Medo de Lula é irracionalidade do mercado, diz economista do PT
Governo do PT quer retomar crescimento via alta de gasto público e crédito mais barato, segundo um dos assessores econômicos do partido, Guilherme Mello
João Pedro Caleiro
Publicado em 31 de agosto de 2018 às 15h35.
Última atualização em 31 de agosto de 2018 às 16h42.
A prioridade de um eventual novo governo do PT é a retomada do crescimento via aumento de gasto público para obras, linhas de crédito mais baratas por meio de incentivo aos bancos e aumento da arrecadação aos padrões anteriores à crise via "recomposição" tributária, nas palavras de um dos assessores econômicos do partido, Guilherme Mello. Para ele, o medo do mercado em relação ao PT é "irracional".
O ajuste das contas públicas, visto por outros candidatos como principal pilar para o próximo governo, viria da combinação de um programa emergencial para restaurar emprego, renda e crédito com uma reforma tributária para ampliar os recursos da União. O plano não considera a reforma da Previdência como urgente ou mesmo como o principal ponto do ajuste necessário.
"O desafio imediato é a retomada do nível de atividade", diz Mello. Segundo ele, o problema da Previdência está nos regimes próprios, principalmente de estados e municípios.
O governo petista também pretende revogar, quase que imediatamente, o teto de gastos. Segundo Mello, se o teto vigorar como está na lei, por 20 anos, ao fim do período o tamanho do estado brasileiro vai parecer o de estado africano, subdesenvolvido. A reforma trabalhista aprovada pelo governo do presidente Michel Temer também seria revista.
O programa do PT também não coloca um prazo para acabar com o déficit fiscal brasileiro, que deve ficar em R$ 159 bilhões neste ano. O importante, segundo Mello, "é apontar que você está construindo um caminho. E isso passa por reduzir déficit e crescer o PIB.”
Vale a pena ver de novo
A receita apresentada pelo PT tem semelhanças com as ações adotadas no segundo governo Lula, na crise de 2008, que usou intensamente os bancos públicos para dar crédito e reduzir o spread bancário, além de financiar programas como Minha Casa, Minha Vida, que puxam o emprego no setor da construção civil.
Há outras pontos de tangência com governos petistas, como a taxação em estudo sobre certas aplicações financeiras para reduzir volatilidade dos ativos domésticos e a especulação cambial, além do "aperfeiçoamento" do chamado tripé macroeconômico.
"Não é que vamos abandonar", diz ele, mas há uma "institucionalidade" aceita até pelo FMI que permite certo controle do câmbio, que seguiria flutuante. Para o regime de metas de inflação, ele fala em incorporar núcleos inflacionários, ter bandas mais amplas e repensar o ano calendário para cumprimento dos objetivos, medidas já usadas em outros países.
Sobre o mercado cambial, Mello diz que os investimentos seriam permitidos "até certo ponto", mas "se quiser especular unidirecionalmente contra a moeda brasileira, ou com a entrada de capitais só especulativos de curto prazo, vai ter taxação."
Temor do mercado é irracional
Questionado sobre a reprecificação dos ativos domésticos vista desde que cresceram as chances de um segundo turno com a presença do PT, que levou o dólar para a casa dos R$ 4, Mello diz que há certa "irracionalidade no temor do mercado". Ele também não vê a necessidade de uma nova Carta ao Povo Brasileiro, nos moldes da feita pelo PT em 2002. “Hoje as pessoas já conhecem o Lula.”
“Se não tiver retomada da atividade, você pode fazer a reforma fiscal que quiser, a reforma da Previdência que quiser, que a conta não fecha”, diz Mello, que participa da elaboração do programa do PT junto com Fernando Haddad, que deve assumir a cabeça da chapa se Lula for impedido pelo TSE.
CPMF e IOF
Do ponto de vista tributário, o programa estuda um imposto como a CPMF para grandes movimentações financeiras, além da tributação de grandes heranças e de lucros e dividendos. O contraponto seria a queda da alíquota do IR para pessoa jurídica.
Dentro da proposta, está um teto para a carga tributária líquida que pretende garantir que os estados não tenham perda de arrecadação com as mudanças. A sigla também quer criar isenção de IR para baixa renda e nova faixa para rendas mais elevadas.
Para reduzir o spread bancário, dessa vez o plano do PT é taxar mais, talvez por meio de IOF, os bancos públicos e privados que cobrarem spread mais alto.