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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.
Este será o último ano em que Luiz Inácio Lula da Silva presidirá o Brasil. Desgastado pela crise política que envolveu denúncias de compra de deputados, financiamento irregular de campanhas e a queda de assessores próximos, Lula entra em 2006 sem condições de se reeleger presidente. Mesmo que opte por não disputar as eleições e apoiar um outro candidato, é improvável que consiga fazer seu sucessor. A avaliação é do cientista político Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura de Fernando Henrique Cardoso e ex-ideólogo do Partido dos Trabalhadores, que ajudou a fundar ao lado de Lula.
"Vai haver mudança de governo. Não acredito que Lula possa se reeleger, nem fazer seu sucessor", afirma Weffort. O desgaste sofrido pelo presidente desde a eclosão da crise política, em junho do ano passado, já fez com que quase 20 milhões de eleitores que ajudaram a elegê-lo em 2002 retirassem seu apoio, segundo o cientista político. A debandada é medida pelas pesquisas de intenção de voto, nas quais o pré-candidato tucano José Serra, prefeito de São Paulo, já aparece à frente de Lula no primeiro turno.
Para Weffort, a capacidade de reação de Lula é bastante pequena, já que o presidente não dispõe de grandes realizações para estampar sua campanha. Os investimentos que serão liberados neste ano também devem surtir pouco efeito.
"Mesmo que não houvesse crise política, o desgaste natural de quatro anos de governo torna difícil a reeleição de qualquer presidente", diz Weffort. No caso de Fernando Henrique Cardoso, segundo o cientista político, o segundo mandato foi conquistado graças aos últimos impulsos de crescimento gerados pelo Plano Real, lançado em 1994. "Mesmo em um governo brasileiro bem-sucedido, o saldo negativo sempre é grande, porque persistem os problemas, como falta de infra-estrutura e desemprego elevado", afirma. A conclusão é que, mesmo em um cenário normal, já seria árido o caminho até a reeleição.
Sem plano B
Apesar de a derrota, atualmente, ser a possibilidade mais forte, Lula não tem alternativa a não ser disputar a eleição. Primeiro, porque será um modo de defender a si mesmo e ao PT das acusações surgidas no último ano. Segundo, porque não haveria um nome alternativo ao do presidente. "Na melhor das hipóteses, Lula concorrerá para tentar a reeleição. Na pior, disputará para se explicar aos eleitores", diz Weffort.
Porém, se Lula surpreender e abrir mão da candidatura, é improvável que emplaque seu sucessor no Palácio do Planalto. Além de não possuir uma alternativa viável, o governo cairia na mesma situação que Lula deve viver durante a disputa: não há realizações emblemáticas para embalar a campanha. "Nem Juscelino Kubitschek, que governou o país em um período de prosperidade, conseguiu fazer seu sucessor", afirma o cientista político.
Debate duro
Weffort também acredita que esta será uma campanha acirrada, em que o tom dos ataques será pesado, tanto do governo, quanto da oposição. "Não acho que a disputa afetará as instituições democráticas, mas será bastante dura", diz.
A oposição deve bater forte em dois pontos. O primeiro são as denúncias de corrupção e financiamento irregular de campanha, que desbarataram a base aliada e arruinaram a imagem do PT como único partido ético do país. O segundo é a precária capacidade de gestão do governo federal. "Com exceção da agricultura, o governo tem administrado o país de modo muito ruim", afirma.
Já o governo tentará se defender evocando os resultados da economia, mas é difícil que o eleitorado seja seduzido por esse discurso. Há mais de dez anos, o país vive um ambiente de relativa estabilidade econômica, o que torna o controle da inflação um dever de casa de qualquer governante, não um mérito. Além disso, exceto em 2004, quando o país apresentou um forte crescimento, a expansão da economia ainda é frustrante diante das carências brasileiras. "O argumento econômico não será determinante nesta eleição", diz Weffort.