Morgan Stanley vê inflação elevada em 2021, com mudanças no mercado de trabalho
Segundo o banco, os preços devem sofrer pressão não apenas dos alimentos e de administrados mas também de uma inflação mais elevada no setor de serviços
Reuters
Publicado em 22 de janeiro de 2021 às 14h10.
Última atualização em 22 de janeiro de 2021 às 16h35.
O Morgan Stanley elevou a estimativa de inflação ao consumidor no Brasil em 2021 para 4,2%, ante 3,3% do prognóstico anterior, prevendo, portanto, alta acima da meta central perseguida pelo Banco Central para este ano, de 3,75%.
Segundo o banco, os preços devem sofrer pressão não apenas dos alimentos e de administrados mas também de uma inflação mais elevada no setor de serviços.
Profissionais do Morgan disseram que o "diabo mora nos detalhes", já que, embora medidas de núcleo estejam rodando em patamares baixos na comparação anual, as taxas anualizadas estão alcançando de 6% a 8%.
"É o mesmo padrão que vemos tanto na inflação de serviços quanto no núcleo da inflação de serviços, o que pode ser um sinal de normalização depois do choque da pandemia", disseram Thiago Machado e Fernando Sedano em nota.
Na lista de fatores a justificar uma visão de inflação mais alta em 2021 está a expectativa de que os preços das commodities se mantenham em ascensão nos próximos trimestres, afetando a inflação de alimentos via grãos e os preços da gasolina pelo canal do petróleo.
Também integra o conjunto de motivos a revisão de "otimista" para "neutra" na avaliação de estrategistas de câmbio do Morgan Stanley para as moedas da América Latina, com potencial de algum pass-through depois de uma aceleração na inflação de bens comercializáveis no quarto trimestre de 2020.
"Achamos que isso se deve provavelmente a uma combinação de vários fatores, incluindo moeda mais fraca, forte demanda — impulsionada pelo auxílio emergencial — e baixos níveis de investimento, o que tem impacto de alta nos custos de produção devido à fraqueza do câmbio", afirmaram.
Além disso, Machado e Sedano chamaram a atenção para os níveis dos reservatórios para produção de energia elétrica — segundo eles, em mínimas históricas —, o que pode se traduzir em ajustes maiores nas tarifas de energia elétrica.
Uma outra razão, mais estrutural, para a inflação mais alta é o entendimento de que a alta no desemprego pode não se refletir em níveis contidos nos preços dos serviços.
Segundo eles, a taxa Nairu — taxa de desemprego de equilíbrio, que não exerce pressão sobre a inflação — pode estar mais alta neste estágio, devido a mudanças estruturais associadas à pandemia, que afetou mais o setor de serviços. Isso reforça o caso para uma histerese — a ideia de que recessões podem ter impactos permanentes nas dinâmicas econômica e do mercado de trabalho.
"Quanto mais as pessoas permanecem desempregadas, mais difícil é para elas voltar ao mercado de trabalho. Como resultado, pode-se dizer que a inflação de serviços pode não despencar como sugerido pela alta ociosidade pintada pelos indicadores do mercado de trabalho", disseram Machado e Sedano.
Uma quinta razão para aumento maior de preços neste ano é a expectativa de que não haja amplas e rígidas medidas de restrição social e econômica.
A projeção para o IPCA de 2022 foi mantida em 3,5%, exatamente o centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Após o Banco Central abandonar na quarta-feira o forward guidance, o Morgan Stanley disse ter antecipado a previsão para o início do ciclo de alta da Selic. Sem detalhar qual era o prognóstico anterior, o banco vê agora elevação dos juros em maio, ao ritmo de 0,25 ponto percentual, com a taxa fechando este ano em 3,50% e indo a 5,50% em 2022 — perto do juro neutro estimado pelo banco (6,50%).