Recuo das vendas industriais de outubro reforça previsão de PIB menor
Queda real de 0,91% frente a setembro é a quarta consecutiva enfrentada pelas indústrias. CNI culpa juros altos e câmbio desfavorável
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h26.
As vendas industriais apresentaram queda real de 0,91% entre outubro e setembro. Embora o desempenho tenha frustrado as empresas, já era esperado pelos economistas e reforça a expectativa de um crescimento econômico pequeno neste ano. "Indicadores antecedentes já mostravam que a produção industrial seria fraca em outubro", diz o economista Pedro Paulo Bartolomei da Silveira, da Global Invest Asset Management.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), porém, lamentou os números. "As fracas vendas industriais de outubro frustram expectativas de um desempenho mais otimista para o quarto trimestre", diz a CNI em boletim divulgado nesta terça-feira (6/12). A avaliação contrasta com a do governo, para o qual, após a forte retração do PIB no terceiro trimestre (queda de 1,2% sobre os meses de abril a junho), o país retomaria a expansão econômica. Para Silveira, da Global Invest, o resultado confirma que o PIB crescerá cerca de 2,5% neste ano, menos do que o governo esperava.
A CNI culpou os juros altos e a desvalorização do dólar frente ao real pela queda das vendas. "Os juros altos, além de reduzirem a demanda interna, intensificaram a valorização do real, o que limitou o faturamento das firmas exportadoras", afirma a confederação.
Em relação a outubro do ano passado, a queda das vendas foi ainda maior: 2,51%. No acumulado do ano, porém, ainda se registra uma expansão de 2,28% sobre os dez primeiros meses de 2004.
Impulso final
Os resultados preocupam ainda mais, quando se lembra que outubro é, tradicionalmente, o mês de maior atividade, quando as indústrias atendem aos pedidos para o final de ano. Esse aquecimento, porém, foi bastante tímido. O nível de utilização da capacidade instalada, por exemplo, passou de 81,2% em setembro, para 81,8% em outubro. Em termos reais, porém, o avanço foi de apenas 0,4 ponto percentual. "O indicador dessazonalizado de outubro é o segundo mais baixo do ano, só maior que o de setembro", diz a CNI.
O contingente de mão-de-obra permaneceu praticamente estável entre setembro e outubro, com ligeira alta de 0,09%. Em relação a outubro de 2004, o pessoal empregado foi 1,80% maior e, no acumulado até outubro, houve aumento de 4,83%.
As horas trabalhadas cresceram 0,95% sobre setembro e 2,03% sobre outubro de 2004. No acumulado do ano, houve alta de 5,26%. Já os salários reais avançaram 0,53% de setembro para outubro, 6,98% sobre outubro do ano passado e 8,57% no acumulado de 2005. A combinação de queda das vendas reais com aumento das horas trabalhadas, de acordo com a CNI, pode ser explicada por dois motivos que não se excluem. O primeiro é um possível aumento de estoques das indústrias. O outro é a queda da rentabilidade das exportações, decorrente da valorização do real.
Para Silveira, da Global Invest, o mais preocupante é que os números mostram que 2006 começará em ritmo mais fraco. Historicamente, a taxa de crescimento tende a acelerar no final do primeiro trimestre, mas os dados deste final de ano indicam que o processo poderá ser retardado. "A aceleração da economia virá a partir de maio", diz.