Economia

BRIC corre o risco de se tornar IC, diz criador do termo

A participação do Brasil e da Rússia no BRIC pode acabar antes do final da década, de acordo com Jim O’Neill, criador do termo


	Encontro dos Brics: a Rússia foi atingida por sanções e o Brasil se debateu com um escândalo de corrupção
 (Bloomberg)

Encontro dos Brics: a Rússia foi atingida por sanções e o Brasil se debateu com um escândalo de corrupção (Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 9 de janeiro de 2015 às 21h45.

Pequim - A participação do Brasil e da Rússia no BRIC poderia acabar antes do final da década se os países não conseguirem reavivar suas economias enfraquecidas, de acordo com Jim O’Neill, antigo economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc. que alcunhou o acrônimo.

Questionado se ele ainda agruparia o Brasil, a Rússia, a Índia e a China como potências do mercado emergente, como fez em 2001, O´Neill disse por e-mail: “Eu teria vontade de chamar o grupo de ‘IC’ e, se nos próximos três anos as coisas permanecerem iguais ao ano passado para o Brasil e a Rússia, é possível que eu faça isso em 2019!”.

O agrupamento BRIC vai arrefecer pela contração de 1,8 por cento da Rússia e pelo crescimento de menos de 1 por cento do Brasil, de acordo com a média das estimativas dos economistas consultados pela Bloomberg News. Projeta-se que a China cresça 7 por cento, e a Índia, 5,5 por cento.

O BRICs estava prosperando ainda em 2007, quando a Rússia se expandiu 8,5 por cento, e o Brasil, mais de 6 por cento. Desde então, o mercado altista para commodities que ajudou a impulsar o crescimento nesses países acabou, a Rússia foi atingida por sanções relativas à crise da Ucrânia, e o Brasil se debateu com um escândalo sem precedentes de corrupção que envolve a petroleira estatal.

“É difícil que todos os países do BRIC repitam as incríveis taxas de crescimento” que registraram na primeira década deste século, disse O’Neill, colunista da Bloomberg View e ex-presidente do conselho da Goldman Sachs Asset Management International. “Muitas forças poderosas e fortuitas estavam em jogo, e algumas delas já não existem”.

Recuperação do crescimento

Contudo, a queda do crescimento neste ano não é a nova norma, e O’Neill projeta que o Brasil vai se expandir e que a Rússia vai se recuperar parcialmente, o que contribuirá para que a média de crescimento anual do BRICs seja de 6 por cento nesta década – índice que continua sendo mais do que o dobro da média dos países do G7.

A participação do PIB global desses países vai “aumentar bruscamente”, disse ele.

O’Neill tinha estimado anteriormente um crescimento anual médio de 6,6 por cento para o BRICs nesta década, um ritmo que o grupo esteve perto de alcançar até o ano passado principalmente porque a China excedeu o crescimento médio de 7,5 por cento ao ano que ele tinha previsto para os três primeiros anos, disse.

Ao contrário do Brasil e da Rússia, a China está adotando mudanças econômicas, ao passo que a Índia, depois da eleição de Narendra Modi como primeiro-ministro e de beneficiar-se pelos baixos preços do petróleo e por uma mão-de-obra jovem, poderia ter perspectivas melhores nesta década do que na anterior, disse O’Neill.

Com a China e a Índia estimulando o crescimento, o BRICs vai continuar sendo a força mais dominante e positiva da economia mundial “facilmente”, disse O’Neill.

China e Índia

O crescimento da China a um ritmo de 7 por cento vai adicionar nominalmente cerca de US$ 1 trilhão à produção mundial a cada ano, disse O’Neill. Quando medido conforme a paridade do poder de compra, o crescimento da China agrega quase duas vezes mais do que o dos EUA, disse ele. A expansão da Índia a um ritmo de 6 por cento somará o dobro do que o Reino Unido nesses termos, disse.

“O consumo deles é cada vez mais fundamental para o consumo global, e quais mercados estiveram entre os mais fortes do mundo em 2014? Tanto a China quanto a Índia cresceram significativamente”, disse ele. “Tantos investidores seguem a manada que provavelmente já tenham esquecido do BRICs, mas isso é uma tolice. Ele é a influência mais importante do mundo”.

Uma previsão do livro de O’Neill, “O mapa do crescimento”, de que as economias do BRICs iram superar a dos EUA em tamanho neste ano, será adiada provavelmente até pelo menos 2017, principalmente por causa do arrasto da Rússia, disse O’Neill.

A fundação do Banco de Desenvolvimento do BRICs indica que a influência do grupo nas questões econômicas mundiais vai aumentar, disse O’Neill.

Até 2035, o BRICs será tão grande quanto o G7, ao passo que a China está em “uma posição considerável” para ser maior do que os EUA em 2027 e a Índia poderia superar a França e tornar-se a quinta maior economia do mundo até 2017, “com certeza, antes de 2020”, disse ele.

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