Petrobras: Agentes de mercado avaliam que a decisão da petroleira deve ser avaliada como um evento que diminui os riscos por se tratar de um aumento relevante do diesel (Wagner Meier/Getty Images)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 15 de agosto de 2023 às 11h58.
Última atualização em 15 de agosto de 2023 às 12h14.
O mercado já reagiu ao reajuste nos preços do diesel e da gasolina, anunciados nesta terça-feira, 15, pela Petrobras. Analistas de gestoras e bancos projetam um aumento no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação no país, no final do ano. Ao mesmo tempo, analistas se tranquilizam com a medida, que deve impedir quaisquer riscos de desabastecimento de diesel no curto prazo.
As estimativas variam, mas Luis Menon, economista da Garde Asset, avalia que o impacto no IPCA pode ser de 0,38 ponto percentual, dividido em 0,10 ponto em agosto e 0,28 ponto em setembro. Com isso, a gestora elevou suas projeções preliminares para de agosto (de 0,10% para 0,20%) e de setembro (de 0,19% para 0,47%). No ano, a casa aumentou a expectativa do IPCA de 4,6% para 4,8%.
Reajuste semelhante ocorreu no banco BMG. Flavio Serrano, economista-chefe da instituição, prevê um impacto dos preços de 0,30 ponto percentual, que devem se diluir pelos meses de agosto e setembro. Com isso, o IPCA ficaria em 0,35% em agosto e 0,45% em setembro. No ano, o IPCA foi revisado de 4,9% para 5,1%.
Para Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, o maior componente de impacto no IPCA é a gasolina. "Tínhamos um IPCA pouco acima de 4,9% e deixamos para 5,1%. Não foi uma mudança tão grande porque já havíamos colocado na estimativa do IPCA anual algum reajuste vindo da gasolina", diz. "A gente entendia que o diesel era mais sensível politicamente, mas tem um peso pequeno no índice. Ele teve um impacto total no IPCA de 0,03%. Já a gasolina, o impacto total é de 0,35%."
Agentes de mercado avaliam que a decisão da petroleira deve ser avaliada como um evento que diminui os riscos por se tratar de um aumento relevante do diesel, que praticamente empata os descontos da política de Preços por Paridade Internacional (PPI) sobre o combustível. A medida deve eliminar os riscos de desabastecimento de diesel no curto prazo.
Nas últimas semanas, distribuidores de combustíveis relatam falta de diesel pelo país. Segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), o descompasso se deve a uma alegada defasagem entre os preços do mercado internacional e a política de preços da Petrobras.
Segundo Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, o reajuste da Petrobras atende parcialmente aos pedidos dos importadores, reduzindo o descompasso entre as cotações da companhia e o custo de aquisição dos agentes privados. "Até ontem, o custo de reposição de uma carga de gasolina entregue no porto de Itaqui para entrega em 30 dias era de R$3.143/m³, contra R$2.395/m³ da Petrobras, apontando para uma defasagem de 24%. Com o reajuste de hoje de R$410/m³, a defasagem passa a ser de 11%", afirma.
Para o diesel, analisa, o valor de uma carga importada entregue no porto de Itaqui para entrega em 30 dias era de R$4.018/m³, contra R$2.943/m³, apontando para uma defasagem de 27%. "Com o reajuste de hoje de R$780/m³, a defasagem passa a ser 7%", diz.
A Petrobras anunciou nesta terça-feira, 15, o aumento nos preço da gasolina e do diesel para as distribuidoras a partir de quarta-feira, 16. O litro da gasolina passa de R$ 2,52 para R$ 2,93, um aumento de R$ 0,41 por litro. O diesel terá aumento de R$ 0,78 por litro e o preço médio de venda será de R$ 3,80 por litro.
Apesar dos aumentos, a Petrobras afirma que, até hoje, a variação acumulada no preço da gasolina é de redução de R$ 0,15 por litro e de R$ 0,69 por litro para o diesel. Esse é o primeiro aumento da gasolina após duas reduções em junho. Em 15 de junho, a redução foi de R$ 0,13. No dia 30, o valor caiu R$ 0,14.