Economia

Crise política pós-Dirceu será mais retórica que efetiva

Cassação de ex-ministro da Casa Civil José Dirceu deixará a oposição sem alvos fortes para atacar, já que tanto a queda de Palocci, quanto a do próprio Lula, são cada vez mais indesejáveis inclusive para os oposicionistas

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.

A cassação do deputado federal José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu antigo homem forte, transformará a crise política em um embate muito mais retórico que efetivo entre oposição e governo. Segundo os analistas políticos, sem um nome forte ligado a Lula para atacar, os oposicionistas tendem a restringir-se a alfinetadas verbais e a bloqueios de votações no Congresso.

"Dirceu é a jóia da coroa nessa crise. Com sua cassação, a temperatura tende a baixar e a crise seguirá seu caminho", diz Rogério Schmitt, cientista político da consultoria Tendências. Ricardo Ribeiro, cientista político da MCM Consultores, concorda com a avaliação. "A crise política continuará latente até as eleições, mas a luta será mais retórica que efetiva. Passada a votação do Orçamento de 2006, a pauta do Congresso se esvaziará", afirma.

De um lado, a Câmara continuará analisando e, eventualmente, cassando os processos abertos contra outros deputados acusados de receberem propinas em troca de votos ou para quitar dívidas de campanhas. Mas, mesmo nomes como o do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) não deverão despertar tantos embates quanto o de Dirceu ou o de Roberto Jefferson, ex-deputado pelo PTB carioca, que se tornou pivô da crise ao denunciar o suposto esquema do "mensalão" o pagamento mensal de quantias a deputados governistas, em troca de votos.

De outro lado, a oposição reluta em radicalizar os ataques ao governo. Depois de Dirceu, o alvo natural é o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fragilizado nas últimas semanas por denúncias de irregularidades durante sua gestão na prefeitura de Ribeirão Preto. Palocci também sofre o fogo amigo de atiradores de grosso calibre, como a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff cuja maior vitória, até o momento, foi convencer Lula a manter o superávit primário em 4,25% do PIB, contrariando Palocci, que queria mais e do vice-presidente José Alencar, para quem o "câmbio é burro" e os juros altos promovem a "desindustrialização precoce" do país. Por fim, a retração da economia, divulgada nesta quarta-feira (30/11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dá mais munição à artilharia.

Ainda que seja um alvo fácil e previsível, é improvável que a oposição se mobilize para derrubar Palocci. De acordo com Ribeiro, da MCM, os oposicionistas não querem ser culpados pela possível crise econômica que a queda do ministro traria. A disposição em manter a economia em dia aumenta ainda mais pelo fato de a oposição estar ciente de que possui chances reais de conquistar o Palácio do Planalto em 2006, já que Lula continua perdendo apoio popular.

O presidente, aliás, seria outro alvo de peso para os oposicionistas. Mas, para Schmitt, da Tendências, é improvável que um movimento pró-impeachment seja lançado a pouco menos de um ano das eleições presidenciais. Virada a página da cassação de Dirceu, a tendência é de uma "desmobilização política e de arrefecimento" da crise, afirma o cientista político. "O governo continuará sua agonia lenta e permanecerá paralisado, mas é improvável que haja grandes novidades", diz.

Inócuo

Nesta tarde, após debates que racharam os magistrados, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu uma vitória inócua a Dirceu. O parlamentar apelou à corte em uma nova tentativa de adiar a votação de sua cassação pelo Plenário da Câmara, alegando irregularidades na condução do processo pelo Conselho de Ética da Casa.

O STF reconheceu parte do mérito da apelação, ao determinar a retirada do depoimento de Kátia Rabello, presidente do Banco Rural, do relatório final do Conselho de Ética. Mas o que Dirceu mais desejava a determinação de que o relatório fosse lido novamente pelos parlamentares não foi concedido. Se isso acontecesse, a votação seria adiada por duas sessões. Agora, na prática, o Plenário pode votar o relatório ainda hoje.

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