Não há "nada que justifique" juro real em 8%, diz Alckmin
Vice-presidente e ministro do desenvolvimento e indústria, Alckmin criticou a taxa de juros em evento do BNDES e disse acreditar que novo arcabouço fiscal ajudará nos cortes
Redação Exame
Publicado em 20 de março de 2023 às 15h54.
Última atualização em 20 de março de 2023 às 15h57.
Continua a pressão do Planalto para que o Banco Central inicie a trajetória de corte da taxa de juros. Em evento nesta segunda-feira, 20, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB), criticou o patamar da Selic, hoje em 13,75%.
Alckmincriticou o fato de o juro real (a taxa nominal, descontada a inflação) estar hoje na casa de 8%, um patamar alto na comparação com outras economias. Alckmin falou sobre o tema em evento organizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
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“Não há nada que justifique ter 8% de taxa de juros real, acima da inflação, quando não há demanda explodindo e, de outro lado, no mundo inteiro, há praticamente juros negativos", disse o vice-presidente em sua fala.
Alckmin citou também o papel novo arcabouço fiscal, apresentado pela equipe da Fazenda de Fernando Haddad a Lula na semana passada e que está em negociação antes de ser apresentado ao Congresso. Para o vice-presidente, a regra ajudará a lançar as bases para que os juros diminuam.
"Nós acreditamos no bom senso e que a gente vá, com a nova ancoragem fiscal, superar essa dificuldade”, disse.
Nesta segunda-feira, Haddad se reuniu com lideranças do Congresso e com os presidentes Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado) para negociar a tramitação do arcabouço.
As movimentações acontecem às vésperas da reunião doComitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que ocorre nesta terça-feira, 21, e quarta-feira, 22, e decidirá sobre a manutenção ou não da taxa Selic nos atuais 13,75%.
Josué Gomes: taxa de juros é "pornográfica"
O evento do BNDES foi organizado em parceria com a Fiesp, federação das indústrias de São Paulo, e o Cebri e contou com outras falas críticas ao patamar da Selic.
O presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, também fez fala crítica à taxa de juros. O setor industrial têm reclamado do tema há meses. Na fala, Gomes chamou a taxa de juros de "pornográfica".
“É inconcebível a atual taxa de juros no Brasil. Muitos querem associá-la a um problema fiscal. A tese é que há um abismo fiscal. Abismo fiscal num país que tem 73% do PIB de dívida bruta. Tirando as reservas [cambiais] são mais ou menos 54% de dívida. Tirando o caixa do Tesouro Nacional, são menos de 45% do PIB de dívida líquida, num país com a riqueza do Brasil", disse.
"Então esta não é uma boa explicação para as pornográficas taxas de juros que praticamos no Brasil”, afirmou o presidente da Fiesp.
Outro dos convidados foi o prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Columbia, Joseph Stiglitz, que disse que a taxa de juros brasileira equivale a uma "pena de morte" contra a economia. Stiglitz tem sido um dos nomes mais críticos à alta de juros como forma de conter a inflação global.
"A taxa de juros de vocês (Brasil) é de fato chocante. Uma taxa de 13,7%, ou 8% real, é o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia. É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte", disse.
(Com informações de Agência Brasil e Estadão Conteúdo)