Economia

"Mundo vê Brasil como reality show", diz economista do Itaú

Ilan Goldfajn diz que meta fiscal não será atingida, só o suficiente para evitar rebaixamento da nota, e que o mundo nos assiste como a "um grande BBB"

Cenário externo depende da Grécia, segundo Goldfajn (.)

Cenário externo depende da Grécia, segundo Goldfajn (.)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 14 de abril de 2015 às 18h05.

São Paulo – Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, não acredita que a meta fiscal será atingida este ano.

“Eu não acho que vai chegar a 1,2% e sim 0,8%, o que é suficiente para as agências de rating pensarem que vale a pena pular pro ano seguinte. Estamos entre 2 cenários: o de ajuste e o de não ajuste. Não tem um terceiro cenário.”

Ele diz que existe uma perspectiva de leve melhora do mercado mais pra frente: "O mundo está olhando para o Brasil como um reality show, como se fosse um grande BBB".

O banco usa um cenário de "ajustes mínimos" - não porque são pequenos ou fáceis, mas no sentido de que serão os mínimos possíveis para evitar a perda do grau de investimento.

Ilan cita o "realismo tarifário" como outro elemento de ajuste: "a energia vai subir em média 50% este ano. Eu não vejo uma coisa dessas há muitos anos". 

Ajuste, aliás, foi a palavra mais citada no painel “O Cenário no Brasil e na América Latina” na conferência Macro Vision, do Itaú BBA, realizada na manhã desta terça-feira no Hotel Unique em São Paulo. E não só o fiscal:

“O que exportamos vale menos, o que importamos vale mais e isso vai exigir vários tipos de ajuste. Não estamos mais no nirvana e precisamos falar disso”, diz Andrés Velasco, ex-ministro da Fazenda do Chile.

Além do fiscal, o outro é cambial - "que vocês sabem muito bem", diz ele, em referência a forte desvalorização do real. O lado bom é que esse enfraquecimento permite um equilíbrio melhor do déficit em conta corrente, que explodiu nos últimos anos.

Como ele precisa ser financiado constantemente, a trajetória atual seria insustentável, ainda mais com a perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos: "todas as crises em emergentes - México, Rússia, asiáticos - vieram em cenário de alta de juros nos EUA", diz Andres.

Ilan vê a crise atual como resultado de fim de ciclos que não foram aceitos ou encarados: “A gente iria desacelerar de qualquer jeito, mas além disso tínhamos problemas estruturais que ficam mais evidentes quando está a maré baixa."

Velasco diz que essa nova maré faz com que a América Latina precise olhar para o que não costuma - como produtividade, eficiência e principalmente a diversificação:

“Sempre falamos de instituições, infraestrutura e coisas assim, mas nada importa mais do que diversificar a economia. Sei que politica industrial ganhou uma má fama no Brasil, mas não importa a palavra, o fato é que precisamos diversificar a cesta de produtos que exportamos.”

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