Economia

Europa: a recessão acabou, mas a crise continua

Crescimento de 0,3% no trimestre marca fim de um ano e meio de contração, mas ainda é pequeno para mexer significativamente com dívida e desemprego


	Bandeira da União Europeia: lista de desafios do bloco é grande
 (REUTERS/Jon Nazca)

Bandeira da União Europeia: lista de desafios do bloco é grande (REUTERS/Jon Nazca)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 14 de agosto de 2013 às 12h31.

São Paulo – Depois de um ano e meio em recessão, a Europa está crescendo novamente. Números divulgados na manhã desta quarta-feira pelo Eurostat, o Gabinete de Estatística da União Europeia, mostram que a economia dos 28 países do bloco expandiu 0,3% no segundo trimestre de 2013 em relação ao anterior.

Apesar de este ser um marco importante, ainda é cedo para comemorar. Comparado ao mesmo período do ano passado, houve queda de 0,2%. Desde o agravamento da crise do bloco em meados de 2010, os países foram afetados de forma muito desigual, e esta é uma dinâmica que continua.

O crescimento no trimestre foi puxado por Alemanha (0,7%) e França (0,5%), mas a recessão continua em alguns dos países mais problemáticos como Espanha (-0,1%) e Itália (-0,2%).

O ponto fora da curva é Portugal, que apesar de ter sido alvo de resgates e medidas recessivas, conseguiu o melhor crescimento do bloco no trimestre: 1,1%. A economia da pequena ilha de Chipre, um dos países mais prejudicados no ano passado, caiu 1,7%, o pior resultado de todos os países.

Em entrevista ontem para EXAME.com, Barry Eichengreen, economista da Universidade de Berkeley, já antecipava que os números desta quarta-feira apontariam o fim da recessão, mas alertou: “Os dados mudam muito de trimestre para trimestre, e o crescimento está distribuído de forma desigual. Economias em crise continuam a se contrair, e a divida e o desemprego também continuam lá. A chance de um colapso é baixa, mas a chance de que o crescimento vai voltar milagrosamente também é baixa”.

Tendências e desafios

O fim da recessão europeia é parte de um movimento mais amplo de recuperação dos países ricos: no mesmo trimestre, o Japão cresceu 0,6% e os Estados Unidos, 0,4%. Na segunda, um estudo apontou que pela primeira vez desde 2007, as economias desenvolvidas estão contribuindo mais para o crescimento global do que as emergentes.

Para o economista Sérgio Rodrigo Vale, da MB Associados, o continente deve continuar andando de lado: "Lentamente há uma melhora, mas a Zona do Euro é formada na sua maior parte de países com população muito velha, baixa produtividade e fuga de cérebros. Como o euro se mantém muito estável em relação a outras moedas, fica difícil ver uma saída organizada. Os bancos europeus estão se tornando zumbis como no Japão dos anos 90, sem capacidade de dar crédito."

A reforma do sistema bancário é um entre os muitos desafios do bloco. Em junho, o desemprego na União Europeia caiu pela primeira vez em mais de dois anos, de 11% para 10,9%, mas as variações são grandes entre os países. A taxa ultrapassa 26% em países como Espanha, e os mais jovens são desproporcionalmente afetados: o desemprego da juventude grega atingiu impressionantes 65% em maio.

A dívida total dos governos da União Europeia também segue crescendo em termos relativos e estava em 85,9% do PIB (Produto Interno Bruto) no final do primeiro trimestre. Na Itália, por exemplo, a relação dívida/PIB ultrapassa os 130%.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoCrise econômicaDesenvolvimento econômicoEuropaUnião EuropeiaZona do Euro

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto