Economia

Mercado diz que só aumento agressivo da Selic pode segurar dólar

Brasil será o primeiro a aumentar os juros na era da pandemia, enquanto o resto do mundo se preocupa em garantir custos de financiamento baixos por um futuro previsível

 (Edson Souza/iStockphoto)

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Fabiane Stefano

Publicado em 15 de março de 2021 às 12h08.

Última atualização em 15 de março de 2021 às 12h19.

O Banco Central conseguiu frear a aceleração do dólar na semana passada com intervenções pesadas no mercado de câmbio. Mas para evitar que a moeda americana atinja um novo recorde, o Copom pode ter que ser agressivo esta semana.

Essa não será uma tarefa fácil para os membros do comitê de política monetária que, embora cientes da alta do dólar, também correm o risco de serem muito agressivos na primeira alta da Selic em seis anos, o que poderia prejudicar a recuperação da economia. Na semana passada, o Banco Central injetou o equivalente a US$ 3,2 bilhões no mercado cambial e, para a surpresa de operadores, a intervenção ocorreu quando o dólar já perdia força no dia. Foi uma mudança de estratégia, já que o BC costuma intervir apenas para limitar altas exageradas na moeda americana.

A estratégia funcionou, e o dólar interrompeu uma sequência de quatro semanas de ganhos. Ao mesmo tempo, a mudança alimentou o debate sobre se as intervenções visavam aliviar a pressão por uma alta de juros mais agressiva essa semana.

Embora a maioria dos analistas espere aumento de 50 pontos-base da Selic para 2,5% na quarta-feira, operadores câmbio dizem que seria necessário uma elevação de um ponto percentual para conseguir impulsionar o real, que já está entre as moedas de pior desempenho nos mercados emergentes este ano. A decisão é um dos maiores testes até agora para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que assumiu o comando em 2019.

“O melhor curso de ação seria começar com um aumento agressivo de 100 pontos-base”, disse Alvaro Vivanco, estrategista do NatWest Markets. Mas “essas intervenções aumentam a chance de apenas 50 pontos-base.”

O BC pode se tornar o primeiro grande banco central do mundo a aumentar os juros na era da pandemia, um forte contraste com mercados desenvolvidos, onde autoridades de política monetária estão ocupadas garantindo aos investidores que os custos de financiamento permanecerão baixos por um futuro previsível. Mas economistas dizem que, com a situação única do Brasil, o Banco Central tem pouca escolha neste momento.

O desejo dos investidores de um aumento dos juros não é motivado apenas pela alta do dólar. O fraco desempenho do real é apenas um reflexo de uma série de más notícias que poderiam justificar taxas mais altas. O real foi atingido de todos os lados este ano: altos gastos do governo, temores sobre a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário eleitoral e pela Covid, cujo impacto no país é um dos piores do mundo.

As intervenções forneceram alívio temporário à moeda, mas operadores dizem que juros significativamente mais altos são necessários para dar apoio ao real. Vivanco, do NatWest, estima que um aumento de meio ponto levará o real a se desvalorizar 1,2%, enquanto um movimento de 75 pontos-base resultaria em um pequeno ganho de 0,3%, e um aumento de um ponto percentual impulsionaria a moeda em 2,9%.

Se o Banco Central não atuasse e se confirmasse o aumento de 0,50 p.p., o dólar teria rompido R$ 6,00 facilmente. O ideal para equalizar a realidade atual seria terminar o ano em 6,00% ou próximo a isso, mas honestamente não acredito nisso.

Italo Abucater, gerente de câmbio da Tullett Prebon

Abucater também diz que apenas um aumento da Selic para 3% nesta semana impulsionaria o real e projeta que o Banco Central aumentará a taxa básica para 4,5% ou 5% até o final do ano. Isso provavelmente vai “frustrar muito o mercado” e levará o dólar a R$ 6,3 ou até R$ 6,5, prevê. Economistas consultados pela Bloomberg projetam o dólar a R$ 5,12 no final do ano.

 

 

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