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Produção industrial abala discurso de retomada econômica

Resultado abaixo da expectativa em novembro mostra que a economia não está se recuperando na velocidade indicada pelo governo

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h32.

O crescimento de 0,6% da produção industrial, em novembro, abalou o argumento do governo de que a economia estava em franca recuperação, após a desastrosa retração do PIB no terceiro trimestre. O resultado ficou abaixo do esperado pelo mercado, que trabalhava com crescimento entre 1% e 1,5%. Para a economista chefe do Banco Espírito Santo Investimento, Sandra Utsumi, a economia não vem se recuperando como o Banco Central esperava no quarto trimestre devido à queda do nível de confiança do consumidor e ao impacto negativo do ciclo de juros. "A desaceleração da produção de bens de consumo indica espaço para o corte dos juros", diz Sandra.

Apesar do resultado positivo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já fala em "trajetória de desaceleração do ritmo industrial". "Os resultados positivos registrados em outubro (0,2%) e novembro (0,6%) não recuperam a queda observada na passagem de agosto para setembro (-2,2%) e não revertem a trajetória declinante verificada no índice de média móvel trimestral", indica o IBGE. Este movimento atinge todas as categorias de uso.

Entre essas categorias, o segmento de bens de consumo duráveis foi o único a apresentar decréscimo (-1,4%) em novembro, após registrar o maior avanço (2,7%) em outubro. Os bens de capital, por sua vez, alcançaram a taxa mais elevada (2,2%) depois de registrada a queda de 4,2% no mês anterior.

Dos 23 ramos pesquisados, 15 tiveram desempenho favorável em novembro de 2005 em comparação ao mês anterior: indústrias de alimentos (2,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (5,3%), borracha e plástico (2,9%) e perfumaria, sabões e produtos de limpeza (6,1%). As principais influências negativas vieram de outros produtos químicos (-1,9%), material eletrônico e equipamentos de comunicações (-4,1%), refino de petróleo e produção de álcool (-1,5%) e fumo (-9,1%).

Outros resultados

Em relação a novembro de 2004, a indústria registrou crescimento também de 0,6%. A indústria extrativa avançou 10,5% e a de transformação ficou estável (0,1%), após dois meses com taxas negativas. Na indústria de transformação, assinalaram queda na produção e pressionaram a média da indústria os ramos de material eletrônico e equipamentos de comunicações (-11,5%), máquinas e equipamentos (-7,0%) e outros produtos químicos (-3,0%), nos quais sobressaíram, respectivamente, as quedas na fabricação de telefones celulares; máquinas para colheita; e adubos e fertilizantes.

"O setor agropecuário teve forte impacto negativo na produção industrial em 2005. O ramo de máquina agrícola, por exemplo, se deparou com a seca e o real valorizado", diz o economista da LCA Consultores, Francisco Pessoa Faria.

O setor de bens de capital mantém a seqüência de quatro resultados positivos consecutivos, sustentado principalmente pelo desempenho de bens de capital para construção (32,7%), para energia elétrica (56,4%) e para uso misto (3,9%). Nos demais subsetores, as taxas são negativas: bens de capital agrícolas (-33,5%), para transporte (-1,0%) e máquinas e equipamentos para fins industriais (-7,5%). Para Sandra Utsumi, do BES Investimento, o BC terá de rever a estratégia de estímulo à produção industrial e preços. "Bens de capital está um passo à frente de bens de consumo. Isso revela que os investimentos estão antes do consumo. Não há reflexo em consumo", diz Sandra.

Prestes a fechar um ciclo

De janeiro a novembro, o crescimento total da indústria foi de 3,1%, com 17 atividades apontando aumento da produção. A fabricação de veículos automotores (6,9%) mantém a liderança em termos de impacto sobre o índice, com destaque para a produção de automóveis. Outros impactos significativos vieram da indústria extrativa (10,3%), por conta da performance favorável da extração de minério de ferro e petróleo, de material eletrônico e equipamentos de comunicações (14,7%), em razão da expansão na fabricação de telefones celulares e televisores.

Segundo o IBGE, no entanto, "a análise de longo prazo, da taxa acumulada em 12 meses, revela que a indústria acentuou a trajetória de desaceleração verificada nos últimos meses. O crescimento neste período passou de 4,1% em outubro para 3,5% em novembro."

Para dezembro de 2005, a produção industrial deve registrar 0,9% de crescimento em relação ao mês anterior, segundo Sandra, do BES Investimento. Para o acumulado em 2005, a taxa deve fechar entre 3% e 4%, diz. De acordo com o último Relatório de Mercado, organizado pelo BC, analistas estimam que a produção industrial tenha encerrado 2005 com alta de 3,15%. Em 2004, foi de 8%.

E quanto à 2006, Faria, da LCA Consultores, diz que será um ano de recuperação, com crescimento da produção industrial em 4,9%. "A agropecuária, a construção civil, a diminuição do déficit primário, o impacto do salário mínimo sobre a renda de famílias mais pobres, o câmbio com tendência a não mais valorizar o real e o crescimento da economia mundial vão colaborar para um melhor desempenho", diz Faria.

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