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É melhor não apostar no caos

Ninguém sabe ao certo os próximos passos da crise econômica no Brasil - mas os dados mais recentes de produção e vendas parecem indicar que o país está, sim, mais resistente aos tumultos de fora

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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2010 às 10h26.

O primeiro trimestre de 2009 veio, já se foi e deixou uma questão interessante no ar: onde estaria, mais precisamente, a linha de resistência da economia brasileira à crise geral na produção, no consumo e no crédito que há tempos vem causando tanta perturbação pelo mundo afora? Ou: onde estaria o ponto abaixo do qual o desempenho da atividade econômica no Brasil não vai cair? Já é complicado o bastante, em circunstâncias normais, estimar esse tipo de limite, mesmo com cálculos de curto prazo. Em circunstâncias anormais, como são as de hoje, fica mais complicado ainda. Mas os fatos já definidos após estes três primeiros meses do ano parecem estar começando a demonstrar que vai ser preciso acontecer bem mais do que aconteceu até agora, em matéria de coisa ruim, para causar um desastre realmente sério no futuro visível. Pelo que indicam os fatos, a economia brasileira como um todo está, sim, mais resistente aos tumultos externos do que em outras ocasiões.

Uma evidência disso é a indústria automobilística, que produziu e vendeu mais veículos em março, segundo anunciou na semana passada, do que em fevereiro - um aumento de cerca de 35% na produção e de 16% nas vendas. Não é pouca coisa, quando se considera que por volta de um quinto de toda a indústria brasileira está ligado a esse setor. Também não é pouco quando se faz a comparação com o mês de março do ano passado: os números de produção são inferiores, mas não muito, e 2008 foi um ano recorde para o conjunto da indústria automotiva no Brasil. Se a queda em 2009 ficar nas vizinhanças dos 5%, como se tem falado, estará de bom tamanho. O recuo pode ser maior? Pode, mas também pode ser menor - e hoje não há nenhum sinal concreto de que venha a ser maior. O certo é que, no ritmo em que o setor está rodando, não há crise. Mais que isso, a tomada de decisões, ali, está ligada a uma lógica de crescimento inevitável, pela pura e simples força do mercado brasileiro. O Brasil vai produzir entre 6 milhões e 7 milhões de veículos por ano dentro de algum tempo, da mesma forma que produzia pouco mais de 100 000 unidades anuais na década de 60 e veio bater em 3 milhões em 2008; não se sabe quanto tempo vai levar para chegar lá, mas vai chegar. É diferente do que acontece no Primeiro Mundo. Quem precisa de um carro na Alemanha, na Inglaterra ou na França, se todo mundo já tem? A indústria, ali, vive num limite - não pode dobrar de tamanho. No Brasil pode. Não é um recuo do mercado, neste ou naquele momento, que vai mudar esta realidade - e as empresas estão cientes disso.

Outro sinal de que a linha de resistência da economia brasileira é mais difícil de ser rompida hoje do que já foi em outras circunstâncias está no fato de que os efeitos mais visíveis da crise atual, em termos de produção, emprego e renda, aparecem com mais força em São Paulo do que em outras áreas do país. Ou seja: as dificuldades têm um caráter menos "nacional" do que se poderia esperar. É natural. Em São Paulo estão muitas das atividades que mais cresceram nos últimos anos com a prosperidade mundial; foram as primeiras a sofrer com seu recuo. Há, enfim, a nova realidade apresentada pela classe C - hoje a mais populosa do país, com cerca de 85 milhões de pessoas. Ela é cada vez mais importante: seu consumo já deixou para trás, de longe, o total que é gasto pela classe A. Isso torna a economia brasileira menos vulnerável como um todo, por ser menos dependente das despesas efetuadas pela minoria da sua população. É claro que a classe C também é atingida pelo mau desempenho econômico deste momento. Também ali se perdem emprego e renda, além do próprio bilhete de entrada; mais de 500 000 pessoas saíram dela para o degrau inferior com o aperto da crise. Mas a classe C não vai desaparecer. Está aí para ficar - e para consumir entre 500 bilhões e 600 bilhões de reais em 2009. É difícil, com fatos assim, apostar em calamidade.

