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Na Argentina, preços saltam quase 20% em uma semana

País afunda ainda mais na crise após troca no ministério, e argentinos correm para comprar eletrodomésticos temendo disparada da inflação

Peso argentino: preços no país saltam quase 20% em uma semana (Tomas Cuesta/Getty Images)
AO

Agência O Globo

Publicado em 8 de julho de 2022 às 13h30.

Última atualização em 8 de julho de 2022 às 14h03.

No domingo de manhã, os argentinos acordaram cedo e correram para o supermercado, a padaria, o shopping, onde quer que pudessem se abastecer com rapidez. O noticiário da noite anterior havia trazido uma bomba: o ministro da Economia, Martín Guzmán, havia renunciado de repente. E os argentinos, há muito acostumados ao caos financeiro, sabiam que a crise atual estava prestes a piorar ainda mais.

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Antes que a cotação do dólar disparasse assim que os mercados reabrissem, e antes que os varejistas aumentassem os preços, correram para comprar o essencial o mais rápido possível.

Foi uma corrida contra a inflação em um país que já tem uma das taxas mais altas do mundo — 60% ao ano em maio. A taxa de câmbio paralela da Argentina, livre dos rígidos controles do governo, registrava desvalorização de 17% do peso até quinta-feira, o que levou os lojistas em Buenos Aires a colocar cartazes anunciando um aumento de 20% em todos os preços.

Os preços de colchões e bicicletas aumentaram 18% em apenas uma semana, enquanto as TVs custam 13% mais e telefones celulares tiveram aumento de 8%, segundo dados da consultoria Ecolatina, com sede em Buenos Aires.

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"Ninguém tem uma estratégia, estamos apenas vivendo o momento", disse Maximiliano Martinez, gerente de uma pequena loja de eletrodomésticos em uma faixa comercial de Buenos Aires, na tarde de quinta-feira.

Como outros, Martinez aumentou os preços de todos os itens de sua loja — máquinas de café, torradeiras, liquidificadores, fones de ouvido — em 20%. Ele diz que seus fornecedores imediatamente aumentaram seus preços em 35%. E ele está procurando comprar etiquetas de preço digitais porque, segundo ele, ficou difícil acompanhar o constante aumento de preços: "Não consigo mudar todas as etiquetas."

Mesmo em uma economia global abalada pela inflação, a situação na Argentina é extrema. E levanta o temor de que a espiral inflacionária perene do país está entrando em uma nova fase vertiginosa, o que vai piorar a pressão sobre o presidente Alberto Fernández e o sofrimento de uma população que vem perdendo poder aquisitivo há anos.

Desentendimentos na cúpula do governo

Guzmán, embora não fosse dos mais queridos de Wall Street, era visto como alguém que garantia o tênue e crucial pacto de financiamento do governo com o Fundo Monetário Internacional.

As reservas de moeda forte do país estão diminuindo. Os títulos da dívida externa, que foi reestruturada em 2020 após um terceiro default neste século, são negociados a meros 20 centavos por dólar. A diferença entre a taxa de câmbio paralela — 295 pesos por dólar — e a taxa de câmbio oficial — 127 por dólar — atingiu níveis não vistos desde o último pânico de desvalorização em 2020.

Para piorar a situação, Fernandez entrou numa guerra com sua poderosa vice-presidente, Cristina Fernandez de Kirchner. Guzmán se viu no meio a disputa. Sua substituta, a economista Silvina Batakis, conhecida como "a grega", é vista como mais alinhada com Kirchner, ex-presidente da Argentina e líder da ala mais radical e populista da coalizão governista.

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Não é nada bom estar do ''lado ruim'' de Cristina Kirchner, especialmente no que se refere a preços. é só perguntar a Federico Braun. Em uma conferência de negócios em junho, o presidente da rede de supermercados argentina La Anonima, que opera principalmente na região da Patagônia, brincou que está "ajustando os preços todos os dias" devido à alta inflação. Naquele dia, Kirchner e parlamentares leais a ex-presidente o atacaram, provocando um pesadelo de relações públicas.

Não são apenas grandes nomes. Até mesmo as pequenas empresas temem a reação dos clientes diante da alta dos preços. Um gerente de padaria de Buenos Aires estava reajustando os preços uma vez a cada dois meses no ano passado. Agora, procura aumentar quase semanalmente. O gerente, que pediu para não ser identificado por medo de perder clientes, diz que até agora seus insumos dispararam, com os preços da manteiga em alta de 80%, leite quase 100% e trigo 120%.

Estoques com medo da escassez

Ele acrescentou que os clientes correram no domingo e na segunda-feira para comprar pacotes de grãos de café importados, estocando antes que os preços subissem ou no caso de escassez de produtos.

Os próprios empresários também estão estocando. Victor Natasi, dono da vinícola Autre Monde, em Buenos Aires, está redobrando sua estratégia com seus fornecedores.

"A primeira coisa é comprar vinhos de alta qualidade que ganhem valor com o tempo e tenham boa vida útil antes que o preço suba", diz Natasi, acrescentando:

"Se você não estocar rapidamente, pode haver uma marcação repentina de 20% a 30% de um dia para o outro."

(Agência O Globo)

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