Canadá: governo canadense pediu que se atualizasse questões relativas a cláusulas ambientais e outros temas relacionados ao que chamam de "progressive trade" em acordo com Mercosul (Chris Jackson/Getty Images/Getty Images)
Reuters
Publicado em 13 de outubro de 2017 às 10h23.
Brasília - Mercosul e Canadá irão anunciar em dezembro a abertura de negociações sobre um acordo de livre comércio, durante a reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Buenos Aires, disseram à Reuters duas fontes envolvidas nas negociações.
Do lado sul-americano, os mandatos para negociar já foram aprovados pelos quatro governos dos países membros do bloco (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). Pela parte canadense, de acordo com uma das fontes, falta apenas o passo final, que seria a consulta formal ao gabinete do primeiro-ministro Justin Trudeau.
A avaliação das fontes brasileiras é que o acordo com o Canadá tem potencial para andar rapidamente. Há interesses dos dois lados, ao mesmo tempo em que não há grandes sensibilidades, como no caso da agricultura para a União Europeia.
"Nas conversas preliminares nunca identificamos obstáculos intransponíveis", disse a fonte.
As primeiras conversas começaram em 2010, por iniciativa do Canadá. Em 2012, o governo brasileiro aprovou na Câmara de Comércio Exterior (Camex) o mandato para iniciar as negociações, mas o processo não foi adiante.
"Naquele momento outros sócios não estavam tão interessados", explicou a fonte. "Agora os países têm mais afinidade e mais interesse em buscar outros acordos."
Uma reunião será marcada para novembro, em Brasília, para fechar os últimos detalhes do mandato de negociação -- uma plataforma de onde se parte para começar a negociar.
O governo canadense pediu que se atualizasse questões relativas a cláusulas ambientais e outros temas relacionados ao que chamam de "progressive trade", o que foi aceito sem problemas pelo Mercosul.
Apesar do comércio pouco significativo do bloco com o Canadá, a possibilidade de acordo entusiasma os negociadores do Mercosul pela possibilidade de crescimento.
Dados levantados do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostram que em 2016 a corrente de comércio foi de apenas 5,88 bilhões de dólares entre o Mercosul e o Canadá. Com os Estados Unidos, por exemplo, foi de 59,8 bilhões no mesmo ano.
"É pequeno porque o Canadá é um país com população pequena. São apenas 36 milhões de pessoas. Mas é um mercado com alto poder aquisitivo, e um mercado não explorado", disse uma das fontes.
O bloco tem superávit com os canadenses. Em 2016, foram exportados 3,6 bilhões de dólares e importados 2,3 bilhões. O grosso do comércio regional é com o Brasil, que em 2016 concentrou 4,2 bilhões de dólares da corrente de comércio e 2,37 bilhões em exportações. No caso do Brasil, a exportação de produtos manufaturados domina a pauta de comércio, representando 53 por cento das exportações.
Nas conversas com os setores produtivos, o governo brasileiro identificou oportunidades não apenas na área industrial, mas também na agricultura. "Eles têm muita produção agrícola mas, até por conta do clima, diferente da nossa", disse a fonte.
De acordo com os negociadores, as tarifas canadenses são de um modo geral baixas, com exceção da agricultura, onde há um grande potencial para melhorar.
Nas demais, há questões não tarifárias, de normas técnicas e sanitárias, que costumam ser menos complicadas de resolver.
Esta semana, durante a reunião ministerial da OMC em Marrakech, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, teve um encontro com ministro do Comércio Internacional do Canadá, François-Philippe Champagne, para tratar do acordo.
Em nota, o Itamaraty afirmou que os ministros "reconheceram que existe um forte potencial para o desenvolvimento de uma relação comercial mais ambiciosa através do aumento dos fluxos de comércio e investimento".
Consultado pela Reuters, o governo do Canadá afirmou, através de um porta-voz de Champagne, que o país "reafirma que existe uma oportunidade no acordo com o Mercosul e que irá continuar com as conversas exploratórias".