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O primeiro trimestre de 2009 veio, já se foi e deixou uma questão interessante no ar: onde estaria, mais precisamente, a linha de resistência da economia brasileira à crise geral na produção, no consumo e no crédito que há tempos vem causando tanta perturbação pelo mundo afora? Ou: onde estaria o ponto abaixo do qual o desempenho da atividade econômica no Brasil não vai cair? Já é complicado o bastante, em circunstâncias normais, estimar esse tipo de limite, mesmo com cálculos de curto prazo. Em circunstâncias anormais, como são as de hoje, fica mais complicado ainda. Mas os fatos já definidos após estes três primeiros meses do ano parecem estar começando a demonstrar que vai ser preciso acontecer bem mais do que aconteceu até agora, em matéria de coisa ruim, para causar um desastre realmente sério no futuro visível. Pelo que indicam os fatos, a economia brasileira como um todo está, sim, mais resistente aos tumultos externos do que em outras ocasiões.

Uma evidência disso é a indústria automobilística, que produziu e vendeu mais veículos em março, segundo anunciou na semana passada, do que em fevereiro - um aumento de cerca de 35% na produção e de 16% nas vendas. Não é pouca coisa, quando se considera que por volta de um quinto de toda a indústria brasileira está ligado a esse setor. Também não é pouco quando se faz a comparação com o mês de março do ano passado: os números de produção são inferiores, mas não muito, e 2008 foi um ano recorde para o conjunto da indústria automotiva no Brasil. Se a queda em 2009 ficar nas vizinhanças dos 5%, como se tem falado, estará de bom tamanho. O recuo pode ser maior? Pode, mas também pode ser menor - e hoje não há nenhum sinal concreto de que venha a ser maior. O certo é que, no ritmo em que o setor está rodando, não há crise. Mais que isso, a tomada de decisões, ali, está ligada a uma lógica de crescimento inevitável, pela pura e simples força do mercado brasileiro. O Brasil vai produzir entre 6 milhões e 7 milhões de veículos por ano dentro de algum tempo, da mesma forma que produzia pouco mais de 100 000 unidades anuais na década de 60 e veio bater em 3 milhões em 2008; não se sabe quanto tempo vai levar para chegar lá, mas vai chegar. É diferente do que acontece no Primeiro Mundo. Quem precisa de um carro na Alemanha, na Inglaterra ou na França, se todo mundo já tem? A indústria, ali, vive num limite - não pode dobrar de tamanho. No Brasil pode. Não é um recuo do mercado, neste ou naquele momento, que vai mudar esta realidade - e as empresas estão cientes disso.

Outro sinal de que a linha de resistência da economia brasileira é mais difícil de ser rompida hoje do que já foi em outras circunstâncias está no fato de que os efeitos mais visíveis da crise atual, em termos de produção, emprego e renda, aparecem com mais força em São Paulo do que em outras áreas do país. Ou seja: as dificuldades têm um caráter menos "nacional" do que se poderia esperar. É natural. Em São Paulo estão muitas das atividades que mais cresceram nos últimos anos com a prosperidade mundial; foram as primeiras a sofrer com seu recuo. Há, enfim, a nova realidade apresentada pela classe C - hoje a mais populosa do país, com cerca de 85 milhões de pessoas. Ela é cada vez mais importante: seu consumo já deixou para trás, de longe, o total que é gasto pela classe A. Isso torna a economia brasileira menos vulnerável como um todo, por ser menos dependente das despesas efetuadas pela minoria da sua população. É claro que a classe C também é atingida pelo mau desempenho econômico deste momento. Também ali se perdem emprego e renda, além do próprio bilhete de entrada; mais de 500 000 pessoas saíram dela para o degrau inferior com o aperto da crise. Mas a classe C não vai desaparecer. Está aí para ficar - e para consumir entre 500 bilhões e 600 bilhões de reais em 2009. É difícil, com fatos assim, apostar em calamidade.

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