Economia

Como vai a saúde do crédito brasileiro?

Após elogios e recomendações de atenção por parte do FMI, resta a dúvida, nosso crédito está mais para atleta olímpico ou para paciente da UTI?

Em maio de 2012, 21,85% da renda das famílias estava comprometida com o pagamento de dívidas (Roberto Setton/VEJA)

Em maio de 2012, 21,85% da renda das famílias estava comprometida com o pagamento de dívidas (Roberto Setton/VEJA)

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Da Redação

Publicado em 9 de agosto de 2012 às 09h28.

São Paulo – O sistema financeiro brasileiro foi elogiado no Relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI, mas o Fundo sugeriu que o país fique de olho no crédito. O Fundo defende que, mesmo que o crescimento do crédito não represente um risco sistêmico agora, ele pode contribuir para o surgimento de vulnerabilidades em dois setores específicos: famílias e imóveis.  

O crédito em relação ao PIB brasileiro dobrou na última década, com crescimentos anuais superiores a 3 pontos percentuais entre 2007 até 2009 e em 2011, segundo o FMI. Em junho, a relação do crédito em relação ao PIB era de 50,6%, segundo dados do Banco Central.

O FMI afirmou que há diversos fatores na economia brasileira que atenuam um possível risco decorrente do rápido crescimento - como a forte supervisão dos bancos e a diminuição no ritmo de expansão do crédito, especialmente para as famílias. Apesar disso, o Fundo destacou o rápido aumento de preços de imóveis em São Paulo e no Rio de Janeiro – cerca de 30% ao ano, segundo o órgão – e os sinais de aumento do endividamento das famílias.

Observando o lucro dos maiores bancos privados brasileiros (Bradesco, Itaú e Santander) no segundo trimestre, viu-se que a forte expansão do crédito, nos últimos anos, começou a cobrar seu preço: os três viram seus lucros serem impactados pelo aumento da inadimplência e dos gastos com os calotes.

As despesas com provisão (recurso separado para suprir calotes de financiamento levados pelos bancos) do Bradesco, Itaú e Santander aumentaram em 37%, segundo a consultoria Austin Rating. 

Famílias

A gravidade do endividamento divide especialistas. Para Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, as famílias brasileiras estão sub endividadas. “O brasileiro está poupando como nunca poupou antes”, afirmou. Para o economista, a inadimplência ocorre em segmentos menos favorecidos da sociedade –e deve cair até o final do ano. Já para o ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, o endividamento das famílias no Brasil é muito alto.

Em maio de 2012, 21,85% da renda das famílias estava comprometida com o pagamento de dívidas, em uma média geral.  O nível geral de endividamento da economia brasileira ainda é relativamente confortável, segundo Braga.


De qualquer forma, o “sinal vermelho” ainda não está aceso, segundo Felipe Queiroz, economista da Austin Ratings. “O problema de endividamento existe e é um ponto de atenção muito grande, mas esse alerta passaria do sinal amarelo para o vermelho se a conjuntura econômica não favorecesse”, disse Queiroz.

De todo o dinheiro que foi emprestado para pessoa física até o final de junho de 2012, 7,78% não havia sido pago – mais do que os 5,72% de janeiro de 2011. ”Está dentro da média dos últimos anos, de 6% a 8%. O que tem aumentado é a inadimplência na aquisição de veículos”, disse Queiroz. O nível de inadimplência geral (pessoas físicas e jurídicas) está em 5,78%

Segundo Queiroz, o problema não é o nível de endividamento elevado, mas as famílias não terem condições de honrar seus compromissos. Enquanto a taxa de desemprego continuar baixa, esse risco estaria atenuado. 

Imóveis 

 “Nesse momento, se vê uma estabilização nos preços [dos imóveis], mas pra onde isso vai não se sabe”, disse Roy Martelanc, professor de finanças do curso de administração da FEA-USP. O professor defende que não há bons modelos para analisar sobre a existência de bolhas e somente o governo teria a capacidade de impedir que isso aconteça, mas nem sempre o faz. 

Para Martelanc, o pico de aquecimento do mercado imobiliário brasileiro durou até 2011, quando a economia ia relativamente bem e a própria falta de mão de obra gerava aumento de custo – e preços. Além disso, havia financiamento. “Se existe uma demanda mais ou menos aquecida e oferta de dinheiro, os bancos saem emprestando e as pessoas saem comprando.”, afirmou Martelanc. 

Para Felipe Queiroz, economista da Austin Ratings, o nível de inadimplência no setor imobiliário é muito baixo e os preços foram influenciados por programas de estímulo, como o Minha Casa, Minha Vida e pela expectativa de vendas. “Hoje essa ideia de bolha imobiliária já caiu”, disse Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec-RJ.

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