Economia

Na Albânia, mais da metade da energia elétrica é roubada

Em um dos países mais pobres da Europa, não pagar pela eletricidade é mais normal do que exceção

Albânia: mais da metade da energia elétrica gerada por ano neste país balcânico termina sendo roubada pelos consumidores (Pudelek/Wikimedia Commons)

Albânia: mais da metade da energia elétrica gerada por ano neste país balcânico termina sendo roubada pelos consumidores (Pudelek/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 5 de março de 2014 às 10h18.

Tirana - Na Albânia, um dos países mais pobres da Europa, não pagar pela eletricidade é mais normal do que exceção: muitos albaneses manipulam os contadores ou engancham, de forma ilegal, cabos às linhas elétricas para abastecer com energia seus lares e negócios.

Mais da metade da energia elétrica gerada por ano neste país balcânico termina sendo roubada pelos consumidores, o que gera ao Estado perdas equivalente a 140 milhões de euros anuais, ou 1,4% do PIB.

E isso não é feito apenas pelos mais pobres: médicos, empresários, prefeitos e até representantes de instituições públicas também não pagam.

É o caso de Elisabeta, promotora do Alto Tribunal, e seu marido, Agron, advogado, que optaram por não pagar uma dívida acumulada equivalente a 2,5 mil euros por faturas de eletricidade com a qual se aquecem no inverno, se refrescam no verão e iluminam a enorme casa de quatro andares onde moram, nos arredores de Tirana.

O caso de Elisabeta é um dos muitos denunciados pela distribuidora elétrica CEZ Shpërndarje.

Segundo dados facilitados à Agência Efe por esta companhia, 91% dos lares e 88% das empresas privadas têm dívidas com a CEZ, que conta com mais de um milhão de assinantes.

"É uma situação herdada do passado, que piorou com os anos", declarou a porta-voz da empresa, Anila Rrushi.

Em Kukës, no empobrecido norte do país, apenas 4% pagam as contas de luz - basicamente isso é feito por algumas instituições públicas e pelas famílias dos próprios funcionários da CEZ-, enquanto em Tropojë, quase não há contadores de eletricidade.


"Alguns nos dizem que não pagam porque estão desempregados e não têm dinheiro. Outros nos ameaçam dizendo "Eu que construí este grande chalé, sou uma pessoa importante, enquanto você não é ninguém. Saia da minha casa!"", relatou à Agência Efe Astrit, um eletricista que trabalha para a companhia.

"Outros não querem que coloquemos o contador elétrico porque deixa a casa feia, enquanto muitos voltam a conectar ilegalmente o cabo elétrico que cortamos", acrescentou.

Embora este delito seja penalizado com penas de um a três anos de prisão, na prática nunca foi castigado.

A divulgada opinião que o Estado perdoará as obrigações não pagas - já aconteceu com a anistia de 2006 - e a arraigada mentalidade de evitar ao máximo o pagamento da eletricidade são as causas principais deste abuso coletivo.

Não bastassem as perdas pelo roubo de energia, só no ano passado foram subtraídos milhares de metros de cabo de cobre e outras peças metálicas dos transformadores elétricos para vendê-los depois como ferro-velho no mercado negro, o que causou à CEZ perdas no valor de 3 milhões de euros.

O novo governo, socialista, reconheceu a "alarmante" situação e criou um grupo de trabalho para aumentar a arrecadação e diminuir os roubos.

O primeiro-ministro, Edi Rama, julgou indispensável a atuação do Executivo, dado que a situação "corre o risco de se transformar em uma desgraça nacional".

O governo prometeu, além disso, pagar à CEZ a dívida de 63 milhões de euros acumulada da Administração anterior.

Além das perdas pelos roubos, a distribuidora se encontra em dificuldades econômicas por causa dos milhões que deve à companhia estatal produtora de eletricidade, KESH.

O governo nacionalizou a CEZ há um ano, depois que a empresa tcheca que a administrava desde 2008 fracassou na tentativa de melhorar a situação financeira da companhia e realizar os investimentos previstos pelo contrato de privatização.

Do outro lado desta rede de abusos coletivos, há também albaneses honrados, como Sabaudin, que, apesar de sobreviver com uma modesta previdência, prefere "comer menos e pagar a fatura elétrica".

Este idoso de 70 anos reconhece que o montante é excessivo, algo que diz que é culpa também daqueles "que não pagam".

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