Economia

PIB cai 1,2% no terceiro trimestre e surpreende o mercado

Previsões mais pessimistas apontavam retração de 0,5%. No acumulado do ano, expansão do PIB está em 2,6%. "Tranco monetário nunca havia causado retração tão forte", diz economista

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h37.

O que poderia ser pior, neste momento, para alimentar ainda mais os ataques contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que uma retração de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo previsões do mercado? A resposta é: uma queda ainda maior, como a divulgada nesta quarta-feira (30/11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Surpreendendo as previsões mais pessimistas, o PIB sofreu uma queda de 1,2% entre julho e setembro, em relação ao segundo trimestre.

"Esse resultado foi horrendo, produzido por um tranco monetário que nunca havia causado uma retração tão forte do PIB em um trimestre", afirma Dalton Gardimam, economista-chefe do Banco Calyon. Para o analista, é dificil escapar da conclusão de que o Banco Central forçou a mão demais no afã de cumprir a meta de inflação para 2005 (um IPCA de 5,1%). "A vitória sobre a inflação teve esse custo fenomenal." Depois desta queda divulgada hoje, a maior ocorreu entre o primeiro e o segundo trimestres de 2001, decorrente dos estragos causados pelo apagão.

O que mais pesou para o desempenho negativo do país foi a retração de 3,4% da agropecuária, e a queda de 1,2% da indústria. Já o setor de serviços apresentou crescimento nulo em relação ao segundo trimestre. Os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo, caíram 0,9%, depois de crescerem 4,7% entre abril e junho. O consumo do governo diminuiu 0,4%. Já as famílias consumiram 0,8% mais. Quanto às trocas comerciais, as importações subiram 1,4% o oitavo aumento trimestral consecutivo , e as exportações avançaram 1,8%, confirmando a tendência iniciada no segundo trimestre de 2003.

Na avaliação de Gardimam, é útil voltar ao resultado do PIB no segundo trimestre, bastante positivo. "Aquele desempenho talvez tenha induzido o BC a erro, levando-o a prolongar por mais tempo do que o necessário o aperto monetário."

Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, o resultado foi uma expansão de 1% do PIB. No acumulado do ano, porém, a economia cresceu 2,6%, alimentando as previsões de que o país não alcançará uma expansão próxima de 3%, como espera o governo. No acumulado de 12 meses, a alta ficou em 3,1%.

A consultoria MB Associados espera uma alta do PIB, já considerando a má notícia de hoje, de 2,6% em 2005 e 3,3% no próximo ano. Sérgio Vale, economista da MB, não vê nos dados do IBGE motivo para se falar em recessão. Para o último trimestre deste ano, a estimativa é de uma recuperação de 1,8%. "Uma retração de 1,2% no trimestre não é para assustar muito, ainda que seja preocupante", diz. O recuo da agricultura, por exemplo, já era esperado. "Tivemos um ano com quebra de safra, e todos sabiam que em algum momento isso estaria refletido no desempenho do PIB do setor, ainda que ninguém soubesse direito quando isso ocorreria."

A perspectiva de queda dos juros e expansão da renda abre a possibilidade de um crescimento maior no ano que vem. A MB trabalha com a projeção de uma Selic de 15% ao ano no final de 2006, e uma alta real da renda média de 4,8%, dando seqüência a uma expansão que chegará a 5,2% neste ano.

Para os exportadores, porém, não há motivos para esperança. "As exportações, pelo critério de quantum [volumes embarcados], já estão recuando por conta da apreciação do real frente ao dólar", diz Vale. "O que vai segurar a economia em 2006 será o consumo interno de bens não duráveis e semiduráveis." De fato, o único fator que se saiu relativamente bem neste trimestre, pelo lado da demanda, foi o consumo interno, com alta de 0,8%.

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