Economia

Na China, preço do minério dispara 24%

Negociadores temem que a situação da pandemia no Brasil provoque interrupções na cadeia de fornecimento. Tendência encarece recuperação chinesa

Na sexta-feira, a tonelada do minério de ferro deu um salto de 5% e chegou a 102 dólares (Rich Press/Bloomberg)

Na sexta-feira, a tonelada do minério de ferro deu um salto de 5% e chegou a 102 dólares (Rich Press/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de maio de 2020 às 16h19.

O aumento no número de casos da covid-19 no Brasil é um fator de preocupação para a economia brasileira, mas também acende sinal de alerta do outro lado do mundo, destaca o Estadão. Na China, principal parceiro comercial do País, os preços do minério de ferro dispararam 24% nos últimos 30 dias com os negociadores temendo que a situação da pandemia por aqui provoque interrupções na cadeia de fornecimento do material - o que atrapalharia ou, no mínimo, tornaria mais cara a retomada da segunda maior economia do mundo, primeira a entrar e a sair da crise causada pelo novo coronavírus.

O Brasil não é o principal fornecedor de minério à China: esse posto é da Austrália, que vende aos chineses 63% do minério que eles consomem. Entretanto, a australiana Rio Tinto compete de perto com a brasileira Vale no mercado mundial. A Rio Tinto espera produzir de 324 milhões a 334 milhões de toneladas de finos de minério em 2020; a brasileira Vale, entre 310 milhões e 330 milhões de toneladas.

O mercado para ambas tem se aquecido à medida que a China retoma suas atividades no pós-covid e, em maio, a tonelada do minério no porto chinês de Qingdao ficou consistentemente acima dos US$ 90. Na sexta-feira, deu um salto de 5% e chegou a US$ 102. "O grande ponto tem sido o Brasil se tornar um epicentro da doença e as operações da Vale serem paralisadas", diz, sob condição de anonimato, o analista de um grande banco de investimento.

Ao peso da Vale na cadeia mundial de minério de ferro se soma, no curto prazo, um fator sazonal que já havia reduzido, até março, os embarques para a China. O primeiro trimestre, que em geral tem produção menor no Brasil por conta das chuvas, foi ainda mais prejudicado pela pluviometria em 2020. O fator, que já havia aparecido nos balanços de Vale, CSN e Usiminas, foi confirmado pela divulgação do Produto Interno Bruto pelo IBGE na Sexta-feira.

A indústria extrativa no País cresceu 4,8% em um ano, mas a alta foi puxada pelo setor de petróleo e gás, que compensou a queda na mineração. A produção da mineradora no primeiro trimestre já havia dado uma pista do resultado. De janeiro a março, a Vale extraiu 18,2% menos minério em suas minas que no mesmo período de 2019, marcado pela tragédia de Brumadinho (MG).

Concorrência. Na semana passada, a China criou barreiras alfandegárias adicionais ao minério de ferro australiano, o que despertou, no país da Oceania, temores de que o produto brasileiro seja liberado muito mais rápido nos portos chineses. Adicionalmente, as críticas da Austrália à maneira como Pequim lidou com a covid-19 têm levado tensão à relação entre os dois países. Mas, em eventual cenário de problemas na mineração brasileira, os chineses dificilmente teriam para onde correr. "A China não deve impor novas restrições à Austrália porque não conseguiria comprar minério de outra região", diz Daniel Sasson, analista de commodities do Itaú BBA. Ou seja: problemas no Brasil podem abrir mais espaço para o minério australiano no mercado chinês. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

fonte: Estadão Conteudo

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