Economia

Mercado declara guerra ao BC e eleva todas as previsões de inflação

Analistas não gostaram da decisão do Copom de reduzir os juros

Tombini: Banco Central está em queda de braço com o mercado financeiro (Wilson Dias/ABr)

Tombini: Banco Central está em queda de braço com o mercado financeiro (Wilson Dias/ABr)

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Da Redação

Publicado em 5 de setembro de 2011 às 11h01.

São Paulo – A queda-de-braço entre o mercado e o Banco Central (BC) promete ser dura daqui para frente. Os analistas claramente não gostaram da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa básica de juros de 12,50% para 12%.

A inflação corrente não está apenas longe do centro da meta, que é de 4,50%. Está acima do teto (6,50%) no índice acumulado em 12 meses. Na visão dos economistas que trabalham no mercado financeiro, cortar a Selic neste cenário é uma heresia.

O boletim Focus, que colhe as projeções de cerca de cem instituições financeiras, foi divulgado nesta segunda-feira e trouxe revisões – para cima – em todos os índices de inflação (IPCA, IGP-DI, IGP-M, IPC-Fipe) para 2011 e 2012. Foi uma declaração de guerra explícita.

O Banco Central, por outro lado, acredita que a deterioração do cenário internacional vai derrubar os preços das commodities, reduzir as exportações brasileiras, travar o mercado internacional de crédito e, por tabela, esfriar a economia doméstica.

Na visão da autoridade monetária, a preocupação maior deixa de ser a inflação e passa a se concentrar no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que, aliás, já perdeu força no segundo trimestre.


Um fato, no entanto, não pode ser ignorado. A decisão do Copom de reduzir os juros foi a primeira na história do sistema de metas que aconteceu após uma alta da Selic na reunião anterior. Fica a dúvida no ar: não teria, então, o BC errado no encontro de julho, quando houve um aperto de 0,25 ponto percentual?

Se questionados, os diretores do Copom certamente argumentariam que houve muitas alterações no cenário global nos últimos 45 dias, como o quase calote dos Estados Unidos, a piora no quadro do sistema bancário europeu e a certeza de que a recuperação dos países ricos está muito mais lenta do que a projetada inicialmente – fala-se inclusive em recessão no horizonte.

A má notícia nesta história toda não é a queda-de-braço entre mercado e BC. O que mais deve causar preocupações a nós todos é o fato de que qualquer uma das três consequências possíveis para a queda inesperada dos juros na semana passada embute um cenário ruim. Vejamos:

1- Suposta pressão política tira a credibilidade do Copom: se isso for verdade, o Banco Central perde a independência informal conquistada nos últimos anos. Sem credibilidade, o esforço para atingir as metas de inflação fica ainda maior (leia-se juro maior), o que pode ter sido um tiro pela culatra do governo.

2- Cenário externo extremamente negativo previsto pelo Copom se concretiza: nesse caso, a notícia também é ruim, pois significa que a possibilidade de recessão nos países ricos é grande, com impactos inevitáveis no Brasil. Embora o governo tenha comemorado a forma como o país enfrentou a crise de 2008, é preciso lembrar que o PIB encolheu em 2009.

3- Cenário externo ruim projetado pelo Copom não se concretiza: nesse caso, a redução dos juros terá sido precipitada e a inflação em 2012 poderá estourar a meta. Em um país que ainda tem uma memória inflacionária muito viva, não é saudável (ou não deveria ser) ter três anos (2010, 2011 e 2012) de inflação acima de 5,5%.

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