de terceiros. Mais vale satisfazer seu consumidor do que só vender produtos de marca própria”, comenta o especialista. O modelo é bem aderente no Brasil, atingindo 47% do setor.
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14. 13 – Sustentabilidade
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14/15 (Luísa Melo/EXAME.com)
Segundo a consultoria, o varejo está mudando seu entendimento sobre a responsabilidade de suas operações. “As companhias estão assumindo na prática seu papel na cadeia de transformação sustentável da sociedade e dos mercados”, diz a pesquisa. A
Natura, que valoriza produtos naturais e fabricação local, e o McDonald’s, envolvido em diversos projetos sociais, foram colocados como representantes da tendência, que tem 39% de adoção no Brasil.
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15. 14 – Longo prazo
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15/15 (Bloomberg/Adriano Machado)
De acordo com a consultoria, as empresas darão mais importância ao relacionamento de longo prazo com o consumidor do que o ganho imediato. Quanto mais tempo o cliente usa o serviço, mais ele será premiado. Seguindo essa tendência estão dois bancos, o
Bradesco e Santander. Para a consultoria, eles estão trabalhando para ter um relacionamento longevo com seus clientes, independente do ganho financeiro que ele ofereça a empresa.